"As ações permitem-lhe viver com conforto. As obrigações permitem-lhe dormir com tranquilidade." As obrigações são conhecidas por serem mais seguras, mas quão seguras são?
À semelhança das ações, podem ser adquiridas diretamente na bolsa, ou indiretamente através de fundos de investimento e ETF, que permitem ter acesso a uma carteira diversificada e, assim, ficar menos exposto ao risco de falência de um emitente. Isto é, se a empresa XYZ não pagar os cupões nem reembolsar o empréstimo, esse prejuízo será diluído pelas outras dezenas ou centenas de empresas na carteira.
Se, pelo contrário, detiver diretamente obrigações, o prejuízo pode ser muito elevado. Por outro lado, comprar obrigações em bolsa não é simples e, para ter várias emissões, precisa de montantes elevados. Além disso, pode ser muito dispendioso em termos de custos de negociação e de recebimento dos dividendos.
Já a subscrição de fundos ou compra de ETF pressupõe um rendimento variável e não fixo à partida, que depende do desempenho de um cabaz de obrigações. Pode investir a partir de algumas dezenas de euros.
Embora existam obrigações denominadas em várias divisas, com as suas vantagens e desvantagens, a nossa análise incide apenas na dívida expressa em euros. Ou seja, títulos cujo valor não é afetado pela evolução da taxa de câmbio do euro face a outras moedas, e com mais alguns trunfos neste momento em que os mercados atravessam turbulência.
Vantagens dos fundos e ETF
Incluir fundos e ETF de obrigações em euros numa carteira apresenta várias vantagens. Para começar, as obrigações, em especial as de elevada qualidade (como as obrigações soberanas), são menos voláteis do que as ações, o que amortece as oscilações da carteira em períodos de instabilidade nas bolsas.
Segundo, em cenários de recessão económica, a cotação das obrigações (sobretudo as de prazos mais longos e de emitentes mais sólidos) tende a valorizar, ajudando a compensar perdas de outros ativos da carteira.
As obrigações de emitentes financeiramente menos sólidos (high yield) não possuem estes trunfos mais virados para a diversificação. O seu valor é mais sensível e varia no mesmo sentido dos ciclos económicos. Logo, em tempos de recessão, tendem a perder valor porque há mais dificuldades para estas empresas pagarem os seus empréstimos.
No entanto, têm um risco menor do que os mercados acionistas, e as yields anuais são muito atrativas. Mesmo que tudo não corra pelo melhor, uma carteira diversificada com este tipo de dívida gera rendimentos interessantes.
Embora sigam tendências idênticas, os níveis das taxas de juro que vigoram nos três segmentos de obrigações são bastante diferentes. Rápidas subidas de juros, como as registadas em 2022, implicam perdas nas cotações.
A diferença das high yield e das corporate (empresas) face às soberanas é denominada de spread e é o prémio que compensa o seu risco acrescido. Claro que pode e deve ajustar o portefólio ao longo do tempo.
Por exemplo, pode aumentar o peso das obrigações para reduzir o risco em determinadas fases do ciclo económico, ou responder a mudanças no seu perfil de risco. Em baixo, destacamos, em cada um dos três segmentos, um ETF e um fundo tradicional, caso prefira esta via de investimento.
Pode investir igualmente em ETF de obrigações em dólares norte-americanos.
ETF de Obrigações Euro
Obrigações soberanas
A principal vantagem de incluir obrigações soberanas denominadas em euros é aceder a uma yield (rendimento) interessante através de um ativo com muito baixa volatilidade. Um trunfo nos tempos atuais de incerteza acrescida.
As obrigações funcionam muitas vezes como ativo-refúgio em períodos de crise, com grande liquidez (muitas transações). Como estas obrigações estão denominadas em euros, não há flutuação cambial que possa impactar os rendimentos.
Há alguns anos, os rendimentos (yields) das obrigações em euros eram demasiado baixos. No mercado da dívida soberana, havia títulos com juros negativos. Isto é, os investidores pagavam mais pelas obrigações do que garantidamente receberiam no vencimento. Até Portugal chegou a beneficiar deste fenómeno.
No entanto, o aumento das taxas diretoras do Banco Central Europeu, para combater a inflação no período pós-pandemia, provocou um aumento significativo das yields.
No caso do rendimento das obrigações soberanas, passou de terreno negativo para mais de 3 por cento. Entretanto, recuaram no último ano, mas ainda rendem mais de 2% ao ano.
As obrigações soberanas denominadas em euros devem ser incluídas nas carteiras dos investidores mais sensíveis às flutuações do mercado ou que pretendem, em breve, resgatar totalmente os seus investimentos.
XTRACKERS II IBOXX EUROZONE GOVERNMENT BOND YIELD PLUS UCITS ETF 1C
BNY MELLON EUROLAND BOND A EUR
Obrigações de empresas corporate
Tal como no segmento das soberanas, os rendimentos (yields) das obrigações emitidas por empresas em euros foram demasiado baixos durante vários anos. Até 2021 "davam" apenas 0,5% ao ano, um valor insuficiente para compensar os riscos. Numa abordagem defensiva, as obrigações soberanas eram mais adequadas.
Neste momento, com a nova conjuntura dos juros, as obrigações de empresas em euros oferecem um rendimento anual médio de 3,4 por cento. Esta subida desencadeou um entusiasmo crescente entre os investidores institucionais, que aumentaram significativamente as compras de obrigações de empresas com ratings mais elevados.
Um fundo ou ETF especializado no segmento corporate permite investir em empresas de diferentes setores e com boa solvabilidade (ratings AA, A e BBB).
A duração média destas obrigações na maioria das carteiras dos fundos ou ETF não é muito elevada (cerca de seis anos), o que limita o risco associado à evolução das taxas de juro.
No geral, é um investimento quase tão seguro como a dívida soberana: proporciona uma yield de 3,4% contra 2,2% das obrigações soberanas. Este spread reflete o risco acrescido, mas são um aposta atrativa para incluir em carteiras de investidores com perfis menos agressivos.
JPM EUR CORPORATE BOND 1-5 YEAR RESEARCH ENHANCED INDEX ESG ETF EUR A
DWS INVEST SHORT DURATION CREDIT LC
Obrigações de empresas high yield
As obrigações de alta rentabilidade (high yield) são também conhecidas como obrigações de alto risco ou "lixo". Trata-se de títulos emitidos por empresas financeiramente menos sólidas, mas que, na esmagadora maioria dos casos, não estão necessariamente à beira da falência.
Recorde-se que a dívida de um país também pode ser considerada lixo, como já sucedeu a Portugal. Contudo, os fundos e ETF aqui abordados concentram-se em dívida de empresas. O risco é mais específico e tende a ser mais elevado.
No segmento desta dívida denominada em euros, o rendimento médio anual ronda, atualmente, os 6 por cento. Como referimos, não são um instrumento de controlo do risco da carteira, mas podem propiciar uma rentabilidade mais atrativa sem incorrer no risco de um investimento em ações.
Estes fundos e ETF são interessantes para incluir em todos os tipos de carteiras vocacionadas para o longo prazo, mas com um peso limitado a 5 por cento.
XTRACKERS II EUR HIGH YIELD CORPORATE BOND UCITS ETF 1C
XTRACKERS II EUR HIGH YIELD CORPORATE BOND UCITS ETF 1C
O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROteste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições.