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“Os mercados acabam sempre por recuperar”

joao sousa proteste investe

Para João Sousa a história mostra-nos que, no longo prazo, os mercados acabam sempre por recuperar das crises.

Publicado em: 09 abril 2025
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Para João Sousa a história mostra-nos que, no longo prazo, os mercados acabam sempre por recuperar das crises.

Perante mais um embate nas bolsas, João Sousa, coordenador da DECO PROteste Investe, aconselha a não entrar em pânico.

Há 30 anos a promover a literacia financeira dos portugueses, a DECO PROteste Investe assistiu a muitas mudanças nos hábitos dos consumidores e nos mercados financeiros.

Perante mais um embate nas bolsas, João Sousa, coordenador da DECO PROteste Investe, deixa recomendações e aconselha a não entrar em pânico.

O que motivou o lançamento da Proteste Investe há 30 anos? 

Ajudar os consumidores a tomar as melhores decisões de investimento, colocando ao seu dispor informação com qualidade, credível e independente.

O lançamento da Proteste Investe surgiu num contexto em que os consumidores enfrentavam dificuldades para entender e comparar as várias opções disponíveis no mercado.

Muitas vezes, estavam reféns da sua própria inércia que os limitava à reduzida oferta de produtos financeiros da instituição onde eram clientes, e frequentemente expostos a práticas desleais ou confusas.

Poupar, investir e gerir bem a carteira são uma sequência necessária para o consumidor aumentar o seu bem-estar financeiro. Palavras sempre presentes no ADN da DECO PROteste Investe, que tem por missão garantir, também, a defesa dos interesses dos consumidores frente às práticas do setor, promovendo uma maior competitividade no mercado e na qualidade dos produtos financeiros.

Quais foram os principais desafios enfrentados no início? 

Desde logo, o grande desafio de ajudar o consumidor a comparar as várias opções disponíveis no mercado. Nas nossas análises, sempre ilustramos as diferenças e ganhos, que estão ao alcance de uma decisão informada para uma escolha acertada entre as várias opções disponíveis no mercado e de acordo com o perfil do investidor.

Este desafio acompanha-nos até aos dias de hoje. Por outro lado, a nível macroeconómico, o contexto colocava, então, importantes questões que agora nos parecem verdades inquestionáveis, mas que, à época, eram verdadeiras incógnitas.

Uma das interrogações que se colocava era a inclusão, ou não, de Portugal no designado pelotão da frente na criação do euro. Na altura, estávamos convictos de que o nosso País seria um dos fundadores da moeda única e que, devido aos critérios de convergência, o mais provável seria que as taxas de juro da dívida portuguesa, que eram bastante elevadas à época (rondavam 12% nos títulos a 10 anos), convergissem, entrando numa rota de descida.

Para beneficiar do elevado rendimento destes títulos de dívida e também da previsível valorização da sua cotação em bolsa, em face da estimada convergência em baixa das taxas de juro de mercado, recomendamos este investimento em alternativa aos fundos de investimento disponíveis no mercado.

Os gestores estavam demasiado defensivos e receosos, pois o ano de 1994 registara uma subida acentuada dos juros que penalizou os fundos. Estes estavam com maturidades muito curtas, pelo que não seriam uma boa aposta. Por isso, aconselhámos o investimento direto em Obrigações do Tesouro. Foi uma boa recomendação que permitiu bons rendimentos.

Como evoluiu a Proteste Investe ao longo destas três décadas? 

A Proteste Investe começou por ser Poupança Quinze. Depois, PROTESTE POUPANÇA e mais tarde evoluiu para PROTESTE INVESTE. Mais recentemente, a edição impressa passou a designar-se CARTEIRA.

Desde o início, a principal missão da DECO PROteste Investe é ajudar o consumidor a gerir as suas poupanças. Passaram 30 anos e muito mudou.

Diariamente, 150 ações nacionais e internacionais são seguidas e analisadas pela DECO PROteste Investe. O número de fundos e ETF, que acompanhamos e avaliamos, ronda atualmente os 5900, repartidos pelas diferentes categorias e mercados.

É grande o universo de produtos financeiros analisados, mas a DECO PROteste Investe não se limita a avaliar os diversos produtos financeiros existentes nos vários domínios.

Quer promover também uma maior competitividade e qualidade no mercado, pelo que procura encontrar parcerias que correspondam sempre às melhores soluções disponíveis para o consumidor, oferecendo vantagens exclusivas acrescidas aos subscritores.

