As bolsas mantiveram em 2024 a tendência positiva encetada em 2023, a beneficiar do boom da inteligência artificial (IA), do controlo da inflação, dos cortes de taxas de juro, de um lado e do outro do Atlântico, e da resiliência da economia americana. Contudo, houve grandes diferenças entre os mercados.
Nos EUA, os índices subiram de forma contínua, com o S&P 500 e o Nasdaq a fixarem máximos e a valorizarem 31,6 e 37,2%, respetivamente (em euros), estimulados sobretudo pelo setor tecnológico (+46,7%).
Na Europa, os ganhos foram muito inferiores, já que o peso deste setor nos índices é menor e as dificuldades da economia chinesa penalizaram o crescimento das exportações europeias. O Stoxx Europe 600 ganhou apenas 6% e Paris (-2,2%) fechou no vermelho, vítima da crise política do país e do elevado peso da LVMH (-13,4%) no índice (10%). Pelo contrário, Frankfurt (+18,9%) liderou os ganhos e atingiu máximos, graças às subidas de alguns pesos pesados, como a SAP (software) e a Allianz (seguros), apesar da fraqueza da economia.
Na China, o mercado subiu 18,9%, graças aos estímulos económicos, mas a crise imobiliária do país deprime o consumo das famílias, que preferem poupar em vez de consumir.
Lisboa em contraciclo, caiu 0,3% em 2024
Num contexto global positivo para as bolsas, a praça nacional acabou por desiludir, ao cair 0,3% em 2024. Em causa está sobretudo a mau desempenho do grupo EDP (EDP Renováveis: -44,9% e EDP: -32,1%), muito penalizado pelas dificuldades do setor das energias renováveis: atrasos nos projetos, menores perspetivas de crescimento após a eleição de Donald Trump…. A penalizar o índice PSI esteve também a Jerónimo Martins (-19,9%), cujas margens estão sob alguma pressão devido à queda da inflação alimentar. Porém, a subida anterior do título tinha sido significativa. Por sua vez, a Mota-Engil (-26,4%) corrigiu dos fortes ganhos do ano anterior.
Pela positiva, destaque para o BCP (+69,4%), que liderou as subidas e atingiu um novo máximo desde 2016, com o aumento da margem financeira a estimular os lucros.
Seguiram-se os CTT (+54,7%), cujos lucros têm beneficiado do crescimento assinalável da área de Expresso e Encomendas, cujas perspetivas se mantém muito favoráveis.
A fechar o pódio das subidas esteve a Galp (+19,6%), que apesar da relativa debilidade do preço do petróleo, beneficiou da descoberta de ouro negro na Namíbia, cujos sucessivos testes confirmam a existência de grandes quantidades de petróleo de boa qualidade.
Nota final para as valorizações de 15,9% da Altri, 12% da Ibersol e 10,1% da Novabase.
Inteligência Artificial estimula bolsas
O setor tecnológico (+41,8% a nível global) e sobretudo as empresas ligadas ao negócio da Inteligência Artificial lideraram os ganhos. Destaque para as valorizações da Meta Platforms (+76,5%), da Tesla (+73,4%), da Amazon (+54%) e da Alphabet A (+44,5%). Menos presente na IA, a Apple (+38,8%) foi menos dinâmica. Porém, a estrela do ano foi a Nvidia (+189,3%), muito presente com os seus chips na IA.
O setor da distribuição (+38,3%) foi outro dos vencedores do ano, a beneficiar sobretudo do dinamismo do consumo americano.
O setor da defesa subiu 23%, a beneficiar das tensões geopolíticas internacionais, ao passo que o financeiro ganhou 25,5%, graças aos cortes de taxas e à subida das bolsas. A BlackRock ganhou 34,7%. A queda das taxas de juro estimulou também outros setores como as telecomunicações (+13,1%).
O setor automóvel caiu 19,1% na zona euro, devido às dificuldades na China, à ascensão de novos fabricantes chineses e ao excesso de capacidade nas fábricas europeias.
