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“É crucial diversificar a carteira”

joao sousa

As tecnológicas norte-americanas deverão continuar a impulsionar os mercados, em 2025, mas os ganhos serão mais moderados.

Publicado em: 09 dezembro 2024
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joao sousa

As tecnológicas norte-americanas deverão continuar a impulsionar os mercados, em 2025, mas os ganhos serão mais moderados.

Para João Sousa, coordenador da DECO PROteste Investe, em 2025, não são expectáveis ganhos tão acentuados nos mercados acionistas. Na Europa, o fraco dinamismo económico é um risco.

Em 2024, as taxas de juros baixaram e o ano correu bem para as bolsas. Os investidores podem manter-se confiantes, no próximo ano?

Parece já estar vencida a luta contra a inflação elevada a nível global. Desde 2023, essa foi a principal batalha dos principais bancos centrais dos países desenvolvidos que, todavia, já iniciaram, no decorrer deste ano, o ciclo de descidas das taxas de juro diretoras.

Esta mudança favoreceu a procura de ativos de risco e impulsionou os principais mercados de ações. As bolsas americanas estiveram, uma vez mais, em destaque. Em 2024, o índice S&P 500 ganhou 32%, com o setor de tecnologia a impulsionar o mercado com uma subida de 41 por cento. As grandes estrelas continuaram a brilhar, como a Nvidia (+192%), Meta (+70%), IBM (+45%) e Amazon (+43%).

A Europa, menos competitiva, privada das grandes empresas tecnológicas, valorizou menos. O índice Stoxx Europe 600 ganhou 6,5%, mas a bolsa de Paris ficou negativa (-4,1%) enquanto Lisboa permaneceu na linha de água (+0,3 por cento). Estes valores tão díspares e em claro contraste com o índice bolsista mundial (+26%) demonstram que o investimento não se deve confinar ao mercado nacional. É preciso não esquecer os riscos geopolíticos e não podemos nunca excluir correções dos mercados.

Tendo em conta as significativas subidas das bolsas nos últimos anos, é ainda mais crucial diversificar os ativos nas carteiras de investimento. Atualmente, a nossa estratégia de investimentos equilibrada é composta em partes iguais (50/50%) por mercados de ações e obrigações.

A eleição de Donald Trump irá impactar positiva ou negativamente os mercados em 2025?

Os mercados reagiram positivamente às promessas de Trump porque os investidores antecipam uma política que é mais favorável às empresas americanas, através de medidas de apoio, redução dos impostos e um quadro regulatório menos pesado.

Contudo, há ainda muita incerteza sobre o nível de implementação do anunciado plano de tarifas sobre produtos importados que, de acordo com o que já foi divulgado, serão de 10%, em geral, mas poderão atingir os 25% nas compras ao Canadá e ao México e 60% sobre os produtos oriundos da China. A redução de impostos, o aumento do défice e estas tarifas tendem a causar maiores pressões inflacionistas que, caso se concretizem, poderão levar a Reserva Federal norte americana a rever a sua política e não prosseguir com o ritmo esperado de cortes das taxas de juro. Isso pode ter um efeito negativo na procura de ativos de risco e na valorização das bolsas.

Portanto, a inflação, sobretudo nos Estados Unidos, é uma variável a seguir com atenção e pode ser um risco para os mercados em 2025, para além de um possível agravamento das tensões geopolíticas e conflitos comerciais. Devemos ser prudentes. Não é de esperar, de todo, valorizações tão acentuadas em 2025 como as acumuladas em 2024. 

As empresas tecnológicas continuarão a ser o principal motor dos mercados?

As grandes tecnológicas americanas, impulsionaram, de facto, os mercados bolsistas americanos em 2024, como foi o caso da Nvidia que valorizou 192%! Em 2025, as tecnológicas mais ligadas à inteligência artificial deverão ainda beneficiar da continuação da progressão da IA, mas, depois das fortes valorizações do último ano, não devemos esperar ganhos tão elevados.

Outro setor que poderá beneficiar da crescente utilização da IA é o da saúde, que tem a seu favor o aumento da esperança de vida da população. O setor financeiro, nos EUA, também valorizou, com a perspetiva da menor regulação prometida por Trump. A banca europeia, e em particular a banca nacional, está, por sua vez, exposta à descida das taxas de juro que tem um impacto negativo na margem. Já as utilities, que são, em geral, de capital intensivo, podem beneficiar da descida das taxas de juro devido a menores encargos sobre o endividamento.

O conflito na Ucrânia já ultrapassou os mil dias e há um clima de tensão derivado da utilização de mísseis de longo alcance. Ao contrário do que aconteceu em fevereiro de 2022, quando iniciou o conflito, os mercados não reagiram. Esta “serenidade” é temporária?

De facto, as principais bolsas valorizaram bastante em 2023 e 2024 e até parece que os investidores se tornaram poucos sensíveis às tensões geopolíticas e ao evoluir de uma guerra, que continua no seio da Europa. Senão, vejamos. No início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, as principais bolsas corrigiram no imediato, mas logo recuperaram. No final do mês seguinte, já estavam, na sua maioria, acima dos valores do dia anterior ao conflito.

