Com um crescimento de 1% nos três primeiros meses e 1,4% no segundo trimestre, o PIB brasileiro superou as expectativas, especialmente considerando que, em maio, o Brasil enfrentou inundações devastadoras que provocaram o deslocamento de centenas de milhares de pessoas.
Em resposta à catástrofe, o Governo Federal multiplicou as ajudas num total de 4,4 mil milhões de euros. Em simultâneo com a taxa de desemprego mais baixa numa década (6,8%), o disparo das despesas públicas impulsionou a confiança, os rendimentos e o consumo dos brasileiros. Até o investimento cresceu.
Inicialmente receosos com o regresso de Lula, os empresários acabaram por aceitar o facto. Até porque o Congresso, maioritariamente conservador, bloqueou os projetos presidenciais mais controversos. A redução da taxa de juro diretora, que passou de 13,75% há um ano para 10,5% em maio, também tornou o crédito menos proibitivo.
Desequilíbrios económicos
Porém, o crescimento do Brasil está a ser acompanhado por pressões inflacionistas e um elevado défice público. De 3,7% em abril, a inflação aumentou por três meses consecutivos, atingindo 4,5% em julho. O descontrolo dos preços é um problema recorrente no Brasil. Infraestruturas inadequadas promovem o isolamento económico entre as várias regiões, limitam a concorrência e propiciam o aumento dos preços quando a procura interna é elevada. A carga fiscal e a burocracia também encarecem os bens de consumo.
Por seu turno, a situação orçamental não melhora devido a opções políticas. O Presidente Lula aumentou os apoios sociais, que subiram 30%, sem contar com a inflação, nos últimos três anos e injetou massivamente dinheiro público para enfrentar catástrofes naturais. No entanto, não consegue aprovar medidas para aumentar as receitas fiscais devido à oposição do Congresso. Como resultado, o défice público atingiu 8,9% do PIB em 2023 e deverá situar-se ainda em torno de 7% em 2024 e 2025. A dívida pública, que já se aproxima de 80% do PIB, segue agora uma trajetória pouco sustentável.
Perante o risco de diminuição da credibilidade financeira do Brasil, o banco central foi obrigado a aumentar a taxa de juro de referência em 0,25% para 10,75%. E as subidas deverão repetir-se nas duas próximas reuniões ainda previstas este ano, o que deverá travar a progressão do investimento e do consumo.
Conselho
O Brasil regista regularmente períodos de crescimento acentuado, mas devido às lacunas estruturais, este provoca um aumento dos preços e obriga o banco central a adotar uma política restritiva, pondo fim à expansão.
Para o Brasil tirar pleno partido do seu potencial tem de facilitar o investimento e melhorar as infraestruturas. No entanto, o processo de reformas é muito lento. Foram necessários anos para concluir a importante reforma fiscal aprovada no final de 2023. E será preciso esperar até 2033 para que esteja plenamente operacional e simplifique a vida das empresas, muitas vezes perdidas num labirinto fiscal.
Os constrangimentos estruturais e a lentidão das reformas limitam o potencial do investimento na bolsa de São Paulo.
Numa perspetiva de longo prazo, pode dedicar apenas uma pequena parte da carteira a fundos/ETF de ações brasileiras. Por seu turno, o nível das taxas de juro é ainda suficientemente elevado para compensar a elevada volatilidade e a depreciação esperada da moeda. Um fundo de obrigações soberanas em reais pode ser igualmente uma opção para uma pequena parte da carteira.
Fundos recomendados
- FRANKLIN FTSE BRAZIL UCITS ETF
- XTRACKERS MSCI BRAZIL UCITS ETF 1C
- AMUNDI MSCI BRAZIL UCITS ETF ACC
- BRADESCO BRAZILIAN FIXED INC EUR
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