Embora a situação interna seja marcada por juros bastante elevados (taxa diretora em 11%), o México conseguiu dez trimestres de crescimento moderado, o desemprego atingiu o nível mais baixo de sempre, os consumidores estão confiantes e o investimento progride a bom ritmo.
Em suma, o desempenho tem sido bastante bom. A adesão ao Acordo Canadá-Estados Unidos-México (USMCA) proporciona fácil acesso ao mercado dos EUA e torna o México num destino de eleição para as empresas que querem encurtar as linhas de produção e diminuir a dependência da China. Em 2023, o México tornou-se o principal fornecedor de bens dos EUA, ultrapassando a China. Tem, portanto, trunfos significativos e poderá até acelerar o crescimento à medida que as taxas de juro descerem e o crédito se tornar mais barato.
Desafio: contas públicas
Para tirar pleno partido da situação, o México beneficiaria de uma melhor governação. Desde 2018, os investidores têm-se contentado com o presidente López Obrador e a sua mistura particular de socialismo e nacionalismo económico. Embora tenha fechado setores ao investimento estrangeiro (energia, eletricidade, portos e aeroportos), manteve a independência do banco central e preservou o rating da dívida do México. Para tal, manteve os défices das contas públicas sob controlo (4% em média, entre 2020 e 2023) até à parte final do seu mandato.
Depois, sucederam-se os gastos eleitorais imediatos, incluindo infraestruturas dispendiosas, como um comboio turístico para ligar os pontos turísticos no sul do país e nova capacidade de refinação para a indústria petrolífera.
Outras promessas vão acrescer as despesas a longo prazo, como o aumento das pensões de reforma e das transferências sociais. Como resultado, em 2024, o défice aproximar-se-á dos 6% do PIB. A presidente Sheinbaum herdará contas públicas deterioradas e terá de fazer escolhas difíceis: recuar em certas transferências sociais ou aumentar a carga fiscal, medidas sempre impopulares.
Pemex, de solução a problema
No passado, o México sempre pôde contar com o dinheiro da Pemex, a empresa estatal de petróleo, para equilibrar as contas públicas. No entanto, este recurso esgotou-se. A Pemex tem agora uma dívida superior a 100 mil milhões de dólares e os investidores mostram-se relutantes em financiar a petrolífera estatal. Agora, é o Estado mexicano que tem de levar a mão ao bolso para “salvar” a empresa.
O facto de o ex-Presidente ter afastado os investidores estrangeiros não ajuda. A Pemex não tem meios para investir na produção que, em abril, caiu abaixo de 1,5 milhão de barris por dia, pela primeira vez em quatro décadas.
Objetivo: tirar o máximo partido do USMCA
Para não desperdiçar uma oportunidade única, o México precisa reduzir a corrupção e a burocracia e criar um ambiente mais acolhedor para os investidores. Sheinbaum quer estimular o investimento privado e planeia abrir 100 parques industriais. Mas, para isso, terá de desenvolver a rede elétrica, que não tem capacidade para fazer face ao maior consumo.
O México terá também de melhorar a distribuição de água, necessária para a indústria, numa altura em que parte significativa do país já está em situação de escassez. Finalmente, a segurança terá de ser melhorada, dado que várias cidades mexicanas estão entre as mais perigosas do mundo.
Recordamos que os signatários do USMCA devem fazer um balanço em 2026. Porém, o maior desafio vem do próprio Governo. As reformas pretendidas pelo Presidente cessante preveem um papel ainda mais interventivo do Estado (eletricidade, gestão de portos e aeroportos), o que não tranquiliza os mercados.
Conselho
A bolsa mexicana está relativamente atrativa tendo em conta o potencial do país. O acordo USMCA confere uma vantagem competitiva valiosa perante as tensas relações entre os EUA e a China. Mesmo com as falhas na governação, o México já beneficia desta tendência, pelo que uma melhoria do clima empresarial permitiria potenciar ainda mais a economia.
De momento, damos o benefício da dúvida que a nova presidente não irá, pelo menos, inverter o rumo e mantemos o conselho de compra para os ETF de ações mexicanas.
ETF de ações do México
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