Quando falamos em investimentos, um dos erros mais comuns é ignorar que rendimento e risco são fatores indissociáveis, duas faces da mesma moeda. Um investimento potencialmente muito rentável terá sempre um risco mais elevado do que uma aplicação financeira tradicionalmente segura.
Porém, nem só a incorreta avaliação do binómio rendimento-risco é propensa a gerar erros em matéria de investimentos. O chamado senso comum e a psicologia também costumam jogar contra os investidores, ludibriando, às vezes, até os mais experientes.
Aliás, considerar que nunca se vai cair em armadilhas pode ser o primeiro passo para cair precisamente numa. Enumeramos 13 das armadilhas, ou erros, mais comuns que podem aparecer no caminho dos seus investimentos.
Alguns erros são relativamente simples de identificar e evitar. Outros implicam mudar um pouco a psicologia com que se aborda os investimentos, o que nem sempre é fácil. E, se é certo que alguns podem acabar por ser inócuos, outros há que são meio caminho andado para a catástrofe financeira. Veja como não escorregar e não perder dinheiro.
1- Fazer investimentos “all in”
Investir numa única ação, num só país ou setor, mesmo que promissores, é muito mais arriscado do que o conjunto do mercado. O investidor não deve “pôr todos os ovos no mesmo cesto”. Ou seja, deve minimizar o risco, repartindo o dinheiro por vários investimentos.
Aconselhamos, pelo menos, uma dezena de títulos diferentes para uma carteira de ações. Em alternativa, pode obter uma boa diversificação através de fundos e ETF generalistas (com uma carteira de ações globais, por exemplo) ou de vários fundos especializados.
Ainda assim, o investimento numa carteira de ações não chega para eliminar o chamado risco do mercado. Quando se está numa fase desfavorável, a generalidade das ações tem uma tendência de queda. Por exemplo, durante o início da pandemia, em finais de fevereiro de 2020, todas as bolsas caíram a pique. Este risco pode ser atenuado se, além de ações, escolher ativos como obrigações, depósitos, imobiliário, ouro, entre outros.
As três carteiras de fundos recomendadas pela DECO PROteste Investe são uma forma de otimizar essa diversificação nos investimentos. Além de combinarem fundos de ações e obrigações, selecionam os mais atrativos e têm em consideração as relações entre as várias categorias (correlação dos ativos).
Por fim, não caia no extremo oposto. Diversificar não é dispersar. Deter dezenas de fundos ou de ações irá aumentar desnecessariamente os custos, limitar o rendimento potencial e tornar muito complexa a sua correta gestão.
2- Querer tudo e para amanhã
Ganhar muito em pouco tempo é o sonho de qualquer investidor, mas tende a tornar-se um pesadelo. Veja-se o que aconteceu com o recente fenómeno das ações da GameStop. Valorizaram até ao céu e estatelaram-se no chão numa fração de horas.
É em pequenos períodos que a especulação tende a imperar, sendo o risco colossal, sobretudo nas ações. Razão pela qual é determinante o investidor saber por quanto tempo pode prescindir do dinheiro.
Como a tendência de longo prazo dos mercados é de subida, o risco de uma carteira diversificada diminui à medida que o período da aplicação aumenta. No primeiro ano, a margem de flutuação é enorme, mas depois vai diminuindo progressivamente com o tempo. A longo prazo (a partir de cinco ou mais anos), o risco acaba por ser bem menor.
Por isso, se for paciente e puder dispor de uma parte do seu dinheiro durante um período suficientemente longo, privilegie o investimento no mercado acionista. Mas, se houver uma forte probabilidade de vir a precisar do dinheiro dentro de um ou dois anos, deve optar por algo menos arriscado. Por outras palavras, a curto prazo, se o momento da compra (e venda) das ações for favorável, os ganhos podem ser consideráveis. Mas é mais provável acontecer o contrário e as perdas serem significativas.
3- Escolher com base em ganhos passados
Os ganhos obtidos no passado são um fraco indicador do potencial que um investimento terá no futuro. Vejamos o exemplo dos fundos. A DECO PROteste Investe seleciona os fundos mais bem geridos e especializados nos mercados mais atrativos, com a melhor relação entre rendimento esperado e risco.
Temos em conta a valorização que prevemos para o futuro, e não os ganhos ou as perdas registadas no passado. Estes são apenas considerados de forma indireta, pois o potencial de ganho de uma bolsa depende também do nível atual das cotações.
