ETF: há risco de bolha ou apenas de normalização?
Muitos ETF continuam com ganhos acumulados elevados
Muitos ETF continuam com ganhos acumulados elevados
Os inúmeros alertas para uma bolha especulativa em torno da Inteligência Artificial tiveram um impacto limitado. Ao longo de novembro, houve dias de perdas nas principais bolsas, mas quase sempre seguidas de movimentos de recuperação.
Assim, no início de dezembro, a maioria dos mercados acaba por não se encontrar muito distante dos máximos de 2025. Neste cenário, muitos fundos e ETF de ações acabaram por não perder terreno no mês passado e ainda acumulam elevados ganhos desde o início do ano.
Quer isto dizer que os alertas devem ser ignorados? Sim e não. As cotações de muitas empresas assentam claramente em pressupostos pouco realistas para a rentabilidade que a IA poderá gerar a médio prazo. Contudo, não é o que sucede entre os principais gigantes tecnológicos norte-americanos. Os seus rácios de valorização são elevados, mas não astronómicos.
Por fim, é extremamente difícil antecipar com precisão o momento de um crash ou uma de uma forte correção. Sair antecipadamente do mercado pode implicar passar ao lado de uma acentuada valorização. Logo, ter razão muito antes de tempo é contraproducente.
A melhor abordagem passa sempre por movimentos regulares e consistentes de entrada e/ou saída. Ao investir faça-o mensalmente em vez de uma compra única de elevado montante. Para “sair” reduza de forma gradual as posições dos ativos que devido aos ganhos passaram a ter um peso excessivo na carteira.
Os ETF de ações globais terminaram o mês perto da linha de água, recuperando quase todo-o-terreno perdido, sobretudo no início de novembro. O ETF iShares Core MSCI World (IE00B4L5Y983) recuou 0,3% e o JPM Global Research Enhanced Index Equity Active (IE00BF4G6Y48) perdeu apenas 0,1%.
Entre as ações americanas, as tecnológicas, como referimos, estiveram sob maior pressão e o ETF Amundi Nasdaq-100 Swap (LU1681038243) desvalorizou 2,1%, mas o ETF UBS S&P 500 Scored & Screened (IE00BHXMHL11) avançou 0,2%.
Na zona euro também houve ligeiros ganhos, tendo o ETF iShares Core EURO STOXX 50 (IE00B53L3W79) obtido uma valorização mensal de 0,3%.
Depois de alguns meses de bons ganhos, os ETF dedicados a mercados emergentes foram atingidos por alguma tomada de mais-valias por parte dos investidores.
Paradigmática foi a queda de 8,1% nas ações sul-coreanas. Um resultado que se segue a meses de subida impressionante e assente nas empresas locais dedicadas aos semicondutores. As ações chinesas seguiram a mesma tendência.
O fundo Fidelity China Focus (LU0318931192) desvalorizou 1,5% e Xtrackers CSI300 Swap (LU0779800910) perdeu 2,2%. A bolsa chinesa também inclui importantes empresas tecnológicas e não escapou à ligeira deterioração do sentimento.
Mais assentes noutros setores houve mercados emergentes com ganhos em novembro. Foi o que sucedeu com o ETF Amundi MSCI Brazil (LU1900066207) que apresentou um desempenho mensal de 7,1%.
Menos impressionantes, mas também positivos estiveram os ETF para os mercados mexicano e indonésio: iShares MSCI Mexico Capped (IE00B5WHFQ43) com 2,2% e Amundi MSCI Indonesia (LU1900065811) com 0,6%.
Por fim, um mercado emergente, mas europeu, a bolsa de Varsóvia soma e segue. O ETF iShares MSCI Poland (IE00B4M7GH52) ganhou 1% e acumula agora 44,5% desde o início do ano.
Os receios relativos ao nível das valorizações foram igualmente patentes nos ETF setoriais. Em média, a categoria de ações setor tecnológico global recuou 6,4% no mês passado. O nosso subsetor preferido, os semicondutores, resistiu bem melhor com o ETF VanEck Semiconductor (IE00BMC38736) a recuar 3%.
