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Forex: autoestrada para o inferno
Há 2 anos - 12 de maio de 2020Poderíamos estar a falar do aclamado álbum da banda australiana AC/DC, mas aqui a música é outra. A nossa análise prende-se com os investimentos no mercado cambial ou de divisas (maior mercado financeiro do mundo), vulgarmente conhecido como Forex, onde são realizadas transações de câmbio.
Uma operação de forex envolve a compra de uma moeda e a venda simultânea de outra, isto é, as moedas são negociadas em pares. Até certa altura, este mercado estava praticamente reservado às instituições financeiras, devido às avultadas margens de negociação exigidas. A realidade hoje é diferente, devido às margens mais pequenas e à proliferação de plataformas digitais que viabilizaram o acesso dos pequenos investidores.
Mas, a assimetria de informação e a diferença abissal na capacidade dos vários intervenientes em tomarem risco tornam este mercado um terreno muito perigoso para os pequenos investidores que, na ilusão de obterem ganhos elevados e rápidos, acabam por perder grande parte do seu capital.
Além disso, face às características do forex (descentralizado, dimensão, liquidez...), muitas vezes este mercado é palco de propostas desonestas, desde operadores que prometem rendimentos garantidos a corretoras com práticas pouco lícitas, que se aproveitam da menor regulação nos países onde estão sediadas.
Via rápida
O facto de o investidor não necessitar de possuir em dinheiro o valor total da posição que vai assumir é um aliciante deste mercado. Mas a má gestão, na forma como é utilizada a alavancagem, é uma das principais razões para se perder dinheiro. Veja também os nossos conselhos em 5 formas de negociar no forex.
Vejamos o seguinte exemplo: um investidor negoceia um lote EUR/USD a 1,0560 (equivale a comprar 100 mil euros e a vender 105 600 dólares). No final do dia fecha a sua posição a 1,0660. Esta operação gera um ganho de 1000 dólares ou 938 euros, ou seja, de 0,94% (sem alavancagem). Porém, se estivesse a investir com um rácio de 100:1, a margem exigida seria apenas de 1000 euros. Neste caso quase duplicaria a sua margem. Mas se o euro não tivesse apreciado em relação ao dólar e a perda fosse na mesma proporção, o investidor teria perdido praticamente todo o seu capital.
Deste modo, uma variação desfavorável em relação à posição assumida pode levar à perda total do capital investido. Em situações extremas é possível que a perda seja superior ao capital investido. Neste cenário, a posição é automaticamente fechada pelo intermediário financeiro, ficando o investidor responsável pela dívida resultante, tendo que reforçar os fundos da sua conta.
Negociar com conhecimento
Em regra, as comissões de negociação estão refletidas nos preços que são disponibilizados aos investidores. Um conceito fundamental é o "pip" (significa "point in percentage"), que é a menor variação que uma divisa pode registar. A maior parte dos pares cambiais está cotado com quatro casas decimais, caso em que 1 pip é 0,0001 (centésima de ponto percentual).
O intermediário financeiro acrescenta ao preço de mercado a sua margem (spread). Se o par EUR/USD cotar a 1,0876 e a margem for 2 pips, significa que o preço de compra é 1,0877 e o preço de venda 1,0875. Quanto menor o spread, menor a comissão que se paga à corretora. Alguns intermediários, além deste custo, cobram uma comissão fixa. Outros, em vez de uma comissão fixa, podem aplicar uma comissão variável.
Por outro lado, se não alienar a aplicação num câmbio antes do final do dia da compra, então é provável que tenha de pagar juros ao intermediário financeiro (calculados com base no diferencial das taxas de juro de um dia para o outro das duas moedas). Por norma, as corretoras deduzem também uma margem sobre as taxas de referência.
Uma das particularidades neste mercado é que não existe uma casa de compensação que centralize as operações. Isto implica que cada corretora possa praticar preços diferentes para o mesmo câmbio. Porém, na prática estas diferenças tendem a ser mínimas, caso contrário existiria a possibilidade de arbitragem - um investidor compraria um câmbio numa corretora com o preço mais baixo e vendê-lo-ia na que tem o preço mais elevado.
Não se esqueça que o forex é um investimento tendencialmente de soma... negativa. Se um investidor ganha, a contraparte perde o montante correspondente e, pelo meio, ainda têm que ser suportadas as comissões da corretora.
Atualmente, este investimento é alvo de algumas restrições. A negociação forex oferecida na maioria das corretoras tem por base CFDs, e como tal é abrangida pelas novas regras para estes produtos financeiros, nomeadamente restrições à alavancagem.
Cuidados redobrados
Caso, ainda assim, esteja a ponderar investir neste mercado, outro aspeto essencial é verificar a segurança do intermediário financeiro. Confira o nome e dados da instituição e veja junto da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários se esta está autorizada a prestar serviços de investimento em Portugal ou se está sujeita à supervisão de outra autoridade bem como se já foi referenciada por prestar serviços de investimento sem autorização. As regras diferem de um país para o outro e muitos operadores escolhem moradas em paraísos fiscais onde os regimes legais são menos exigentes. No limite, algumas propostas escondem esquemas fraudulentos.
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