A eleição de Trump teve um reflexo positivo nos mercados de ações norte-americanos. Os investidores esperam desregulamentação e cortes de impostos, sobretudo sobre as empresas. Como reverso da medalha, as políticas de Trump, nomeadamente em termos de tarifas e de imigração, são potencialmente inflacionistas.
Maior inflação implica que a Reserva Federal não poderá cortar as taxas diretoras de forma tão acentuada e, no extremo, até poderá ser forçada a aumentá-las. De qualquer forma, a reação foi a subida das taxas de longo prazo, com efeitos negativos nas obrigações, mas que levaram o dólar a ganhar terreno face à maioria das divisas internacionais.
A Europa, por seu turno, está numa situação mais difícil. Por um lado, eventuais tarifas de Trump penalizarão o importante setor exportador europeu. Por outro, as duas maiores economias da zona euro já acumulam problemas internos.
A Alemanha vai novamente a eleições quando a sua economia está estagnada. A economia em França não está tão débil como a germânica, mas os gauleses enfrentam um elevado défice orçamental, taxas de juro iguais às da Grécia, e o Governo de Paris também está com um pé de fora.
Perante esta evolução do enquadramento político, procedemos a alterações às carteiras recomendadas.
EUA lidera ganhos nos fundos de ações
Em novembro, os ganhos nos fundos de ações dos EUA foram assinaláveis. O Amundi NASDAQ-100 ETF (LU1681038243) valorizou, 8,2% e o UBS S&P 500 ESG ETF (IE00BHXMHL11) atingiu 8,8%.
Como prevíamos, a eleição de Trump e o America First seria visto como particularmente favorável às PME americanas, e a categoria obteve um ganho mensal de 10,5%.
Igualmente com um excelente desempenho, encontramos o iShares MSCI Canada ETF (IE00B52SF786) com uma progressão mensal de +9,6%. Apesar das recentes declarações de Trump a visar os parceiros da USMCA, o Canadá será o país que deverá ter menos preocupações com as tarifas porque não é fonte geradora de imigração nem rival geopolítico dos EUA.
Os fundos dedicados às ações da zona euro ficaram apenas à tona de água (em média -0,1%). Durante boa parte do ano até ganharam terreno, embora menos do que os dos EUA, mas o fosso agora alargou-se. O ganho, desde o início do ano, das ações da zona é de apenas 6% contra 30% da categoria dedicada aos EUA.
Fundos emergentes em queda
A subida das taxas de juro do dólar dos EUA, em conjunção com a ameaça tarifária, não são boas notícias para os mercados emergentes. Assim, sem surpresa, ao longo do mês passado predominaram as quedas. O Fidelity Indonesia A (LU0055114457) perdeu 3,1%, o iShares MSCI Mexico Capped ETF (IE00B5WHFQ43) recuou 0,4% e o Amundi MSCI Brasil ETF (LU1900066207) caiu 4,5%.
No caso dos mercados latino-americanos, as quedas têm sido uma constante ao longo dos últimos meses e as perdas acumuladas superam os 22% desde o início do ano. As ações mexicanas foram penalizadas por uma controversa reforma judicial e pela perspetiva de que o próximo inquilino de Washington fosse Trump e a sua invetiva virada contra a fronteira sul dos EUA.
As ações brasileiras, por seu turno, têm estado sob pressão devido às dificuldades de Brasília para apresentar os desejados orçamentos equilibrados para os próximos anos.
Destaque ainda para a perda de 1,9% do fundo JPM Korea Equity (LU0301638341). A bolsa de Seul tem registado um desempenho dececionante, apesar do seu cariz tecnológico. E a situação da Coreia do Sul piorou já no início de dezembro com uma grave crise política.
Fundos de obrigações em alta
Se num primeiro momento, as taxas de juro americanas subiram, no total do mês de novembro o panorama acabou por ser bem diferente. Na maioria dos mercados, os juros acabaram o mês ligeiramente abaixo do início de novembro.
Ao mesmo tempo, o euro perdeu terreno para a generalidade das divisas, resultado do fraco desempenho económico que forçará o BCE a cortar mais os juros nos próximos meses.
A conjugação destes fatores foi bastante favorável para os fundos e ETF de obrigações. O ETF iShares $ Treasury Bond 7-10 year (IE00B3VWN518), que aplica em dívida soberana dos EUA, valorizou 3,8% em novembro. E mesmo sem efeitos cambiais, o ETF Xtrackers II iBoxx Eurozone Government Bond Yield Plus (LU0524480265), dedicado à dívida da zona euro, progrediu 2,2%.
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