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André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Alavancagem nos CFD: jogo de alto risco?
Há um ano - 19 de fevereiro de 2021
André
Gouveia, CFA
Analista financeiro independente, certificado pelo CFA Institute e registado na CMVM.
Mestre em Finanças pelo ISEG.
Um dos atrativos dos CFD, ou contratos diferenciais, para quem investe é a alavancagem financeira, ou seja, a possibilidade de investir dinheiro que não tem. O problema é que da mesma maneira que pode duplicar o que investiu, também existe a probabilidade (elevada) de perder tudo.
O que são os CFD?
Os CFD (contract for difference), conhecidos como contratos diferenciais, são os instrumentos financeiros da família dos derivados mais negociados em Portugal desde 2011. Permitem investir em vários ativos financeiros, sejam ações, índices bolsistas, divisas ou matérias-primas, como ouro ou petróleo, e o seu valor depende (deriva) da cotação destes ativos. Ao adquirir uma posição no CFD, o investidor não detém qualquer ativo subjacente (uma ação, por exemplo).
São aparentemente fáceis de utilizar, sendo esse um dos motivos da sua popularidade. O investidor abre uma posição num qualquer ativo, apostando na subida (“posição longa”) ou na descida (“posição curta”) do preço.
Quando fechar a posição, ou seja, vender, recebe a variação do preço do ativo (ou paga, se a variação foi desfavorável à posição que abriu). É muito parecido com investir, por exemplo, numa ação, por comparação com outros derivados mais complexos. Não tem de se preocupar com números de contratos, strikes, datas de roll-over e outros conceitos.
Alavancagem financeira: o que significa?
Uma alavanca, no mundo real, permite multiplicar a força aplicada pelo utilizador. O mundo financeiro adotou esta ideia para multiplicar a rentabilidade, recorrendo ao endividamento.
No caso dos CFD, o investidor só tem de depositar na conta uma parte do valor que quer, de facto, investir (a “margem”). Um exemplo: investe 10 mil euros numa ação e a margem é de 5 por cento. Na prática, só precisa de ter 500 euros na conta. O restante valor é como se fosse emprestado pela corretora.
Mas atenção: os ganhos ou perdas incidirão sempre sobre os 10 mil (a “exposição”). Assim, se a ação valorizar 5%, o investidor ganha 500 euros (5% dos 10 mil euros). Ou seja, duplica o seu capital.
Não se esqueça de que tanto os ganhos como as perdas são multiplicados. Em vez de grandes ganhos, pode acabar com perdas catastróficas.
Se a ação tivesse perdido 6%, o investidor teria uma perda de 600 euros. Perderia os 500 euros investidos e ainda teria de pagar 100 euros à corretora. Na prática, as corretoras pedem para reforçar a margem, caso contrário fecham automaticamente a posição – o que pode ser complicado se a volatilidade for muita.
Para que servem os CFD?
Há situações em que os CFD podem ser uma ferramenta vantajosa. Pode usá-los para investir em ativos financeiros que não consegue comprar diretamente nas corretoras nacionais. É o caso de ações que não estão cotadas nas principais bolsas, índices bolsistas, e até mercadorias como o petróleo ou o ouro.
Os CFD permitem ainda proteger os seus investimentos de desvalorizações (“cobertura de risco”). Imagine que tem uma ou mais ações em carteira que não quer vender por razões fiscais. Mas receia que o título possa desvalorizar no curto prazo (receia, por exemplo, que os resultados da empresa sejam maus). Se abrir uma posição “curta” no CFD da ação, com exposição no mesmo valor das ações que tem em carteira, consegue neutralizar as variações da cotação (exceto custos). Isto é, o que perder nas ações ganha no CFD, e vice-versa. Claro que ao proteger-se das perdas, abdica também dos potenciais ganhos.
A utilização para cobertura de risco é potenciada pela margem que descrevemos acima. Se tivesse investido 10 mil euros em ações, com uma margem de 5% só precisava de disponibilizar 500 euros num CFD (sem esta margem, para cobrir a desvalorização de 10 mil de ações, precisaria de ter outros 10 mil euros, o que é pouco exequível).
Investir em CFD: custos
Alguns intermediários não cobram uma comissão sobre a operação, permitindo negociar aparentemente sem custos. Mas, regra geral, é aplicado um spread sobre o preço do ativo, fazendo com que se compre mais caro e se venda mais barato do que o preço de referência.
Além do spread, podem existir vários outros custos, nem sempre fáceis de calcular: há quem cobre comissão por cada abertura / fecho do contrato, custos de conversão cambial, custo relacionado com o pagamento de dividendos (é devido no caso de posições “curtas”).
CFD fortemente regulados
É um facto que a maioria dos investidores (60 a 90%) perde dinheiro com os CFD, como demonstram os avisos que as próprias corretoras são agora obrigadas a afixar.
Estas perdas decorrem sobretudo do facto de serem muito frequentemente usados para especular. Há muitas corretoras pouco fiáveis que incentivam os investidores a especular e permitiam alavancagem num grau muito elevado (como multiplicar o investimento 100 vezes ou até 500 vezes).
Perante este cenário, após uma iniciativa da Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA), em 2019 a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) introduziu fortes restrições aos CFD, em particular limitou a alavancagem máxima a 30 vezes nas ações (menos para outros ativos), para refrear estas práticas predatórias.
Invista de acordo com o seu perfil
Os CFD são uma ferramenta que pode ser útil em algumas situações, mas se não souber muito bem o que está a fazer, pode também provocar perdas catastróficas. Prefira investimentos mais adequados ao seu perfil e siga os conselhos da Proteste Investe sobre os melhores investimentos.
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