ETF de obrigações: investir em 2025 ou esperar por juros mais altos?

As taxas de juro pagas pelas obrigações estão nos níveis mais elevados dos últimos anos.
As taxas de juro pagas pelas obrigações estão nos níveis mais elevados dos últimos anos.
Prever com exatidão o ciclo das taxas é extremamente difícil. Perante a incerteza, a estratégia mais prudente é investir de forma faseada, equilibrando a aposta em obrigações soberanas — que atuam como proteção para crises — com obrigações de empresas, que oferecem maior rentabilidade em períodos de estabilidade económica.
As taxas de juro pagas pelas obrigações estão nos níveis mais elevados dos últimos anos. E não seria preciso uma subida substancial considerando que o período que se seguiu à crise financeira de 2008 foi atípico.
Nessa altura, os principais bancos centrais intervieram de forma massiva nos mercados e trouxeram as taxas de juro para valores perto de zero ou mesmo negativos. Até Portugal chegou a emitir obrigações com taxas negativas, ou seja, os investidores pagaram para emprestar dinheiro ao Estado português!
Este cenário mudou bruscamente com o surto inflacionista que se seguiu à pandemia em 2022. A forte derrapagem dos preços forçou os bancos centrais a subir as taxas de referência e os juros aumentaram consideravelmente em todos os prazos.
Agora, e após o regresso da inflação para níveis mais razoáveis, entrámos num novo ciclo. Após terem atingido máximos em finais de 2023, as taxas de juro da dívida soberana começaram a recuar.
Contudo, permanecem em níveis bem acima dos verificados na década anterior.
Vejamos o exemplo para a dívida soberana da zona euro (prazo 7-10) cuja média dos últimos 20 anos é de 2,1%:
Nas obrigações emitidas por empresas (segmentos corporate e high yield) é preciso considerar o spread, além do nível de juros.
O spread é o prémio (em termos de juros) que este tipo de obrigações paga a mais do que a dívida soberana na mesma moeda.
Atualmente, os spreads das obrigações emitidas por empresas (segmentos corporate e high yield) estão baixos em termos históricos. Ou seja, os investidores veem poucos riscos no horizonte.
Na zona euro, o spread da dívida high yield está em 2,8%, contra uma média de 4,7% nos últimos 20 anos. Na dívida em dólares, o spread atual é de 3,1% contra uma média de 5,2%.
Se a economia global começar a se deteriorar, aumentam os riscos de incumprimento financeiro e os spreads aumentarão. Automaticamente, a cotação das obrigações recua, o que penaliza os respetivos ETF. No entanto, como estes também recebem os juros dos títulos, o saldo total do investimento poderá manter-se positivo.
Se a economia mundial permanecer resiliente, não se vislumbram motivos para uma alteração significativa dos spreads.
Como sempre, há riscos e fatores que não são possíveis de prever. No auge da crise financeira, em finais de 2008, os spreads atingiram 20% arrasando a cotação em bolsa destes títulos.
Já o primeiro impacto da covid fez disparar os spreads da dívida das empresas para 8% na zona euro e 9,5% no dólar americano. Nesta crise, o fenómeno foi pouco prolongado e rapidamente recuaram nos meses seguintes.
Em 2022, com a inflação subsequente, todas as yields subiram de forma rápida e acentuada, o que penalizou significativamente o valor de todos os ETF de obrigações.
É extremamente difícil prever com exatidão o ciclo das taxas de juro e ainda mais a ocorrência de graves crises globais.
Por isso, a abordagem mais adequada é investir pequenos montantes regularmente em vez de investir o montante todo de uma vez.
Este conselho é válido para todos os tipos de obrigações. Porém, cada categoria desempenha um papel diferente na sua carteira.
No caso da dívida denominada em dólares, o fator cambial é um risco acrescido, mas pode potenciar ganhos mais elevados. Apesar da queda que se observa em 2025, a moeda dos EUA continua a ser um pilar do sistema financeiro global.
As obrigações soberanas em euros e dólares servem de “almofada” para os choques. Em caso de crise, funcionam como valor de refúgio, atraindo investidores e valorizando. Quando a situação é grave, os bancos centrais intervêm, comprando estes títulos e impulsionando o seu valor.
No entanto, há um outro tipo de preocupação com este tipo de dívida. A deterioração das finanças públicas globais, e sobretudo, em países como os EUA e a França, cria alguma apreensão. Um excesso de “oferta de dívida” para financiar os défices tenderá a deprimir as cotações.
As obrigações emitidas pelas empresas são mais sensíveis aos ciclos económicos. É sobretudo mais evidente nas obrigações high yield. Em caso de crise tendem a perder valor, mas em situações normais permitem obter rendimentos mais atrativos.
Atualmente, a dívida emitida pelas empresas não está particularmente atrativa tendo em conta os rendimentos oferecidos pelas emissões soberanas. Porém, se não houver um choque económico a curto/médio prazo, permitem atingir uma rentabilidade mais atrativa.
A dívida high yield trata-se de títulos emitidos por empresas que são financeiramente menos sólidas. Como contrapartida, pagam taxas de juro bastante mais elevadas.