A forma como os portugueses investem confirma o perfil conservador na aplicação das poupanças. De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal, no primeiro trimestre do ano, quase metade das aplicações financeiras (44,4%) estava concentrada em depósitos e numerário, incluindo Certificados de Aforro e do Tesouro.
Em segundo lugar, surgiram as ações e outras participações (31,8%), seguidas por seguros, pensões e garantias (10,5%), ficando os fundos de investimento com 6,8 por cento.
Sem especificar quais, o Banco de Portugal revela que 6,5% estão aplicados em outros ativos.
Investimento em fundos cresce
Apesar de o dinheiro e os depósitos terem registado o aumento mais expressivo, impulsionado, sobretudo pelos Certificados de Aforro, que atraíram mais poupanças nos últimos meses, os fundos de investimento destacaram-se como o único ativo financeiro a crescer em percentagem do PIB (+0,2 pontos percentuais).
Os números do Banco de Portugal permitem concluir que os ativos financeiros detidos pelos portugueses representam 200,1% do PIB, quase três vezes mais do que os seus passivos (dívidas). Aliás, desde o quarto trimestre de 2023, têm-se verificado crescimentos trimestrais consecutivos, com os ativos financeiros a atingir o valor mais elevado de sempre no final do primeiro trimestre de 2025 (577,4 mil milhões de euros).
Ainda assim, este crescimento tem sido inferior ao crescimento da economia. Em percentagem do PIB, reduziram 1,4 pontos percentuais relativamente ao trimestre anterior.
De salientar ainda que, nos primeiros três meses deste ano, os portugueses endividaram-se mais devido ao incremento nos empréstimos à habitação. Desde o segundo trimestre de 2021, a tendência era de descida, mas a garantia do Estado veio impulsionar a aquisição de habitação pelos jovens até aos 35 anos.
Mais incentivos à poupança
Crítico à forma como se investe em Portugal, Gabriel Bernardino, que deverá ser o próximo presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, afirmou, em setembro, em audição parlamentar, que "temos, em Portugal, estratégias de investimento como se todos tivéssemos 85 anos".
Para colmatar o problema, defendeu incentivos para se assumirem mais riscos na fase inicial da poupança. Na sua opinião, "os portugueses poupam relativamente menos do que os seus congéneres europeus, mas, sobretudo, poupam mal. Poupamos mal porquê? A culpa é dos cidadãos? Não. A culpa é de todos nós, inclusive do próprio mercado e da lógica de como se olha para os produtos de longo prazo", reconheceu.
A DECO PROteste Investe reivindica há muito a atribuição de incentivos para estimular a poupança de longo prazo, como é o caso da autonomização do benefício fiscal dos PPR e a isenção fiscal para contas-poupança até certo montante destinadas ao fundo de emergência.
Texto de Myriam Gaspar.
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