Como ganhar 6% ao ano com apenas 2 ETF?

Hoje existem milhares de fundos e ETF disponíveis
Hoje existem milhares de fundos e ETF disponíveis
Hoje existem milhares de fundos e ETF disponíveis. A variedade é grande e pode confundir quem está a começar a investir. No entanto, pode montar uma carteira sólida, diversificada e fácil de gerir com apenas dois produtos.
Basta escolher os ETF certos, aplicar uma estratégia simples e manter-se disciplinado ao longo dos anos. Por um lado, a disciplina deve assentar num reforço regular do investimento (todos os meses ou trimestres).
Por outro, a disciplina implica uma abordagem de longo prazo: buy and hold (comprar e manter). O investidor deve estar preparado para ignorar as inexoráveis flutuações dos mercados. Não pode ceder ao pânico e vender no primeiro momento que as bolsas estiverem em queda.
A ideia é construir uma carteira com apenas dois ETF:
- 1 ETF de ações globais
- 1 ETF de obrigações globais
Esta combinação segue o modelo clássico 60/40. Aloca 60% a ações e 40% a obrigações. É uma das abordagens mais populares porque procura equilibrar rentabilidade a longo prazo e proteção do capital. 60% em ações proporciona crescimento do capital a longo prazo.
Historicamente, as ações têm oferecido rentabilidades superiores às obrigações, embora com maior volatilidade. 40% em obrigações introduz estabilidade e proteção em períodos de queda nos mercados acionistas.
Para aplicar escolher bem os ETF, deve seguir quatro regras:
1. Diversificação global
Escolha ETF que investem globalmente. Assim beneficia da evolução dos mercados mundiais sem tentar prever os vencedores.
2. Reinvestimento automático
Prefira ETF que reinvestem dividendos e juros. Esta característica acelera o crescimento da carteira, graças ao efeito de capitalização. Além disso, evita pagamento de IRS imediato sobre esses rendimentos.
3. ETF cotados em euros
A escolha de ETF negociados em euros elimina custos de câmbio na compra e venda.
4. ETF de direito europeu
Dê preferência a ETF regulados na Europa ao abrigo da diretiva UCITS. Estes ETF estão mais acessíveis para investidores particulares na maioria das corretoras.
Como referimos, para seguir esta estratégia basta escolher 1 ETF de ações globais e outro ETF de obrigações globais.
Contudo, mesmo dentro destas categorias, existem centenas de opções. Só em ações globais há mais de 500 ETF. Em obrigações globais, cerca de 70.
Selecionámos dois ETF que cumprem os critérios mencionados. São simples, eficientes e ideais para uma carteira de longo prazo. Identificamos ainda outras alternativas válidas para os ETF de ações globais.
Nas obrigações, as opções são mais escassas dado que a maioria dos ETF distribui rendimentos, uma característica pouco adequada para uma estratégia de longo prazo.
O ETF iShares MSCI World Screened UCITS ETF USD (ticker: SNAW) baseia-se no índice de ações globais MSCI World. Contudo, a gestora BlackRock seleciona um subconjunto de ações do índice com base em critérios ESG (ambiente, social e governação).
Apesar destas restrições ESG, a vertente de sustentabilidade não significa a exclusão total de determinados setores e o portfólio permanece muito bem diversificado. O ETF inclui mais de 1200 empresas cotadas de países desenvolvidos. Em termos setoriais, as ações das tecnológicas dominam sem surpresa (27%).
Segue-se o setor financeiro (19%), saúde (11%) e bens de consumo essencial (11%). Em termos geográficos, o maior peso é dos EUA (69%) seguido pela zona euro (9%) e o Japão (6%). Este ETF obteve um ganho médio de 14,2% por ano, nos últimos cinco anos.
Como boas alternativas dispõe também dos ETF Invesco Global Active ESG Equity (IE00BJQRDN15) e do JPM Global Research Enhanced Index Equity Active (IE00BF4G6Y48). O conhecido iShares Core MSCI World UCITS ETF (IE00B4L5Y983; tickers: IWDA, EUNL) é igualmente uma opção viável.
O Amundi Global Aggregate Bond UCITS ETF DR C (ticker: GAGG) dá preferência a obrigações soberanas (cerca de 58% da carteira), mas inclui outro tipo de emitentes, como empresas, agências governamentais, etc.
As obrigações possuem, pelo menos, uma emissão de 500 milhões de euros (boa liquidez) e são de emitentes financeiramente sólidos (não avaliados com rating de “lixo”). O mercado preferido é da dívida em dólares norte-americanos com 50%, seguido do euro com 21%. O ETF detém mais de 8400 títulos.
O produto acumulou perdas nos últimos anos devido à forte subida das taxas de juro ao longo de 2022. E mais recentemente, em 2025, foi penalizado pela depreciação do dólar dos EUA face ao euro.
Porém, as obrigações permitem reduzir o nível de risco global da carteira e a dívida poderá finalmente beneficiar do ciclo de cortes bancos centrais que se iniciou em 2024 e deve prolongar-se este ano e no próximo.
A compra dos 2 ETF e procedendo a reequilíbrios trimestrais (reajustar os pesos para 60/40), gerou uma rentabilidade de 6% ao ano nos últimos cinco anos. É um resultado assinalável para uma estratégia tão simples. Também foi consistente, tendo gerado 6,5% ao ano nos últimos três anos.
Este resultado foi conseguido apesar da forte queda das bolsas em 2022 e no pós-tarifas de Trump em 2025. Também ocorre apesar do mau momento que o maior mercado mundial de obrigações ainda atravessa com o recuo do valor do dólar.
Naturalmente, a estratégia de 2 ETF (60/40) ficou aquém do resultado do índice de ações global (100/0) e que gerou 14% por ano em cinco anos, mas o risco incorrido foi bastante menor.
Uma carteira de 2 ETF com esta repartição terá o mesmo desempenho no futuro? Não há garantias. Contudo, produtos com custos baixos (como os ETF) e índices abrangentes são escolhas adequadas para a maioria dos investidores.
Sobretudo são ótimos para dar os primeiros passos nos investimentos. E nada impede que venha a complementar esta carteira dual com outros ETF mais especializados e ir ao encontro das suas convicções de investimento.
Como sempre, todas as carteiras que dependem diretamente dos mercados financeiros envolvem o risco de perda de capital. Mesmo uma estratégia conservadora e diversificada não dá garantias absolutas. Contudo, se apostar numa ótica de longo prazo (mínimo de 5 anos) terá sempre uma elevada probabilidade de ter sucesso.