Perspetivas para 2025
O crescimento dos lucros das empresas e taxas de juro mais baixas continuam a ser fatores que suportam os ativos de risco em 2025. Contudo, não se esperam ganhos tão elevados como nos dois últimos anos.
Nos EUA, Trump deverá aumentar as medidas de apoio à economia (cortes de impostos, desregulação, energia mais barata), o que beneficiará as empresas e as famílias. Mantemos a aposta nas ações americanas, que negoceiam a 22 vezes os lucros esperados, um nível decente face ao dinamismo das empresas e à solidez dos seus lucros. Porém, o mercado americano está muito concentrado em alguns grandes títulos, o que pode causar problemas, e quaisquer más notícias podem originar correções, já que as expectativas são altas.
Dado o estado das economias, não vemos um rápido catalisador nas ações europeias, até porque a chegada de Trump à Casa Branca pode levar rapidamente a uma nova vaga de medidas protecionistas, negativas para os exportadores europeus. Embora estas notícias estejam incluídas nos preços (mercado europeu negoceia a 13 vezes os lucros esperados), mantemos as ações europeias fora das carteiras de fundos. Um desempenho positivo dos índices dependerá mais das dinâmicas setoriais.
A nível setorial, após um ano muito bom para a IA, pensamos que o crescimento poderá ser mais equilibrado entre setores.
Geograficamente, recomendamos também exposição à Ásia (Indonésia, Coreia do Sul, entre outros) para captar o crescimento da região.
O ano em bolsa
+189,3%
Impressionante subida da Nvidia em 2024, apesar do seu desempenho no segundo semestre ter sido claramente inferior ao primeiro, já que há dúvidas sobre a capacidade de o grupo manter o elevado ritmo de crescimento durante muito mais tempo.
+37,2%
Após a forte subida de 38,6% em 2023, o Nasdaq repetiu a dose em 2024, tendo ganho 37,2% (em euros) e negociando pela primeira vez acima dos 20000 pontos. As perspetivas continuam favoráveis, mas não se preveem ganhos tão elevados em 2025.
3%
O Banco Central Europeu cortou as suas taxas de juro diretoras por quatro ocasiões em 2024, para o nível atual de 3%, e deverá manter a tendência em 2025. Nos EUA, a Reserva Federal só efetuou três cortes e deu sinais de abrandamento do ritmo de descida.
2625 $
O ouro registou uma forte subida de 27,1% em dólares (35,6% em euros) em 2024, tendo fixado sucessivos máximos. A incerteza política e económica a nível global contribuiu para a aposta dos investidores neste ativo de refúgio.
93 381 $
A cotação da Bitcoin fechou o ano acima dos 93 000 dólares, mais do duplicando de valor face a 2023. A criptomoeda fixou diversos máximos históricos ao longo do ano, sobretudo após a eleição de Donald Trump, tendo chegado a ultrapassar os 106 000 dólares em meados de dezembro.
Top subidas
Nvidia +189,4%
Teva Pharma +125,2%
Walmart +83,4%
Meta Platforms +76,5%
Tesla +73,4%
Ralph Lauren +70,9%
BCP +69,4%
Corning +66,5%
CTT +54,7%
Amazon.com +54,0%
Top descidas
Bpost -57,8%Intel -57,4%
Atenor -54,3%
Euroapi -49,7%
Radius Recycling -46,2%
EDP Renováveis -44,9%
Bayer -42,6%
Stellantis -40,5%
Melexis -38,1%
EDP -32,1%
O ano em números
Principais Bolsas | |
Europa Stoxx 600 | +6,0% |
EUA S&P 500 | +31,6% |
EUA Nasdaq | +37,2% |
Lisboa PSI | -0,3% |
Frankfurt DAX | +18,9% |
Londres FTSE 100 | +10,8% |
Tóquio NIKKEI 225 | +14,1% |
Variação das cotações em 2024 em euros.
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