ETF ESG: sustentabilidade continua a ser uma boa aposta?

O Acordo de Paris de 2015, impulsionou o conceito ESG
O Acordo de Paris de 2015, impulsionou o conceito ESG
Em 2015, o Acordo de Paris impulsionou o conceito ESG e muitos investidores passaram a olhar não apenas para os lucros das empresas, mas também para a forma como as companhias atuavam na sociedade.
Sublinhe-se que o ESG é um conceito bastante amplo. Inclui questões como o consumo de energia, a poluição, as alterações climáticas, os direitos humanos, a própria gestão das empresas.
Isto é, a transparência na forma de atuar, o envolvimento com a comunidade, a preservação dos recursos naturais, o bem-estar animal, as relações com os trabalhadores e até os direitos dos acionistas.
Para fomentar o investimento, a União Europeia aprovou, nesse ano, o Sustainable Finance Disclosures Regulation (SFDR), um regulamento que classifica ativos financeiros, como fundos e ETF, em três categorias, e impôs requisitos de divulgação de informação sobre a implementação dos critérios ESG.
- Artigo 6.º: produtos de investimento devem avaliar como as suas decisões de investimento impactam a sustentabilidade. Não têm um foco ESG.
- Artigo 8.º: produtos adotam o princípio de não causar danos significativos em termos ambientais e sociais, e as gestoras têm de divulgar informação sobre a forma como prosseguem esse propósito. Todavia, o objetivo principal dos produtos, conhecidos como light green, não é a sustentabilidade.
- Artigo 9.°: apostam na transição para uma economia mais sustentável, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, uso sustentável e eficiente de recursos naturais, proteção da biodiversidade e dos ecossistemas e outros fins similares, classificam-se de acordo com (produtos dark green). Precisam de provar que os seus ativos realmente contribuem para metas ambientais ou sociais mensuráveis.
Apesar de não terem sido criados com esse propósito, estes três artigos do SFDR acabaram por se tornar nos “rótulos” dos fundos e ETF sustentáveis, dada a falta de alternativas consensuais.
Esta classificação é um processo em curso. Como algumas regras são complexas e dão azo a interpretações subjetivas, todos os intervenientes – Comissão Europeia, as autoridades supervisoras, as entidades gestoras de fundos, as empresas produtoras de índices e de informação e os investidores – têm um papel importante para melhorar a transparência.
Por isso, é inevitável que as classificações do SFDR sejam refinadas ou subdivididas, para evitar, por exemplo, o greenwashing, uma técnica de marketing utilizada para apresentar produtos como sustentáveis sem realmente o serem.
Nos dois anos após ter sido aprovado o SFDR, o aumento substancial dos custos da energia e as preocupações em torno do desempenho da “clean energy” reduziram o apetite dos investidores por estes produtos.
E, desde que foi reeleito, Donald Trump e os seus partidários têm adotado uma postura hostil face às políticas ESG. As críticas estão ligadas à sua oposição ao que chama de "woke capitalism", termo usado de forma depreciativa para descrever práticas empresariais ESG.
Nos Estados republicanos, o ESG é visto como anticompetitivo, anticombustível fóssil ou politicamente tendencioso. O resultado são ações judiciais e boicotes sobre empresas e gestoras de ativos que defendam a adoção explícita de práticas ESG.
Ao contrário dos EUA, a Europa tem sido mais resiliente no seu compromisso com a sustentabilidade.
Porém, entre as várias críticas, o greenwashing, segundo o qual o ESG pode ser usado como fachada para melhorar a reputação sem um compromisso real, é talvez a crítica mais acutilante.
O ESG é difícil de implementar. Gerir múltiplos interesses (investidores, clientes, funcionários, meio ambiente...) gera conflitos complexos. Além disso, a falta de padronização leva diferentes provedores de rating a usar metodologias muito distintas, o que prejudica a fiabilidade dos indicadores.
Mesmo que alguns fundos ESG superem o mercado, a relação causal a curto prazo é incerta. Por vezes, o bom desempenho decorre de fatores como o setor (ex.: tecnologia de baixo carbono), não de práticas ESG em si.
Isto significa que os fundos sustentáveis passaram de moda ou continuam a ser uma boa opção de investimento? A resposta não é evidente.
Nos últimos cinco anos, se observarmos os resultados na categoria de ações globais, os fundos de Artigo 9.º valorizaram, em média, 6,2% contra 9,1% da categoria. Em três anos, a comparação e a diferença é ainda maior: 2,6% versus 7 por cento.
Este fraco desempenho médio comparativo reflete vários problemas que se tornaram mais evidentes nos últimos anos. Por exemplo, os fortes ganhos em bolsa do setor energético tradicional (fóssil) em 2022. O posterior momento difícil das empresas de energias renováveis (fraca rentabilidade) e a oposição ativa da administração Trump nesta área.
Uma valorização dos mercados muito assente nas grandes tecnológicas, empresas cujo respeito pelas normas ESG deixa mais a desejar nomeadamente nos direitos dos acionistas, além de estarem frequentemente envolvidas em controvérsias.
Em teoria, as empresas com práticas mais sustentáveis teriam mais hipóteses de sucesso, pois estão mais ajustadas à evolução das exigências dos investidores e consumidores. Porém, vendo apenas os últimos anos, uma “aposta sustentável” pode ter levado os investidores podem ter prescindido de parte da valorização dos mercados.
Para os investidores que pretendem continuar a contribuir para um mundo melhor, destacamos dois fundos e dois ETF.
É importante sublinhar que, apesar de respeitarem as limitações inerentes artigo 9.º (restrições nas empresas e setores em que investem), estes produtos têm superado a rentabilidade média total dos fundos de ações globais.
Fundo M&G (lux) Global Sustainable Paris Aligned EUR A Acc
Fundo Candriam Sustainable Equity World C EUR
ETF JPM Carbon Transition Global Equity CTB UCITS USD A
Invesco MSCI World ESG Climate Paris Aligned UCITS ETF ACC
Como a sustentabilidade não se pode sobrepor totalmente às regras do investimento, os 4 fundos e ETF que destacamos cumprem mais alguns requisitos.
- Têm uma política de investimento (mercado-alvo) global para permitir uma adequada diversificação geográfica e setorial.
- À luz do indicador de avaliação da DECO PROteste Investe têm melhor classificação. Apesar de os dois ETF ainda não terem completado cinco anos, revelam um muito bom desempenho.
- Sendo fundos e ETF de capitalização (não distribuem rendimentos periódicos), são os mais adequados fiscalmente, para investir a longo prazo.
- Como em qualquer investimento, o fator tempo é imprescindível para minimizar os riscos.
Nem tudo o que parece é sustentável. Aprenda a separar o trigo do joio
1. Classificação e transparência: confirme se o fundo ou ETF está classificado de acordo com o Art. 9.º do regulamento SFDR, ou 8.º quando os primeiros não estão disponíveis na mesma categoria de investimento.
2. Performance financeira e impacto: procure fundos e ETF que não descurem a rentabilidade e tenham baixos custos (total expense ratio).
3. Diversificação: Para reduzir o risco, prefira fundos ou ETF que investem em vários setores de atividade e em diferentes regiões do globo.
4. ‘Greenwashing?’ Fique atento à reputação dos produtos em ESG e a mudanças na política do ETF ou do fundo, que impliquem uma perda de classificação de artigo 9.º.
5. Longo prazo: para beneficiar da transição verde, adote uma estratégia paciente de crescimento