Uma forte subida pode ser sinal de interesse, mas também pode indicar que o mercado onde o fundo investe se tornou caro e desinteressante. Um raciocínio idêntico deve ser aplicado às perdas sofridas pelos fundos. Só por si, as quedas não são um indicador suficiente para avaliar o fundo. Tanto podem significar uma má gestão ou, pelo contrário, indiciar uma penalização excessiva por parte dos investidores, e serem uma oportunidade de compra.
Há atitudes precipitadas que deve evitar nos fundos e no investimento direto em ações: “Agora, que a bolsa tem dado bons ganhos, vou investir.” Ou: “Compro já, para aproveitar a forte queda da cotação.” Se o fizer baseado apenas nestes sentimentos, o mais certo é tomar decisões erradas nos investimentos e lesivas do seu património. Ganhos passados não garantem ganhos futuros, nem são necessariamente bons indicadores.
4- Comprar para receber dividendos
É frequente alguns investidores quererem comprar ações ou ETF perto da data de pagamento dos dividendos. Com essa estratégia, pensam conseguir um benefício extra. A realidade é que se trata de uma ilusão. Os dividendos são pagos através de dinheiro que sai do património das empresas ou dos fundos ou ETF. Por outras palavras, é retirado do seu valor.
Logo, além da variação habitual da negociação, as cotações caem em linha com o valor distribuído. Logo, retirando a “vantagem” de quem foi a correr comprar para encaixar o dividendo: o que se “ganha” no dividendo “perde-se” na cotação.
Aliás, para o investidor, o resultado até pode ser negativo, porque, ao receber dividendos, tem de suportar custos de corretagem e pagar imposto de imediato. Dito isto, não deve ficar com a ideia de que o pagamento de dividendos é um fator negativo. Por um lado, são interessantes para quem pretende usufruir de rendimentos periódicos sem ter de fazer vendas no seu património. Por outro, no caso das ações, o nível e a regularidade dos dividendos podem ser indicadores importantes sobre o potencial da empresa. Mas é um indicador, não “o” indicador.
5 – Não contabilizar os custos
Os encargos com os investimentos diminuíram consideravelmente, sobretudo na negociação de ações estrangeiras e ETF, mas não o suficiente para ignorá-los. O investimento direto em ações implica manter e gerir uma carteira diversificada por um mínimo de dez títulos diferentes. Logo, terá de repartir o seu património pelas várias ações.
Se, por exemplo, o valor médio ficar aquém dos 1000 euros, o peso dos custos fixos poderá ser bastante penalizador. E não há a considerar apenas a comissão com as compras ou vendas. Deve também considerar o custo regular de guarda de títulos e com a distribuição dos dividendos.
É importante conhecer os encargos antes de se lançar no investimento direto em ações.
Quem se aventura pela primeira vez nos ETF costuma padecer de um erro semelhante. Os ETF são conhecidos por lhes estarem associadas taxas de encargos correntes (TER) bastante baixas. Esse é um fator indiscutível. Mas o investidor não pode descurar as comissões de bolsa a que os ETF estão sujeitos (tais como as ações).
O barato pode sair caro. Mais: há encargos que variam com o banco ou a corretora e que nunca estão refletidos na TER. Esta última diz respeito apenas aos custos que são deduzidos anualmente ao património do fundo, tais como as comissões de gestão.
6- Prender-se ao que (quase) nada rende
Diz o adágio popular “quem não arrisca não petisca”. É bem certo que isso significa sair da zona de conforto. Mas será que os aforradores com um perfil mais conservador se devem conformar e continuar a aplicar apenas em depósitos a prazo ou Certificados de Aforro? Há outras alternativas de investimentos mais rentáveis, desde que abordadas com bastante prudência.
Quem constitui um depósito a prazo tem a garantia de receber o capital investido e sabe quando e quanto irá receber de juros. O mesmo é válido para os Certificados de Aforro e do Tesouro emitidos pelo Estado. Contudo, o preço a pagar pela segurança é o limite significativo do crescimento do seu património financeiro a longo prazo.
Pode começar por destinar uma pequena parte das poupanças para outros produtos financeiros, com um potencial de rendimento mais elevado. Por exemplo, em certos cenários, o investimento em ações é atrativo e pode gerar ganhos elevados. Embora os ganhos sejam incertos e haja sempre o risco de perder parte do dinheiro aplicado.
Há, no entanto, formas eficazes de controlar o nível de risco. A “lei do investimento” é clara: para ganhar mais, tem de correr mais riscos. Mas, se não está disposto a assumir uma pontinha de risco, procure os depósitos menos mal remunerados.