É o caso, por exemplo, dos depósitos a prazo, pois sabemos que, em média, rendem pouco, ficando abaixo da inflação. É de destacar também o fundo PPR DECO PROteste que resulta de uma parceria com a GoldenSGF.

Além das vantagens exclusivas para os nossos subscritores, o que torna este PPR bastante diferente de outros é a sua política de investimento inspirada na estratégia de investimento dinâmica da DECO PROteste Investe, que devido à sua exposição aos mercados de ações internacionais, tem um bom potencial de rentabilidade a longo prazo.

Quais foram as maiores mudanças registadas nos mercados financeiros? 

Em 30 anos, não será um exagero dizer que o mundo mudou. Houve avanços tecnológicos significativos, com forte impacto na forma de transacionar e negociar nos mercados financeiros, o que levou a uma maior globalização das bolsas.

Surgiram também novos ativos financeiros que facilitaram a democratização do acesso aos mercados, como foi o caso dos ETF e criptoativos, e mudanças na regulamentação.

Nos últimos anos, as plataformas de investimento digitais ganharam bastante popularidade. A facilidade na abertura de contas e a rápida negociação tornaram estes serviços atrativos, na medida em que permitem ao investidor maior autonomia, tornando o processo de investimento mais acessível.

Segundo a Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados, este tipo de serviço registou um crescimento significativo entre os investidores mais jovens, coincidindo com o período da pandemia da Covid-19. Atualmente, os jovens representam entre 30% e 35% do total dos investidores que utilizam estas plataformas.

Ainda no âmbito da tecnologia, tivemos a automação de processos e algoritmos de trading que passaram a ser usados nas transações, revolucionando a maneira como os mercados financeiros operam. As transações passaram a ser realizadas de uma forma muito rápida, com base em dados processados em tempo real.

Com a digitalização e o surgimento das plataformas de negociação online, deu-se uma democratização do acesso aos mercados financeiros, facilitando o investimento em ações e em novos ativos financeiros, como os ETF e as criptomoedas. Isso gerou novas oportunidades, mas também novos riscos.

E quais os acontecimentos mais marcantes neste período? 

Tivemos várias crises neste período, desde o rebentamento da bolha tecnológica das “dot.com”, em 2000, à grave crise financeira internacional de 2007/8 que arrastou o Mundo para uma recessão global. Esta dupla crise dos mercados, conhecida como a “década perdida", foi muito longa e demorada. Com efeito, a bolsa norte-americana só recuperou para o ponto prévio inicial em maio de 2013, portanto mais de 12 anos depois.

Nos anos seguintes à recessão económica de 2009, alguns Governos foram levados a fazer aumentos desmesurados de despesa que levaram a descontrolos financeiros em alguns países europeus. Foi o caso de Portugal que teve de recorrer ao auxílio financeiro ao FMI e UE, em abril de 2011.

A crise da dívida soberana do euro e os juros da dívida pública portuguesa a ultrapassar os 15% agravaram ainda mais a situação. Foi um período muito duro e difícil para Portugal. Ao invés, a queda bolsista resultante da pandemia, que grassou em 2020, foi considerada a crise dos mercados que teve recuperação mais rápida. Ficou “debelada” ao fim de 4 meses, apesar de ter gerado uma grave recessão económica nesse ano.  

Mais recentemente, fomos surpreendidos pela invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. A grande queda bolsista desse ano, o disparo da inflação para níveis estratosféricos e a consequente subida das taxas de juro penalizaram as cotações dos títulos de dívida. Esse ano de 2022 foi bastante duro para os investidores, quer nos mercados acionistas, que registaram quedas acentuadas, quer nos mercados de obrigações.

Esta foi uma coincidência muito rara pois, em regra, os mercados de ações e de obrigações tendem a evoluir em sentido contrário. Isso penalizou duplamente os investidores.

Felizmente, os mercados recuperaram graças às boas valorizações dos mercados em 2023 e 2024. Chegados a 2025, o ano começou com as bolsas a subir e os investidores a reagirem de forma positiva à tomada de posse do presidente norte-americano, mas a grande incerteza gerada pela errática política tarifária de Trump levou os índices a cair no vermelho.

