Análise

Fundos e ETF com hedge cambial: deve investir?

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Existem inúmeros fundos e ETF que oferecem uma proteção explícita para as variações cambiais. Na sua designação incluem o termo "hedged".

Publicado em: 26 maio 2025
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Existem inúmeros fundos e ETF que oferecem uma proteção explícita para as variações cambiais. Na sua designação incluem o termo "hedged".

Ao comprar ETF dificilmente escapará aos efeitos das taxas de câmbio. Saiba se os fundos com hedge cambial podem ser uma opção de investimento.

O valor das diferentes moedas pode flutuar bastante face ao euro, tanto a curto como a longo prazo. Esses movimentos têm um impacto significativo (positivo ou negativo) no desempenho dos fundos e ETF. Agora, com a queda do dólar face ao euro em 2025, este aspeto tornou-se mais visível.

Como é que as taxas de câmbio afetam os investimentos? Deve procurar cobrir esse risco?

Efeito cambial direto

Imagine que adquire ações da Microsoft por 460 dólares e que daqui por ano consegue vendê-las à cotação de 490 dólares. A valorização será de 30 dólares por ação, mas em termos relativos o ganho para o investidor português será diferente porque o seu dia-a-dia é em euros.

Se nesse período de um ano, o câmbio do euro/dólar fosse de 1 para 1, e tivesse permanecido estável, iria ter 30 euros de lucros. Mas se o dólar apreciar, quando converter para euros terá um ganho superior a 30 euros, mas se o dólar recuar, o lucro convertido em euros também encolhe. Se a queda do dólar fosse colossal, a valorização poderia até tornar-se numa perda.

Este raciocínio é igualmente válido para fundos e ETF que estão aplicados em ativos (ações, obrigações, matérias-primas) cotados em moedas diferentes do euro. O ETF até pode estar cotado em euros numa bolsa europeia, mas este facto é irrelevante. O que conta é se a sua carteira está ou não em euros.

Por exemplo, o ETF Amundi S&P 500 (LU1135865084) é negociado em euros na Euronext Paris, mas o investidor está sujeito às oscilações cambiais pois a carteira do ETF é composta por ações norte-americanas.

Outro exemplo, o fundo Pictet USA Index P existe em duas versões, uma com unidade de participação em euros e outra em dólares: Pictet USA Index P EUR (LU0474966164) e Pictet USA Index P USD (LU0130732877). Na realidade, ambos têm a mesma exposição ao dólar e propiciaram exatamente o mesmo resultado para um investidor nacional nos últimos cinco anos: 15%.

Esta mais-valia para o investidor nacional é gerada pelo efeito conjunto da variação das cotações das ações e da taxa de câmbio euro/dólar no período. 

Efeito cambial indireto

Os efeitos cambiais não se limitam aos investimentos realizados fora da zona euro. Por exemplo, se comprar ações de uma empresa alemã, cotada em euros, mas cujas vendas são maioritariamente realizadas nos Estados Unidos ou na China, a evolução destas moedas influenciará os lucros e, por extensão, a cotação das ações.

O mesmo raciocínio é válido para um ETF que investe em grandes empresas da zona euro. Como muitas são empresas globais, haverá sempre impacto cambial nos seus resultados e consequentemente no desempenho do ETF.

Em suma, como investidor, o risco cambial é quase incontornável.

Risco cambial: bom ou mau?

As taxas de câmbio não escapam à regra base dos investimentos, pois rendimento potencial e risco andam lado a lado. Expor-se a moedas diferentes do euro permite ao investidor diversificar e lucrar quando essas divisas se apreciam, mas implicam perdas quando perdem terreno para a moeda única.

Por isso, o risco cambial é uma faca de dois gumes: pode impulsionar ou diminuir as rentabilidades do investimento num ETF.

Essas variações podem ser muito amplas quando se entra no reino das divisas de países emergentes. Como normalmente a sua tendência de longo prazo é para a depreciação face ao euro e ao dólar, muitos investidores preferem pagar para não correr esse risco quando apostam em ações ou obrigações em moedas emergentes.

Contudo, a evolução das taxas de câmbio é bastante imprevisível, sobretudo a curto/médio prazo. E quando se fala das grandes divisas como o euro e o dólar é ainda mais difícil captar tendência de longo prazo. Desde a sua criação, o euro já flutuou consideravelmente face ao dólar, mas sem uma tendência definida de ganho ou perda.

Proteção cambial integrada

Existem inúmeros fundos e ETF que oferecem uma proteção explícita para as variações cambiais. Na sua designação incluem o termo "hedged" ou frequentemente abreviaturas como “hdg” ou apenas um "H".

A composição das respetivas carteiras (ações, obrigações) é quase igual à dos seus fundos/ETF “irmãos” que não realizam hedging. Exemplo: Amundi NASDAQ 100 UCITS ETF EUR C (LU1681038243) e Amundi NASDAQ 100 UCITS ETF Daily Hedged EUR C (LU1681038599).

A diferença é que, na versão hedged, a entidade gestora contrata produtos financeiros derivados para eliminar os efeitos cambiais (positivos e negativos). Esta estratégia tem custos para o ETF (e consequentemente para o investidor) e que variam consoante as moedas em causa. Normalmente será mais dispendioso cobrir o risco de uma divisa emergente face ao euro do que o dólar ou o iene.

Para o investidor, a estratégia de hedging (e os respetivos custos) faz com que os ETF produzam resultados diferentes.

É possível encontrar fundos “euro hedged” (proteção contra as variações face ao euro) nas categorias mais importantes, nomeadamente ações globais, norte-americanas, nipónicas e emergentes. Nas obrigações, o mais frequente é no investimento em títulos em dólar norte-americano.

No comparador de ETF, estes produtos são apresentados de forma separada e não são avaliados em conjunto. Dada esta especificidade de política, a recomendação é diferente e a qualidade de gestão não é comparável entre si. Assim, por exemplo, encontrará conselhos diferentes para as categorias e avaliações separadas para os fundos de ações EUA e fundos de ações EUA hedged.

Deve investir?

Nas nossas recomendações levamos em conta, se for o caso, as perspetivas de evolução da moeda estrangeira. O potencial de ganho (ou perda) cambial de cada mercado contribui para determinar o respetivo conselho.

Assim, preferimos fundos/ETF sem políticas explícitas de hedging cambial. Por um lado, poderão beneficiar de uma aposta em moedas com potencial de apreciação. Por outro lado, se estimamos um deslize cambial, só recomendamos porque as expectativas do mercado subjacente são mais do que suficientes para o compensar.

Atualmente, as preocupações face a um possível colapso do dólar parecem irrealistas. A moeda norte-americana continua a ser o pilar do sistema financeiro internacional, até porque não há alternativas credíveis. A dívida soberana dos EUA também permanece como valor de refúgio e uma referência para as taxas de juro globais.

Não obstante, a política comercial errática da Casa Branca poderá contribuir para uma maior volatilidade do dólar nos próximos meses.

Em suma, se investe via ETF de ações norte-americanas ou de obrigações em USD, numa ótica de longo prazo, não se justifica optar por ETF com hedge cambial.

 

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