Análise

Como investir em PME através de fundos e ETF

Fundos e ETF PME

Para efeitos de investimento dos fundos e ETF, uma PME global tem a mesma dimensão de uma grande empresa portuguesa

Publicado em: 28 fevereiro 2025
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Fundos e ETF PME

Para efeitos de investimento dos fundos e ETF, uma PME global tem a mesma dimensão de uma grande empresa portuguesa

As pequenas e médias empresas são adequadas para diversificar a carteira de investimento. Conheça quatro fundos e ETF para investir em PME.

O excelente desempenho dos mercados, em 2023 e 2024, assentou nas valorizações de (poucas) gigantes tecnológicas norte-americanas, sendo a Nvidia o exemplo mais recente.

Esta evolução levou a uma concentração excessiva dos principais índices replicados pelos ETF. No índice Nasdaq 100, as 7 magníficas, como são conhecidas a Apple, Alphabet, Amazon, Microsoft, Meta, Nvidia e Tesla, pesam 65 por cento. Mesmo no S&P 500, o seu peso já atinge 34 por cento.

Ou seja, estes índices tornaram-se muito dependentes do desempenho de um punhado de empresas, motivo pelo qual o nível de diversificação deixou de ser o ideal. No caso da maioria dos fundos não haverá tanta concentração como nos ETF, mas o fenómeno subsiste.

Uma forma de contornar este enviesamento do mercado é apostar, adicionalmente, em fundos e ETF que se dedicam em exclusividade a empresas de menor dimensão. Esta abordagem permite complementar uma estratégia mais global de investimento nos mercados acionistas e diversificar a carteira de investimento. Naturalmente, terá também inconvenientes. 

Conceito de PME varia de mercado para mercado 

A definição de pequena e média empresa não é uniforme, nem tão simples como parece. As entidades responsáveis pela criação de índices, como a MSCI, utilizam diversos critérios para segmentar os mercados. A metodologia faz com que a definição de PME dependa de cada mercado.

Por exemplo, as 10 maiores empresas do índice MSCI World Small Cap têm, em média, uma capitalização bolsista de 9,8 mil milhões de euros. Em comparação, as maiores empresas nacionais apresentam, em média, um valor de mercado na ordem dos 10 mil milhões de euros.

Ou seja, para efeitos de investimento dos fundos e ETF, uma PME global tem a mesma dimensão de uma grande empresa portuguesa. Não são "pequenos negócios", no sentido português do termo.

As empresas de menor dimensão podem apresentar um elevado potencial de crescimento. Apostar numa fase inicial pode traduzir-se em ganhos significativos caso a empresa consiga expandir-se com sucesso.

Este crescimento está fortemente associado à capacidade de inovação, dado que as PME costumam ser mais ágeis e inovadoras, permitindo-lhes aproveitar oportunidades de investimento em setores emergentes e tecnologias disruptivas. Algumas operam em nichos de mercado onde a concorrência é menor, podendo ser adquiridas mais tarde por grandes empresas para expandir as suas operações.

Por estarem menos expostas ao "radar" da maioria dos investidores, as PME tendem a ser negociadas com rácios de valorização mais atrativos do que as grandes empresas, criando, assim, oportunidades de investimento a níveis que não estão acessíveis noutros segmentos do mercado.

No entanto, como em qualquer investimento, há riscos. Em regra, as ações das PME caracterizam-se por uma maior volatilidade, menor liquidez e vulnerabilidade a crises económicas. A natureza destes negócios pode resultar num grande sucesso ou terem consideráveis dificuldades.

Adicionalmente, a informação disponível aos acionistas é mais limitada em comparação com as grandes empresas, tornando o processo de seleção das PME para investir mais exigente. 

Desempenho recente abaixo do mercado 

Ao comparar a rentabilidade do principal índice global de ações, dominado por grandes empresas, com a de um índice composto exclusivamente por pequenas empresas, verificamos diferenças significativas. Nos primeiros anos deste século, as PME superaram, ano após ano, o desempenho das grandes empresas. Sofreram menos com o rebentamento da bolha das dot.com.

Ou seja, o balanço da primeira década do século foi amplamente positivo para as PME: registaram um ganho acumulado de 83 por cento. As grandes empresas, pelo contrário, sofreram uma perda de 14%, um acentuado contraste. Contudo, desde 2011, o cenário alterou-se. Com taxas de juro extremamente baixas, os mercados acionistas passaram por um período de forte valorização.