Com o lançamento das hostilidades de uma guerra comercial, as bolsas caíram fortemente com os receios de uma possível recessão nos EUA, embora esse nos pareça um cenário pouco provável.

Atualmente, quais são os principais desafios para quem investe? 

A incerteza é grande e a volatilidade elevada deverá continuar nos próximos trimestres. Contudo, a história mostra-nos que, no longo prazo, os mercados acabam sempre por recuperar das crises, pelo que nestes momentos mais conturbados é preciso manter sangue-frio e não vender em pânico.

Caso contrário, as perdas realizadas são mesmo uma certeza, e ao saltar para fora do mercado o investidor já não irá mais beneficiar da posterior recuperação. Além disso, tentar adivinhar os melhores momentos para comprar e vender raramente resulta. O ideal é investir de forma disciplinada e regular porque o tempo atenua o risco.

Em vez de tentar adivinhar os melhores momentos para entrar no mercado, deve investir um valor fixo regularmente para reduzir o impacto da volatilidade. Em vez de reagir a cada oscilação, deve manter-se fiel à estratégia de longo prazo.

Nesta conjuntura conturbada de geopolítica e guerra comercial, é crucial manter uma carteira de investimentos bem diversificada por mercados e por tipo de ativos, que seja adequada ao perfil do investidor e ao risco que está disposto a aceitar.

Se pretender reduzir o risco da sua carteira, pode reforçar a exposição às obrigações. Atualmente, a estratégia de investimento equilibrada da DECO PROteste Investe tem uma exposição de 60% aos mercados de obrigações e de 40% a ações.

O que faz a DECO PROteste Investe para continuar a destacar-se pela relevância, qualidade e credibilidade das suas análises num mundo de informações rápidas e de redes sociais?

Prosseguimos sempre empenhados na nossa missão de ajudar os consumidores a tomarem decisões financeiras informadas e a gerirem as suas poupanças. A DECO PROteste Investe coloca à disposição dos consumidores informação credível e análises rigorosas e independentes que incluem o comparativo de todos os produtos financeiros disponíveis no mercado.

Procuramos encontrar as melhores soluções que ajudem o consumidor a construir e gerir o seu património. Utilizamos metodologias rigorosas, com provas dadas, e contamos com uma equipa de especialistas na área das finanças.

Graças à nossa integração na Euroconsumers, a entidade que agrega as organizações de consumidores de Portugal, Bélgica, Itália, Espanha e Brasil, beneficiamos do trabalho conjunto de uma vasta equipa de cerca de 30 especialistas. Temos uma experiência acumulada de 30 anos a promover a literacia financeira dos portugueses.

Qual o melhor conselho de investimento dado pela DECO PROteste Investe nestes 30 anos? 

Passando em revista a nossa experiência de 30 anos, daria destaque a alguns dos conselhos que demos em dois tipos de ativos, ações e obrigações. Como já mencionei, um dos bons conselhos da DECO PROteste Investe foi a recomendação para investir nas Obrigações do Tesouro, especialmente em dois momentos muito marcantes.

O primeiro foi início da Poupança Quinze, em abril de 1995, quando previmos uma descida das taxas e a consequente valorização destes títulos. Entre 1995 e 1999, data da entrada de Portugal no euro, as taxas de juro de longo prazo recuaram de 12% para 4%, fazendo disparar as cotações em bolsa das Obrigações do Tesouro e gerando ganhos acumulados de 113 por cento.

O segundo momento foi em 2012, após o resgate financeiro da troika (FMI, BCE e UE), numa altura em que grassava a crise de dívida soberana europeia. Tudo apontava, na nossa perspetiva, para a resiliência do euro e uma descida a médio prazo das taxas.

Com efeito, depois de os juros da dívida pública portuguesa de longo prazo atingirem 15% no início de 2012, as taxas de juro das Obrigações do Tesouro (OT) de longo prazo caíram para 2,2% em três anos, valorizando as cotações destes títulos, o que gerou um ganho de 200% nesse período.

Como não era uma tarefa simples comprar OT, a DECO PROteste Investe estabeleceu uma parceria com a Optimize, em 2011, para ajudar os subscritores a aproveitar esta oportunidade única de investir em dívida pública nacional cotada. 

Nas ações, revendo os anos passados, realço a assertividade do nosso conselho em maio de 2014, quando houve um aumento de capital do BES: não subscreva, venda as ações! O mesmo se passou em relação ao aumento de capital do Banif: não subscreva, venda as ações!  

