Análise

Tio Sam ou a velha Europa: onde investir?

Apesar de partilharem muitas semelhanças, as economias e os mercados financeiros são bastante diferentes.

Apesar das semelhanças entre os EUA e Zona Euro, as diferenças são significativas

Publicado em: 22 março 2024
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Apesar de partilharem muitas semelhanças, as economias e os mercados financeiros são bastante diferentes.

Apesar das semelhanças entre os EUA e Zona Euro, as diferenças são significativas

Apesar de partilharem muitas semelhanças, as economias e os mercados financeiros dos EUA e da Zona Euro são bastante diferentes. Onde vale a pena apostar?

Os EUA são conhecidos pelo empreendedorismo e a tomada de riscos, uma cultura que incentiva o lançamento de start-ups e de pequenos negócios. Facilmente, os inovadores encontram terreno fértil para transformar ideias em empreendimentos de sucesso. Bill Gates, Steve Jobs, Jeff Bezos e Elon Musk são os rostos mais conhecidos, mas a lista é extensa. Apesar dos desafios surgidos durante a pandemia, o país superou, em 2023, as expectativas, tendo o produto interno bruto crescido 2,5 por cento. Este ano, deverá manter o bom dinamismo. A Reserva Federal conseguiu combater eficazmente a inflação, com a subida das taxas de juro, sem lançar a economia na recessão. O mercado de trabalho permanece resiliente. Não surpreende que milhares atravessem todos os dias a fronteira à procura do chamado "sonho americano".

Os grandes trunfos dos EUA são, a longo prazo, a inovação tecnológica. As start-ups de Silicon Valley, a inovação em matéria de inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis contribuem significativamente para o progresso económico. O país dispõe, igualmente, de universidades e instituições de pesquisa, com prestígio global, que suportam essa dinâmica. Como reverso da medalha, os níveis de desigualdade de rendimento nos EUA são superiores à maioria dos países desenvolvidos, o que gera uma menor coesão social. Por seu turno, a imigração, que tem contribuído para uma evolução demográfica mais favorável, está sob um escrutínio cada vez maior. Estes problemas também se refletem numa polarização extrema da política norte-americana, e têm gerado diversos bloqueios legislativos. É praticamente impossível Democratas e Republicanos chegarem a acordo.

Não obstante os desafios políticos, Biden aprovou o Inflaction Reduction Act (IRA) e o Chip Act, que visam colocar os EUA na liderança das renováveis, e garantir a autossuficiência na produção de semicondutores. Embora seja considerado mais pró-ambiente, Biden não impediu os EUA de se tornarem o maior produtor mundial de petróleo.

A hegemonia dos americanos 

Todos estes trunfos têm-se refletido nos mercados de ações norte-americanos, cuja hegemonia é incontestável. O peso nos índices globais excede os 60 por cento. Aliás, os grandes gigantes que impactam a economia mundial são norte-americanos: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon.com, Meta (Facebook) e Alphabet (Google). Ainda que a tecnologia se tenha tornado dominante (32% do índice S&P 500), o mercado não descura setores como a saúde (13%) e as financeiras (11 por cento).

Esta diversificação ajuda a mitigar riscos. Todas as bolsas têm estado bem, mas o desempenho das norte-americanas tem sido excecional. Nos últimos 10 anos, o S&P 500 valorizou, em média, 15,4% por ano. O mercado global ficou-se por 12,3%, enquanto a zona euro registou 8 por cento. Em resumo, a resiliência, a inovação e a liderança tecnológica justificam o epíteto de maior economia global, sendo o polo de atração de investidores por excelência. 

O difícil percurso da Europa 

Este ano, o crescimento do PIB na zona euro não deverá passar dos 0,8 por cento. Por pouco, conseguiu evitar uma recessão em 2023. Apesar da moeda única e das vantagens inegáveis do mercado único, continua a existir fragmentação. Em matéria de regulamentação, o Velho Continente tem liderado, com a aprovação da SFDR (sustentabilidade) e do RGPD (proteção de dados). Neste momento, está focado no enquadramento da Inteligência Artificial. Estes padrões internacionais são um contraponto ao excessivo liberalismo dos EUA.

Contudo, nem tudo é perfeito na Europa. Não existe uma verdadeira união política, e a coordenação das estratégias orçamentais é ainda diminuta. A crise da dívida soberana, que começou por atingir Grécia, Irlanda e Portugal, em 2010, e mais tarde Itália e Espanha, mostrou algumas fragilidades da zona euro. Desde então, a criação de um conjunto de mecanismos de estabilidade e até a emissão de dívida comum (durante a covid) mostram um importante progresso. Será suficiente? Outros problemas tornaram-se mais evidentes com a guerra na Ucrânia. O primeiro foi a dependência energética da Europa face à Rússia. Após as primeiras vagas de sanções do Ocidente ao país de Putin, os EUA passaram a exportar muito mais gás natural para a Europa, mas a preços substancialmente mais elevados. Nas renováveis, a Europa tem reforçado a aposta, mas depende da China para o fornecimento de muitos materiais, nomeadamente para aproveitamento da energia solar.