O ETF VanEck Defense (IE000YYE6WK5) dedicado ao setor global da Defesa apresentou uma forte quebra mensal (-8,7%). Por um lado, as cotações já haviam subido bastante e a tomada de mais-valias é compreensível.
Por outro, houve alguma esperança de resolução do conflito da Ucrânia. Infelizmente, a tendência para o rearmamento global não se altera a médio/longo prazo, mesmo que haja um desfecho, em breve, para a atual guerra na Europa.
O mês passado também permitiu dar algum alento a setores que têm sido mais negligenciados pelos mercados. Entre eles, os cuidados de saúde. O fundo UBS Equity Sustainable Health Transformation (LU0085953304) valorizou 6,4% e o Xtrackers MSCI World Health Care (IE00BM67HK77) alcançou 7,5%.
Dadas as tendências demográficas, o setor agrupa um conjunto de atividades com potencial para crescer gradualmente e não apenas no combate à obesidade que tem marcado a atualidade.
Imparável continua o metal dourado. O ETC Xetra-Gold (que detém barras de ouro; DE000A0S9GB0) ganhou 5% só no mês passado. Porém os fundos de ações ligados a empresas de mineração aurífera avançaram 14,1% num mês e atingem +119,8% desde o início do ano! Um desempenho de fazer inveja até às empresas de IA.
As várias teorias para justificar esta valorização astronómica do ouro desde o final de 2024, que também já é copiada por outros metais preciosos, parecem ter pouco suporte. Tido como valor de refúgio para momentos de crise, o ouro está a perder essa função e apresenta-se, cada vez mais, positivamente correlacionado com a evolução das bolsas.
Pode dedicar até 5% da carteira a um ETF de ouro. Não é um “valor seguro”, mas é muito menos volátil que as empresas mineiras.
Os mercados de obrigações tiveram um mês “flat” ou ligeiramente positivo. O ETF Xtrackers II iBoxx Eurozone Government Bond Yield Plus (LU0524480265) valorizou 0,1% e o iShares USD Treasury Bond 7-10 year (IE00B3VWN518) avançou 0,4%, apesar do recuo do dólar em novembro (-0,5%). Com efeito, as taxas de juro de longo prazo têm permanecido relativamente estáveis ou com pequenos recuos.
De momento, não se vislumbram grandes mudanças na política monetária da Fed e do Banco Central Europeu. É certo que Trump deverá indicar, já no início de 2026, um novo Presidente da Fed e que este será mais favorável ao corte das taxas diretoras. No entanto, o elevado endividamento público dos EUA não deverá possibilitar uma descida acentuada dos juros nos prazos mais longos.
Na zona euro, o elevado nível de dívida de alguns países poderá levar o BCE a tomar medidas para conter aumentos das taxas longas e evitar turbulências nos mercados de obrigações.
Neste contexto, e perante as yields atuais, os ETF dedicados aos mercados da dívida soberana em euros poderão continuar a gerar rendimento desde que as taxas de longo prazo não subam.
Para as categorias de dólares dos EUA será igualmente necessário que a nota verde não perca mais terreno para a moeda europeia. São premissas relativamente razoáveis, permitindo às obrigações soberanas manter um papel adequado de diversificação e de limitação do risco da carteira.
Para dar um maior potencial de rendimento à carteira não deve ignorar o papel da dívida high yield. É um segmento mais arriscado e mais correlacionado com os mercados de ações, mas propicia rendimentos com yields anuais bastante mais interessantes. Na dívida expressa em euro, rondam 5,6% ao ano e para os títulos denominados em dólares atinge 6,7% ao ano.
Em 2025, é a categoria em euros que tem dado melhores resultados. Em novembro, o Xtrackers II EUR High Yield Corporate Bond (LU1109943388) avançou mais 0,2%.
Nos EUA, o resultado do PIMCO US Short Term High Yield Corporate Bond (IE00BVZ6SQ11) foi nulo no mês passado sendo penalizado pelo ligeiro recuo do dólar.