Passando a tempos mais recentes, de entre as cerca de 150 ações nacionais e internacionais que a DECO PROTeste Investe acompanha e avalia, temos atualmente 49 conselhos de compra.

Entre estes, destaco a nossa recomendação de compra da Jerónimo Martins, que emitimos no final de outubro de 2024. Em apenas cinco meses, rendeu 24,2 por cento.

Portanto, um rendimento muito acima do valor de 5,1% obtido pelo índice PSI no mesmo período. Outro exemplo é a empresa francesa Schneider, cuja recomendação de compra demos em março de 2020.

Em cinco anos, proporcionou uma rentabilidade acumulada de 164,8%, com dividendos incluídos (contra 76,2% do índice de ações europeias Stoxx Europe 600) o que corresponde a um ganho médio anual de 22,3 por cento.

Como evoluíram as fraudes de investimento em 30 anos? 

As fraudes no investimento registaram uma crescente sofisticação, acompanhando as mudanças tecnológicas e o aumento da globalização dos mercados. Na década de 90, eram feitas de forma tradicional, por meio de esquemas Ponzi, com investimentos falsos e ofertas enganosas.

A maioria das fraudes envolvia interações diretas, com telefonemas, correios e até encontros presenciais. Nos anos 2000, com o crescimento da internet e mais acesso a dados, as fraudes passaram a utilizar e-mails e sites para atrair investidores, abrangendo um público mais vasto. Surgiram sites falsos que imitavam as corretoras credenciadas, levando os investidores a realizar depósitos em contas fraudulentas.

Com o surgimento das criptomoedas, sobretudo a partir de 2010, uma nova era de fraudes encontrou um terreno fértil devido à descentralização e falta de regulamentação. No início de 2017, as ICO (Oferta Inicial de Moeda) tornaram-se uma forma de levantar fundos, mas muitos projetos eram fraudulentos. Neste mercado das criptomoedas, há fraudes em que grupos manipulam o preço de uma moeda digital.

Há também hackers e golpistas que criam plataformas falsas ou fornecem carteiras digitais falsas para roubar criptomoedas dos investidores. Além das criptomoedas, o mercado de ações e o mercado forex tornaram-se alvos de fraudes sofisticadas, como o trading automatizado: com o uso de algoritmos, surgiram "robôs de investimento", prometendo lucros automáticos com base em trades que, na verdade, eram configuradas para roubar dinheiro do investidor.

Nos últimos anos, as redes sociais têm sido um terreno fértil para golpistas alcançarem um público amplo. Influenciadores digitais e anúncios pagos no Facebook, Instagram e YouTube são por vezes usados para promover investimentos fraudulentos ou produtos falsos. Por vezes, apresentam-se como especialistas financeiros ou "influenciadores" para depois vender cursos ou serviços de investimento, sem nenhum valor real.

Uma das últimas inovações nas fraudes de investimento é o uso de inteligência artificial (IA) e deepfakes para enganar as vítimas em que são usados vídeos ou áudios falsos de figuras públicas para promover um investimento ou plataforma falsa e assim tornar as fraudes mais convincentes.  

Em suma, as fraudes de hoje são mais sofisticadas, mais fáceis de disseminar e, muitas vezes, mais difíceis de identificar, pelo que os investidores deverão ser cautelosos e devem procurar estar bem informados.  

Como regra, qualquer proposta de investimento que prometa rendimentos rápidos e garantidos muito acima do normal deve ser recebida com desconfiança. Sobretudo quando se trata de investimentos de risco elevado, como Forex ou criptomoedas.

No mundo real, um rendimento elevado implica sempre algum risco. Se se vir numa situação em que lhe propõem um determinado investimento, tome atenção às seguintes técnicas: pressão para decidir rapidamente, com o argumento de que é a última oportunidade para investir; há erros de português; são prometidos retornos elevados, sem risco, ou rentabilidades contínuas independentemente das condições dos mercados; a explicação do produto é vaga e a ficha detalhada do investimento inexistente.

Muito importante também: nunca invista em produtos financeiros que não conhece ou não entende. Procure estar bem informado e esclareça todas as dúvidas antes de investir. Aceda às nossas análise e conselhos.  

Se tiver dúvidas, contacte o nosso serviço telefónico de informação financeira: 218 418 789. 

 

Entrevista de Myriam Gaspar.

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