Em suma, as empresas europeias têm uma fatura energética muito mais pesada, tal como as importações europeias. Após o início do conflito na Ucrânia, a Europa tem prestado um enorme apoio financeiro ao país governado por Zelensky. Muitas nações já aumentaram, ou pretendem aumentar, os gastos com a defesa, para 2% do seu PIB. Com a provável eleição de Donald Trump, que pretende um maior contributo financeiro dos países europeus no orçamento da NATO, os custos com a defesa deverão aumentar, retirando meios financeiros a outras áreas que mais poderiam contribuir para o crescimento a longo prazo. O chamado "dividendo da paz" usufruído pela Europa parece ter chegado ao fim.

Estratégias de investimento recomendadas 

Nos mercados financeiros, o peso das bolsas da zona euro nos índices globais é cerca de 11 por cento. Desde o início deste século, o Velho Continente passou de 38 para 18 empresas no ranking das 100 empresas mais valiosas do mundo. Os Estados Unidos subiram de 54 para 61, graças às grandes empresas tecnológicas. Segundo Andrew McAfee, do MIT, esta subida resulta do apoio à inovação, enquanto na Europa prevalecem regras mais restritas. O pendor tecnológico europeu é ainda comparativamente reduzido (cerca de 18% do Euro Stoxx 50) e apenas graças à ascensão de empresas como a ASML.

Com a mesma ponderação no índice, encontramos setores mais tradicionais, como financeiras, industriais e bens de consumo não essenciais (ex.: automóvel), mas estão muito dependentes dos mercados asiáticos e da China, em particular. No âmbito de uma estratégia de investimento, os mercados da zona euro e dos EUA devem estar presentes numa carteira diversificada, embora com perspetivas diferentes. Por exemplo, atualmente, recomendamos fundos de ações norte-americanos, mas não da zona euro. Ao invés, nas obrigações, ambos os mercados são interessantes.

EUA e Zona Euro: características

Zona euro Estados Unidos
População 344,611,290 333,288,000
Esperança de vida à nascença 80,1 anos 76,4 anos
PIB em USD 16,319,886,000,000 27,966,553,000,000
PIB per capita em USD 56,874 76,291
Taxa de inflação 3,2% 2,8%
Taxa de desemprego 6,5% 3,8%
Investimento %PIB 23,3% 20,4%
Défice público %PIB -2,7% -7,3%
Dívida pública %PIB 88,3% 126,9%
Balança corrente %PIB 1,4% -2,8%
Setores com maior peso Índice Euro Stoxx 50 Índice S&P500
Financeiras Tecnologia
Bens de consumo não essencial Saúde
Tecnologia Bens de consumo não essencial
Fontes: OCDE; FMI

Fundos e ETF em destaque

ETF de Ações

Nos fundos e ETF de ações, não se pode ignorar os Estados Unidos. É quase impossível os restantes mercados florescerem sem serem acompanhados por Wall Street. Destacamos dois ETF: o Amundi NASDAQ 100, no qual a tecnologia pesa mais de 50 por cento, e o iShares MSCI USA SRI. Nos últimos anos, esta aposta foi muito benéfica em termos de rentabilidade, mas também comporta riscos mais elevados. Não recomendamos fundos/ETF da zona euro, que enfrenta desafios complexos. As perspetivas a longo prazo são fracas.

AMUNDI NASDAQ-100 UCITS ETF EUR C

ISHARES MSCI USA SRI UCITS ETF USD (ACC) 

ETF e Fundo de Obrigações Soberanas

Numa carteira de investimento, os fundos de obrigações soberanas são apropriados para reduzir o risco global. Como não há regra sem exceção, 2022 foi um ano de má memória para estes produtos, que registaram quedas de uma dimensão inédita devido ao disparo da inflação e às medidas dos bancos centrais. Nos prazos a 10 anos, os juros rondam os 2,8% na zona euro, e 4,3% nos EUA. Não é expectável que aumentem nos próximos tempos. Mas uma descida dos juros valorizará as obrigações.

AMUNDI JP MORGAN EMU GOVIES INVESTMENT GRADE UCITS ETF ACC

FIDELITY US DOLLAR BOND A ACC 

ETF de Obrigações High Yield

Nas obrigações high yield, os dois mercados são, atualmente, interessantes. Este tipo de dívida é emitido por empresas financeiramente menos sólidas, mas, precisamente por isso, pagam juros mais elevados. Os títulos em euros rondam agora 6,2% ao ano. Em dólares norte-americanos, a taxa é de 7,8 por cento. Esta é uma boa forma de aumentar o potencial de rentabilidade da carteira, com um nível de risco inferior ao das ações. Apenas em caso de grave recessão económica, a maioria destas empresas não poderia continuar a cumprir os seus encargos financeiros. Destacamos dois ETF.

XTRACKERS II EUR HIGH YIELD CORPORATE BOND UCITS ETF 1C

PIMCO US SHORT TERM HIGH YIELD CORPORATE BOND UCITS ETF ACC


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