Análise

2025: Trump trava mercados

Publicado em:  06 março 2025
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Nas duas últimas semanas, inúmeros ETF de ações perderam parte dos ganhos acumulados e outros ficaram em terreno negativo. Quem ganha e quem perde em 2025?

A eleição de Donald Trump deu um forte impulso aos ativos norte-americanos. Os investidores apostaram na desregulamentação da atividade, nos cortes de impostos e na adoção dos criptoativos. As bolsas, o dólar e a Bitcoin ganharam bastante terreno em pouco tempo.

No entanto, nas últimas semanas, o sentimento dos investidores mudou consideravelmente. Depois de um primeiro adiamento das tarifas, Trump avançou mesmo com taxas sobre as importações do México, Canadá e China. Continua a ameaçar a União Europeia com novas taxas e já propôs tarifas sobre o aço, alumínio e está na mira o cobre e os produtos agrícolas, bem como outros países.

Os visados já avisaram tarifas retaliatórias, arriscando um escalar da guerra comercial. Há receios de que esta política comercial aumente a inflação nos EUA e até possa provocar uma recessão económica. Com efeito, os últimos dados relativos à confiança dos consumidores norte-americanos foram muito pouco animadores.

Para já, a mera expectativa foi suficiente para provocar perdas nos mercados. Os ETF de ações EUA estão a perder, em média, 2,7% desde o início do ano. Vejamos, de seguida, alguns dos mercados e fundos/ETF com os melhores (e piores) desempenhos acumulados em 2025 (até 5 de março).

Mercados e ETF que mais sobem em 2025

– O setor financeiro europeu tem sido uma boa surpresa. Embora se prepare para uma conjuntura de taxas de juro mais baixas (menor margem financeira), os resultados têm sido bons. Ao mesmo tempo, parece começar a haver maior abertura das autoridades nacionais para movimentos de consolidação.

Por exemplo, o ETF Invesco EURO STOXX Optimised Banks (IE00B3Q19T94) está a subir 29% desde o início de 2025. As ações da zona euro em geral têm igualmente captado a atenção dos investidores. O ETF iShares EURO STOXX Select Dividend 30 ganha 15%. No entanto, os desafios para a Europa até aumentaram e, em breve, estará na mira das tarifas dos EUA.

– À margem das questões mais globais, o preço do café não para de aumentar. O WisdomTree Coffee (JE00BN7KB557) valoriza 27% em 2025 (130% num ano!), sustentado por más colheitas nos países produtores.

No Brasil, até circulam anedotas nas redes sociais sobre a necessidade de esconder o café quando se recebe visitas. A aposta em matérias-primas agrícolas continua a ser um investimento muito arriscado. Não é incomum que um ano de escassez seja seguido por outro de sobreprodução, pois as condições climáticas podem melhorar e mais agricultores podem ter apostado na “cultura” em alta.

– Outro fenómeno dos últimos meses é o ouro. Apesar da inexistência de alguns dos seus catalisadores habituais, o valor do metal dourado tem estado imparável. É inquestionável que existe incerteza geopolítica, a qual “puxa” pelo seu valor de refúgio, mas há sobretudo um número crescente de atores económicos a querer reduzir a exposição ao dólar dos EUA por motivos geopolíticos.

Dedicado às empresas mineiras, o ETF L&G Gold Mining (IE00B3CNHG25) ganha 21%. Já o ouro propriamente dito e replicado pelo Invesco Physical Gold ETC (IE00B579F325) valorizou 7,1%. Este tipo de produto é mais adequado para ter uma exposição ao metal dourado.

– Sem grande surpresa, o setor da Defesa continua em alta. Porém, o movimento foi acelerado pelas declarações do vice-presidente dos EUA na cimeira de segurança de Munique e depois pelo embate de Trump e Zelensky na Casa Branca. Dois “choques” que levaram a Europa a decidir-se a apostar no seu rearmamento.

Vai demorar tempo até que estas medidas se reflitam nos resultados das empresas, mas a tendência bélica é inexorável. O VanEck Defense UCITS ETF (IE000YYE6WK5) ganha 17% este ano e continua a ser uma boa opção para incluir na carteira.

– A China está a ser outro dos destaques positivos de 2025. O aparecimento do DeepSeek, o ChatGPT chinês de baixo custo, lançou a febre da Inteligência Artificial na China.