7- Entrar em pânico quando os mercados estão a cair
Com o primeiro impacto da pandemia de covid-19, a queda das bolsas, entre a última semana de fevereiro e meados de março de 2020, rondou os 30 por cento. Relembramos o conselho que demos na altura: “Não entre em pânico, vendendo indiscriminadamente todos os ativos”.
O aumento da volatilidade e a queda das bolsas são quase inevitáveis numa fase de grande incerteza. É muito difícil fazer previsões sobre a evolução das bolsas a curto prazo, sobretudo perante cenários inéditos. Contudo, em alturas em que os mercados caem muito e num curto intervalo de tempo, é um erro correr atrás dos acontecimentos e vender os ativos da carteira.
De igual modo, quando as bolsas começam a subir, muitas vezes ao ficarem à espera de uma correção, os investidores apanham o comboio já tardiamente e compram demasiado caro. Tentar adivinhar os altos e baixos do mercado é impossível e conduz a decisões erradas. Mantenha a postura que sempre aconselhámos: investir em ações, de forma diversificada, numa perspetiva de longo prazo (esperar, se for preciso). E apenas se tem estômago para aguentar, por vezes, perdas potenciais de capital significativas. Não se esqueça, contudo, de que o tempo joga a seu favor. Invista sempre numa perspetiva de longo prazo.
8- Adiar uma venda por não aceitar perdas imediatas
Imagine que uma cotação tem vindo a cair, fruto de piores perspetivas da empresa. A decisão racional é vender e reinvestir num ativo mais promissor. Infelizmente, a psicologia não ajuda. A atitude mais comum é não encarar a perda, “deixar andar” e esperar que a cotação recupere, nem que seja um pouco, e depois vender.
Normalmente, esta procrastinação só serve para aumentar mais o prejuízo. Acabará por vender mais tarde, com uma perda maior. Ao mesmo tempo, corre o risco de deixar passar ao lado ganhos noutras oportunidades.
Outro erro é o investidor “comprar para baixar o preço médio” de aquisição, à medida que a cotação cai. Desta forma, fica com a ilusão de que o prejuízo é menor. O mais provável será aumentar ainda mais o valor do desastre. Salientamos que não deve vender uma ação ou resgatar um fundo somente porque a cotação tem estado em queda. Essa decisão deve ser baseada nas perspetivas para o longo prazo. É preciso avaliar se estas pioraram face às circunstâncias iniciais do investimento.
9- Bom é ganhar muito com muito pouco
Uma das maravilhas do mundo financeiro é a chamada alavancagem: multiplicar a rentabilidade, pagando um prémio ou recorrendo ao endividamento. Antes, era exclusivo dos grandes investidores, agora, os pequenos também têm acesso a essa possibilidade.
Há uns anos, a moda era apostar em warrants autónomos. Atualmente, a forma mais comum de alavancar é com recurso aos CFD (do inglês contract for difference, também conhecidos como “contratos diferenciais”).
Com estes produtos, o investidor só tem de aplicar uma parte do valor que quer, de facto, investir (a “margem”). Um exemplo: investe 10 mil euros numa ação e a margem é de 5 por cento. Na prática, só precisa de ter 500 euros na conta. O restante valor é como se fosse emprestado pela corretora. O objetivo é os ganhos incidirem sempre sobre os 10 mil euros (a “exposição”). Assim, se a ação valorizar 5%, o investidor ganha 500 euros (5% dos 10 mil euros), ou seja, duplica o seu capital.
Claro que tanto os ganhos como as perdas são multiplicados. Em vez de grandes ganhos, pode acabar com perdas catastróficas. Se a ação recuar 6%, o investidor terá uma perda de 600 euros. Além de ficar sem os 500 euros investidos, terá de pagar mais 100 euros à corretora. Se quem estiver a apostar nos CFD não souber muito bem o que está a fazer, pode sofrer perdas catastróficas.
10- Ficar sempre leal ao seu PPR
O grosso dos benefícios fiscais pelos montantes investidos já faz parte da história, mas os planos de poupança-reforma continuam entre os investimentos preferidos dos portugueses, ainda que a escolha do produto nem sempre seja a mais acertada.
Em primeiro lugar, deve ter em conta o seu perfil de investidor. Assim, quem está mais perto da idade de reforma deve correr menos riscos e pode optar pelos PPR de capital garantido.