A explicação reside, em primeiro lugar, na antecipação pelos investidores de que o conflito não iria escalar à escala mundial. Além disso, do ponto de vista económico, a Ucrânia é uma economia muito pequena e a Rússia representa apenas 3% do PIB mundial.

Os investidores continuam a considerar muito pouco provável o escalar da guerra. Embora esse cenário não possa ser totalmente excluído, não nos parece muito provável. Todavia, para que essa aparente serenidade bolsista se esfume, basta que a probabilidade atribuída a esse cenário aumente muito, nem sendo sequer preciso que a realidade o desminta… 

Vários países da Europa enfrentam problemas políticos e económicos. Quais são as perspetivas para os investidores que investem nos mercados europeus, em 2025? 

Na Europa, o fraco dinamismo económico representa o risco mais significativo. De acordo com as últimas estimativas do FMI, em 2024, a Zona Euro crescerá apenas 0,8% e 1,2%, no próximo ano, contra 2,8% e 1,8% dos Estados Unidos, no mesmo período. A economia europeia enfrenta uma contínua perda de competitividade, que se agravou com o forte aumento dos custos energéticos, na sequência da guerra na Ucrânia, sobretudo na Alemanha, pois a locomotiva europeia estava muito dependente do fornecimento do gás russo.

Dado o fraco crescimento europeu, e com a inflação perto do objetivo de 2% do Banco Central Europeu, é de esperar que este prossiga os cortes de taxas de juro, embora as eventuais maiores dúvidas sobre o que vai fazer o congénere norte-americano possam não ajudar a essa decisão.

Por um lado, a descida das taxas será positiva para os mercados, reduzindo os custos financeiros das empresas e aumentando a procura de ativos de risco. Por outro lado, também não podemos esquecer o endividamento elevado de alguns países, como a França e a Itália, que geram alguns receios de uma eventual nova crise do euro, assim como o acréscimo de incerteza associada à instabilidade política nas duas maiores economias da União Europeia, devido às eleições que irão ocorrer na Alemanha e, eventualmente, em França.

Em suma, nas ações há que ser muito seletivo e, em termos de mercados, os fundos de ações europeias não estão incluídos nas nossas carteiras de investimento.                                                                                                                                    

O Governo português baixou as taxas de imposto sobre as mais-valias da venda de ações. É suficiente para atrair mais investidores para a bolsa nacional?

Com o objetivo de incentivar a poupança de longo prazo e o investimento noutros produtos financeiros, que não apenas os depósitos a prazo e os Certificados de Aforro, o Governo aprovou a redução do imposto que incide sobre as mais-valias resultantes da venda de ações, fundos de investimento ou outros ativos negociados no mercado de capitais.

Caso o investimento perdure entre um período superior a dois e inferior a cinco anos, 10% do rendimento é excluído de tributação, o que corresponde a uma taxa de imposto de 25,2% em vez dos 28 por cento. Entre cinco e oito anos, 20% do rendimento está isento, o que equivale a uma taxa de 22,4 por cento. Se aplicar por mais de oito anos, a lei exclui 30 por cento, o que corresponde a uma taxa de imposto de 19,6 por cento.

Esta medida vai no sentido certo de estimular a poupança de longo prazo, mas ficou claramente aquém da vantagem fiscal de outros produtos, como PPR e seguros de capitalização. Mais incompreensível é a isenção total de tributação de mais-valias continuar a ser aplicada apenas às criptomoedas detidas por mais de 365 dias. Isso não estimula a poupança de longo prazo e dá um sinal errado aos investidores.

Os portugueses continuam a preferir depósitos a prazo. Segundo os últimos dados da ASF, a subscrição de PPR caiu significativamente. É preocupante que não se arrisque mais, agora que as taxas dos depósitos estão de novo a baixar?

De facto, os depósitos de particulares continuam a aumentar e atingiram, de acordo com os últimos dados do Banco de Portugal, o montante máximo de 189,3 mil milhões de euros. São a aplicação financeira preferida dos portugueses, pese embora as taxas de juro estarem a descer e depois de impostos ficarem, em média, abaixo da inflação estimada de 2%, para 2025 e 2026. Significa que quem aplica em depósitos, em média, só está a perder o valor do seu capital.

Ao invés, os montantes totais investidos em PPR têm vindo a cair. Durante 2023, diminuíram 18,8% face ao ano anterior. Uma queda acentuada que só vem reforçar a necessidade de criar estímulos à poupança de longo prazo, para a reforma.

Quem investe a mais de cinco anos e quer obter melhores resultados, deve também incluir os mercados de ações na sua carteira e não escolher apenas produtos de capital garantido, que rendem menos a longo prazo. Deve privilegiar a rentabilidade e não focar-se unicamente na segurança. 

Entrevista de Myriam Gaspar.

 

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