Ao mesmo tempo, o Presidente Xi Jiping encontrou-se com os líderes das tecnológicas locais, num sinal que o setor volta a beneficiar do apoio de Pequim após anos de perseguição regulatória. Reunidos em congresso, os líderes da China voltaram a apontar como meta um crescimento de 5% do PIB este ano, pelo que se deverão seguir novos estímulos.

E, ao contrário de muitos outros países, as finanças públicas de Pequim permitem ainda uma boa margem de manobra. No entanto, só as ações das tecnológicas cotadas fora da China Continental é que estão a beneficiar do otimismo. O ETF iShares MSCI China (IE00BJ5JPG56) ganha 11,9%.

Bolsas e ETF que mais recuam em 2025

– Numa permanente montanha-russa, as criptomoedas e as atividades relacionadas acumulam uma forte queda em 2025. Depois de uma ascensão meteórica com a vitória de Trump, deu-se um colapso igualmente acentuado.

Mesmo assim, o cenário não é pior porque o Presidente dos EUA voltou recentemente a relembrar a sua intenção de constituir uma reserva nacional de criptoativos (à semelhança do que existe com o petróleo). Embora seja incerto em que moldes e se tem “pernas para andar”, esta promessa dá algum suporte às “criptos”.

O VanEck Crypto and Blockchain Innovators UCITS ETF (IE00BMDKNW35) está a cair 21% em 2025. Fique afastado deste tipo de ETF.

– O lema “America First” da administração Trump deveria ser uma benesse para as PME dos Estados Unidos. É esse tecido empresarial que está na retórica da Casa Branca. No entanto, para os investidores, essa perceção está a esbater-se e as perdas neste segmento acabaram por ser mais acentuadas do que a média do mercado.

O fundo CT American Smaller Companies (LU1864950479) perde 13,4% em 2025. Apesar deste recente desempenho, uma pequena aposta em PME permanece um complemento interessante para ter exposição aos EUA.

– Depois de uma forte valorização, a bolsa de Bombaim tem vindo a perder algum gás. O fundo Jupiter India Select (LU0329070915) recua 13% este ano. Trata-se de uma oportunidade interessante para apostar neste país. A Índia avançou com reformas importantes, mas tem margem de progressão, sobretudo se criar condições para ser uma alternativa à China nas cadeias de produção globais.

– Apesar do potencial económico da Indonésia, a bolsa de Jacarta tem sido preterida pelos investidores. O ETF Xtrackers MSCI Indonesia Swap (LU0476289623) está a recuar 12% este ano. A relativa boa governação anterior está a ser colocada à prova pelo novo Presidente.

Por um lado, tinha como objetivo acelerar ainda mais o crescimento PIB (em torno de 5% nos últimos anos). Por outro, está a realizar abruptos cortes nas obras públicas de infraestruturas e vai lançar um fundo soberano sem garantias de independência política. No entanto, a longo prazo, o país continua a oferecer um potencial atrativo.

– A Nvidia voltou a apresentar resultados trimestrais impressionantes. Além disso, a empresa líder nos semicondutores para o desenvolvimento da IA mostrou-se igualmente otimista para os próximos trimestres. No entanto, a visão da Nvidia mostrou ser insuficiente para satisfazer os investidores.

Além do clima geral ter-se deteriorado, ainda ecoa o impacto do DeepSeek e a possibilidade de um escrutínio ainda maior nas exportações da Nvidia. Surgiram suspeitas que muitos “chips” vendidos à Malásia, via Singapura, tinham como destino final a China.

O ETF VanEck Semiconductor (IE00BMC38736) perde 8% em 2025, mas este subsetor continua a ser uma boa aposta a longo prazo e este ETF limita a 10% o peso de cada empresa permitindo uma melhor diversificação.

2025: volatilidade também nas obrigações

As taxas de juro subiram com a eleição de Trump, mas nas últimas semanas recuaram um pouco. O maior pessimismo em torno dos EUA fez diminuir as yields das obrigações americanas (no prazo de 10 anos, de 4,5% para 4,2% num mês).

Este comportamento beneficiou os resultados dos ETF de obrigações em dólares e também retirou alguma pressão aos restantes mercados de dívida na competição pelos investidores.

A categoria dos produtos que investe em dívida a nível global acumulava um ganho médio de 1% em 2025. Porém, o panorama mudou novamente com o anúncio que a Alemanha vai abolir o seu “travão” de dívida para investir na Defesa e em infraestruturas. Uma decisão que fez disparar as yields germânicas de 2,4% para 2,7% apenas numa única sessão e as da zona euro seguiram a mesma tendência.

 

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