A reação do ataque a Israel só poderia ser negativa para os mercados. Alguns países árabes, como a Arábia Saudita, tomaram uma posição pró-Palestina, enquanto vários países ocidentais, como os Estados Unidos, reafirmaram o apoio incondicional a Israel.
O Irão, a outra potência regional, desempenha igualmente um papel importante no apoio a vários dos grupos palestinianos, também no Líbano.
Estas ramificações geopolíticas aumentam o risco de o conflito alastrar, com consequências humanitárias ainda mais trágicas, mas também com impactos económicos.
Nos mercados, o principal impulso ocorreu sobre o preço do petróleo. O barril de Brent avançou 4% na segunda-feira e está novamente perto dos 90 dólares.
Ainda está abaixo dos valores registados há poucas semanas, mas a situação piorará se houver sinais de que o conflito possa envolver mais partes.
Por exemplo, um reforço das sanções às exportações do Irão, por parte do Ocidente, colocaria ainda mais restrições à oferta de crude e faria disparar os preços.
Como se sabe, dado o seu peso, mais custos com energia implicam menos lucros paras as empresas e menos dinheiro disponível para os consumidores adquirirem outros bens e serviços.
Por isso, a reação das bolsas foi negativa, embora sem pânico, e com perdas na ordem dos 1%. A expectativa dos investidores é que o conflito fique contido, como aconteceu nas últimas vezes.
Outro potencial problema é a inflação. O aumento do preço da energia não impacta diretamente na inflação “core”, a que interessa mais aos bancos centrais, mas também é verdade que períodos prolongados de inflação, gerada pela energia, conduzem ao aumento desta inflação subjacente (“core”).
Foi o fenómeno a que se assistiu no ano passado.
Aqui também, se o conflito continuar limitado, em termos de tempo e extensão, o perigo inflacionista é baixo.
Porém, a incerteza é grande e os investidores tomam as suas precauções.
Investidores procuram segurança
As bolsas são bastante reativas e, portanto, não é surpreendente que em tempos de maior incerteza os resultados não sejam brilhantes.
Quando há risco de tempestade, há uma tendência a favorecer as compras dos chamados "ativos de refúgio", deixando de fora os ativos considerados mais arriscados.
Assim, as ações são preteridas por outros ativos.
O "porto seguro", por excelência, é o ouro que, de facto, no início desta semana registou uma ligeira valorização. Uma reação muito contida, em linha com as expectativas de que o conflito não alastre.
Outro refúgio é o dólar americano, que tende a apreciar-se face a outras moedas. Naturalmente, o maior efeito ocorreu na moeda israelita, o shekel que perdeu 2,6% para o dólar num dia e a queda não foi mais acentuada devido à intervenção do banco central de Israel.
Por último, outro ativo de excelência considerado de refúgio são as obrigações do Estado norte-americano, as quais agora até oferecem rendimentos (yields) bastante atrativas.
O que fazer com os seus investimentos?
Tem sempre de pensar em termos de carteira porque, mesmo que não haja pânico nos mercados, a regra essencial, em qualquer momento e situação de mercado, é a da diversificação: não coloque todos os ovos no mesmo cesto.
Se já segue as nossas recomendações em termos de carteira, por enquanto, não precisa de fazer ajustamentos. Já terá exposição a ativos mais seguros como os fundos de obrigações soberanas em dólares norte-americanos e em ienes japoneses.
Terá igualmente uma carteira de ações e fundos de ações com exposição a diferentes países, regiões, moedas e setores.
Pode igualmente ter uma pequena parte das poupanças aplicadas no ouro via ETF, mas este investimento “seguro” tem também as suas desvantagens.
Concluindo, não há motivos para pânico nem para decisões de investimento precipitadas. Aliás, a reação geral dos mercados foi bastante contida. Os impactos na energia e na inflação deverão ser muito limitados.
Infelizmente, o conflito tem estado sempre presente de forma latente naquela região do Médio Oriente. As expectativas são de que o padrão seja idêntico aos anteriores momentos de confrontação aberta.
Para as populações locais, a tragédia está e vai ser imensa, mas espera-se que os vizinhos de Israel e o Ocidente se mantenham à margem.
Apesar disso, o aumento da incerteza é inevitável. Ninguém pode excluir completamente um cenário mais sombrio de alastramento da guerra, o que tenderá a gerar mais turbulência nos mercados a curto prazo.
Nesse caso, os ativos de refúgio serão os mais procurados, em detrimento dos ativos mais arriscados.
Se pretende investir ou vender alguns ativos faça-o de forma faseada para evitar valores mais extremos das bolsas neste período.
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