Ao contrário dos ETF tradicionais, que replicam conhecidos índices internacionais (MSCI World, S&P 500, Euro Stoxx, etc.), os ETF temáticos concentram a política de investimento numa “ideia” ou tendência.
A sua proliferação deveu-se ao surgimento mediático de várias megatendências e a promessa de captar o crescimento dessas ideias de futuro. Por isso, não se tendem a limitar a um setor económico tradicional, mas são transversais a várias indústrias para captar uma dinâmica global.
Há inúmeros exemplos: transição energética, envelhecimento demográfico, digitalização, robótica, inteligência artificial, cibersegurança, energias renováveis ou a blockchain…
Por exemplo, um ETF “Clean Energy” tenderá a incluir empresas produtoras de equipamentos de energia solar e eólico, utilities, fabricantes de baterias e até de semicondutores. Depois de um sucesso inicial, estes ETF temáticos estão a sair de cena e o dinheiro está a afluir para os produtos mais generalistas. Porquê?
Desilusões multiplicaram-se
Vários fatores explicam a diminuição da popularidade dos ETF temáticos. Primeiro, o efeito moda: entre 2020 e 2022, temas como “blockchain” e “alternative energy” atraíram massivamente capitais devido a desempenhos espetaculares.
Mas a realidade veio a derrubar as expectativas: elevada volatilidade e correções acentuadas arrefeceram o entusiasmo dos investidores. Recorde-se que 2022 foi ano de quedas e estes produtos sofreram bastante mais do que a média do mercado.
Aliás, ao tentar captar apenas uma tendência mediática é perigoso. Quando um tema se torna demasiado mediático já está geralmente sobrevalorizado em bolsa e acaba, quase sempre, por sofrer uma forte correção.
Sobretudo, é importante distinguir entre uma moda passageira (como a euforia em torno da legalização da canábis na América do Norte em 2019) e grandes tendências duradouras, como o envelhecimento da população.
O ETF AdvisorShares Pure US Cannabis chegou a cotar nos 50 dólares em 2021 e agora está abaixo dos 4 dólares, provando que um buzz rapidamente torna-se num fiasco.
Concorrência das ‘big tech’
Ao mesmo tempo, os ETF temáticos começaram a sofrer a concorrência do “core” dos mercados acionistas. Estes últimos têm oferecido elevados ganhos com mais estabilidade e comissões mais reduzidas.
A realidade é que índices como o Nasdaq 100, ou mesmo o S&P 500 e MSCI World, estão mais concentrados e passaram a representar o comportamento de tendências como a digitalização, semicondutores e a inteligência artificial. A Nvidia é paradigmática. Porque comprar um ETF temático quando os ETF generalistas captam a mega onda da IA e oferecem bons ganhos?
Menor diversificação, custos mais elevados
Enquanto um ETF setorial conta em média com 100 a 150 títulos, os ETF temáticos podem concentrar-se em apenas 20 a 30 empresas, tornando-os mais voláteis e, portanto, arriscados.
Os ETF temáticos apresentam igualmente custos anuais de gestão (TER) superiores aos dos ETF tradicionais. Em média, cobram entre 0,45% e 0,75% ao ano contra 0,03% a 0,20% de um ETF generalista.
ETF temáticos ainda valem a pena?
Sim, mas com prudência e consciência dos riscos. Os ETF temáticos permitem alinhar os investimentos com os valores ou expectativas do investidor. Também podem dar acesso a nichos de mercado difíceis de alcançar com a compra direta de ações (dificuldade de diversificação). Porém, escolha de um ETF deve enquadrar-se sempre numa lógica de longo prazo.
Algumas das tendências como a transição energética, envelhecimento, defesa, semicondutores ou cibersegurança resultam de alterações estruturais que se desenvolvem ao longo de décadas. Outras, ao invés, mudam e acabam como as coleções sazonais de moda.
Acompanhe as análises da DECO PROteste Investe para poder distinguir o duradouro do efémero.
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