No início dessa década, a competição em bolsa entre grandes e pequenas empresas não gerou um vencedor claro, mas, nos últimos anos, a rentabilidade das PME começou a ficar consistentemente abaixo da registada pelo mercado em geral. Com efeito, desde 2011, o índice global MSCI World acumula uma valorização de 440 por cento.

Já o índice equivalente de PME registou um ganho 318 por cento. Ou seja, apesar de as PME terem mais do que quadruplicado de valor, as big caps portaram-se ainda melhor. Portanto, é um investimento muito rentável.

No que diz respeito ao risco, medido pela volatilidade, as small caps mostraram-se mais arriscadas nos últimos vinte anos. Um risco mais elevado era expectável, pois as perspetivas das pequenas empresas tendem a ser mais incertas do que as das grandes empresas globais. Ainda assim, a diferença não foi muito acentuada: a volatilidade foi de 17,8% contra 15 por cento. 

Perspetivas futuras 

Poderão as small caps regressar ao primeiro plano, recuperando o brilho da primeira década do século e deixando para trás os resultados comparativos menos positivos dos últimos anos? A resposta não é clara.

Mais recentemente, há uma crescente necessidade de escala (dimensão) associada aos custos e benefícios da digitalização. Esse fenómeno é patente na concentração da liderança tecnológica do mercado num grupo restrito de empresas, destacando-se as 7 magníficas. Aliás, a valorização das bolsas norte-americanas deve-se, sobretudo, ao desempenho destas ações, em especial nos últimos dois anos.

É pouco provável que a liderança destas grandes empresas seja ameaçada, mas as expectativas relativamente aos seus lucros são tão elevadas e os índices tão concentrados, que o risco de investir na maioria dos fundos/ETF de ações mais generalistas é mais elevado.

Desde o início do ano, excetuando a Meta (+22,5%) e a Amazon (+6,2%), o desempenho em bolsa das restantes magníficas não foi notável. A Apple perde 9,1% e a Tesla 13 por cento. A Nvidia caiu 0,5%, mas já esteve em terreno mais negativo.

Por outras palavras, a sua carteira acabará por depender excessivamente, por exemplo, das vendas da Nvidia, uma situação que não é ideal quando se pretende investir de forma diversificada. Além disso, as small caps acabam por ter rácios de valorização mais atrativos do que a média global. 

PME em "desconto" 

Em resumo, para garantir uma exposição mais abrangente ao mercado acionista global ou dos EUA, é interessante alocar uma parte da carteira (até 5%) a um fundo ou ETF focado nas PME. Não há garantias de que este segmento possa recuperar rapidamente a sua relevância, mas o atual "desconto" relativamente às big caps já é significativo.

Além disso, as PME poderão ser menos atingidas pela guerra comercial encetada por Trump, dado que estão menos espalhadas pelo globo e mais favorecidas pelas políticas industriais nacionais. Porém, é muito difícil avaliar o impacto perante a integração e interdependência de tantas atividades económicas.

ETF e fundos para diversificar 

Apresentamos opções para diversificar a nível global ou no mercado norte-americano, o qual tem, atualmente, o maior peso nas carteiras recomendadas pela DECO PROteste Investe. Todos estes ETF/fundos acumulam os rendimentos (é mais vantajoso fiscalmente).Quanto aos ETF, são de direito europeu (UCITS) e negociados em euros, o que implica menos custos.

Para apostar nas small caps a nível global destacamos o ETF iShares MSCI World Small Cap. Os EUA pesam 61% da carteira e o setor mais representado é o industrial (18%) nas mais de 3300 empresas do ETF.

Se prefere os fundos tradicionais, dispõe de Goldman Sachs Global Small Cap CORE Equity. Aposta em cerca 1100 ações diferentes e o setor mais representado é o industrial (19 por cento).

Para diversificar a exposição ao mercado norte-americano, recomendamos o SPDR MSCI USA Small Cap Value Weighted UCITS ETF. Tem cerca de 1730 empresas em carteira e o setor financeiro tem maior peso (22 por cento).

Se prefere um fundo, aconselhamos o CT American Smaller Companies EUR. Tem apenas 80 ações em carteira. A mais "importante" pesa apenas 3%, garantindo uma boa diversificação.

Ações de PME de todo o mundo

ISHARES MSCI WORLD SMALL CAP UCITS ETF ACC 
GOLDMAN SACHS GLOBAL SMALL CAP CORE EQUITY E ACC  

Ações de PME norte-americanas

SPDR MSCI USA SMALL CAP VALUE WEIGHTED UCITS ETF 
CT AMERICAN SMALLER COMPANIES 1E EUR 
 

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