Quem está muito distante desse horizonte deve escolher um fundo PPR com uma aposta mais centrada nos mercados de ações. Em segundo lugar, PPR há muitos. A subscrição de um PPR bem gerido e com baixos custos terá um efeito considerável na rentabilização do seu património a longo prazo.
Sabe qual o desempenho do seu PPR? É provável que esteja a pagar comissões acima da média e o rendimento seja fraco. Verifique se vale a pena manter o seu PPR. Não ceda à inércia. Consulte o nosso comparador Ganhe Mais no PPR e veja se está a perder ou ganhar dinheiro face à nossa Escolha Acertada. Pode transferir as poupanças para um produto mais bem gerido e beneficiar de condições especiais, se for nosso subscritor.
11- Assumir que o ouro é um investimento garantido
Ao contrário do senso comum, o ouro não é um investimento 100% seguro. O valor do metal dourado é determinado pela lei da oferta e da procura, o que significa que oscila ao longo do tempo.
A subida da cotação até 2011, que levou largos anos, transmitiu uma falsa ideia de permanente valorização. Como já alertámos, nenhum investimento é totalmente seguro. Logo a seguir aos máximos de 2011, o metal dourado caiu, e quem vendeu teve um prejuízo considerável. Só recentemente voltou a novos máximos.
Se falarmos de ouro físico (sobretudo peças de ourivesaria), dadas as comissões elevadíssimas cobradas pelos intermediários, as perdas podem ser colossais. Um estudo que fizemos recentemente no terreno mostrou que as perdas podem chegar aos 20% por causa dos custos, mesmo mantendo-se a cotação internacional do ouro.
Ainda assim, este metal precioso continua a ter as suas virtudes. Se detido na forma física (moedas, barras, entre outros.), em situações extremas, como um conflito armado, permite proteger o património de uma forma que mais nenhum ativo conseguirá.
Contudo, esta proteção contra catástrofes tem um preço: o ouro não gera juros nem dividendos, e o seu valor pode cair com o tempo. Se, ainda assim, quiser mesmo investir, uma forma mais eficaz de fazê-lo é recorrer a um ETF que invista em ouro físico.
12- Todos os seguros são mesmo seguros
Os seguros de capitalização são produtos financeiros geridos por seguradoras, mas frequentemente vendidos também pelos bancos. Em regra, garantem o capital aplicado e definem um nível de remuneração. Em última instância, o cumprimento destas condições depende da capacidade financeira da seguradora, mas trata-se de uma garantia contratual.
Neste aspeto, os seguros de capitalização são idênticos a um depósito no banco. Embora haja uma diferença relevante: não existe um mecanismo legal de salvaguarda, como o Fundo de Garantia de Depósitos.
No mercado, também existem seguros denominados de unit linked. Nestes casos, o funcionamento do produto é igual ao de um comum fundo de investimento. Assentam numa carteira de ativos, pelo que o valor do capital aplicado flutua ao sabor do mercado. O potencial de rendimento será, portanto, mais elevado, mas não há garantias de preservação do capital. Em suma, atenção ao que entende por “seguro”.
13-Ganhar dinheiro através de negócios na Internet
Quem é que não gostaria de ver o património duplicar ou triplicar em pouco tempo, sem risco nenhum? É este tipo de promessa que está subjacente a muitos “investimentos” propostos por determinados sites na internet.
A grande maioria são esquemas de pirâmide e fazem sempre apelo a duas características humanas: a necessidade e a ganância. A realidade é que não há milagres. Os esquemas em pirâmide não assentam em negócios sustentáveis e funcionam apenas enquanto conseguem cativar e angariar mais vítimas.
É o dinheiro fresco que permite manter estes esquemas ativos, mas é inevitável que acabem por implodir e provocar elevados prejuízos. O dinheiro dos “investidores” pode desaparecer de um dia para outro.
A maioria das fraudes pode ser detetada, e até os casos mais elaborados, como a fraude concebida pelo norte-americano Bernard Madoff, revelam sinais estranhos. Como é possível obter ganhos certos e elevados de forma consistente e sem risco?
A falta de transparência é outra evidência de que algo errado se pode passar. Ninguém está a salvo de ser vítima de uma fraude, mas, se seguir as regras básicas, ficará mais protegido.
Nunca aplique dinheiro em “negócios” que prometam ganhos colossais sem risco. Invista apenas através de instituições devidamente autorizadas pelas entidades reguladoras. Tenha particular atenção às criptomoedas.
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