Artigo

Como criar um fundo de emergência e onde o guardar/investir?

fundo emergencia

Para criar um fundo de emergência, coloque de parte o montante equivalente a seis salários, quantia para ficar meio ano sem trabalhar.

Publicado em: 02 maio 2025
Tempo estimado de leitura: ##TIME## min.

Partilhe este artigo

fundo emergencia

Para criar um fundo de emergência, coloque de parte o montante equivalente a seis salários, quantia para ficar meio ano sem trabalhar.

Saiba o que é um fundo de emergência, como calcular e onde guardar/investir para estar preparado para situações inesperadas. Crie o seu em 5 passos! 

O que é um fundo de emergência e qual a sua importância? 

Antecipar é, sem dúvida, a melhor forma de acautelar as finanças e fazer face a imprevistos. O hábito de ter uma reserva de capital era um hábito antigo das famílias, mas, com a banalização do crédito, foi-se perdendo. Todavia, tem inúmeras vantagens. Funciona não apenas como um bote de salvação em momentos difíceis, como também permite não ter de recorrer a poupanças destinadas a outros fins – por exemplo, a reforma – ou, pior ainda, endividar-se. 

Para quem investe em ações ou fundos de ações, ter um percalço, uma despesa inesperada (uma emergência médica ou o carro avariar), pode obrigar a vender os ativos na pior altura, como a atual, em que as bolsas estão em queda e em alvoroço. Além de perder dinheiro, pode sofrer penalizações fiscais (no caso de ser um PPR). 

Quando se vive financeiramente no limite, uma simples despesa extra pode transformar o orçamento num caos. Recorrer ao cartão de crédito é sempre a solução mais fácil, mas é uma opção cara, pois as taxas de juro são demasiado elevadas.

Muitas vezes, os créditos multiplicam-se, transformando-se numa bola de neve. Solução? Precaver-se. A criação do fundo de emergência é o alicerce das finanças pessoais.

Como calcular o valor ideal para o fundo de emergência?

A quantia que deve colocar de parte, por exemplo, irá depender das necessidades de cada pessoa ou família. Por essa razão, terá de ter em conta algumas variáveis, como o valor do salário, ou o montante das despesas mensais. O ideal é que permita ficar seis meses sem trabalhar. 

Quem não tem filhos ou um crédito à habitação pode não necessitar de um montante muito elevado. Consoante a situação, quatro salários podem ser suficientes, mas, por precaução, aponte para seis. 

Tenha atenção que este dinheiro não é para utilizar nas compras semanais ou na aquisição de algo que anda a namorar há algum tempo. Tampouco para pagar as férias ou a escapadela de fim de semana prolongado. Nada disso é considerado uma emergência. 

Reflita um pouco sobre as suas despesas de consumo. Emergência é tudo o que não pode prever, que escapa ao seu orçamento e à planificação das suas despesas mensais.

Onde guardar o fundo de emergência? 

Não guarde as poupanças do fundo de emergência em casa, num mealheiro ou qualquer esconderijo. Ter o dinheiro à mão é sempre uma tentação e termina quase sempre por ser utilizado noutros fins.

É, por isso, aconselhável criar uma conta apenas para essa finalidade. É certo que os produtos com maior liquidez, sem risco e com capital garantido são pouco rentáveis e dificilmente igualam ou superam a inflação. No entanto, a rentabilidade não é o objetivo principal do fundo de maneio, mas sim ter uma reserva sempre à mão. 

Ainda assim, não recomendamos que coloque mais do que o mínimo necessário, pois estaria a aplicar demasiados recursos em produtos de baixo rendimento, o que, a médio e longo prazo, se revelaria uma péssima estratégia. 

Onde aplicar/investir o fundo de emergência?

Como se trata de um montante reservado para imprevistos, é condição essencial poder ser mobilizado a qualquer momento, ou seja, que tenha elevada liquidez, seja facilmente resgatado e transformado em dinheiro. 

Por exemplo, há produtos financeiros que, desde o momento em que dá a ordem de resgate, demoram vários dias a liquidar. É o caso de alguns fundos de investimento. Além disso, a maior parte deles não têm garantia de capital e apresentam risco, pois dependem da cotação de títulos (ações e obrigações). Também por essa razão não são bons produtos para constituir o fundo de emergência. Suponha que necessitava resgatar numa altura em que os mercados estão a desvalorizar: iria perder muito dinheiro! 

Por isso, a segunda condição essencial para os produtos do fundo de emergência é terem baixo risco e capital garantido. Por último, uma terceira condição é optar, se possível, por produtos com rendimento igual ou acima da inflação, de forma a garantir que o dinheiro não perde valor real. 

Claro que nem sempre é possível, sobretudo em períodos de inflação elevada e baixas taxas de juro, mas, nesse caso, escolha aquele que tiver o melhor rendimento dentro dos produtos com elevada liquidez. Pelo menos garante que a perda de rendimento real é mínima.

Produtos recomendados

Produtos a evitar

  • Depósitos à ordem ou estruturados
  • Obrigações do Tesouro
  • Depósitos em moeda estrangeira
  • Certificados do Tesouro Poupança Valor
  • Seguros de capitalização
  • Fundos de tesouraria
  • Ações
  • Fundos de investimento, à exceção dos monetários euro
  • Criptomoedas

Cumprido o objetivo de ter uma almofada financeira, invista o capital excedente, se o tiver, noutros produtos mais rentáveis. Muitos portugueses, por medo ou desconhecimento de alternativas, deixam grande parte ou todas as suas poupanças em produtos de capital garantido, às vezes com a desculpa de que não sabem quando vão necessitar dele. 

A nossa recomendação é não ser demasiado conservador. Parta para outros voos no investimento. Caso contrário, a inflação irá corroer devagarinho as suas poupanças. 

Dito isto, lembre-se que o fundo de emergência é um dos pilares das finanças pessoais. Como tal, só deverá começar a investir depois de ter assegurada esta reserva de curto prazo. Caso contrário, poderá correr o risco de necessitar resgatar em caso de aperto e em condições nem sempre favoráveis. 

Como criar um fundo de emergência em 5 passos

  1. Faça contas aos gastos (fixos e variáveis) que tem por mês e calcule o valor que pode destinar ao fundo de maneio de forma a ser suficiente para viver seis meses. 
  2. Crie uma conta separada, com liquidez e, de preferência, que proporcione algum rendimento.
  3. Aplique entre 4 e 6 salários em produtos de capital garantido. Reforce a conta sempre que possível. Pode fazer transferências automáticas após receber o salário, para manter a consistência.  
  4. Evite gastos desnecessários e use o fundo apenas em emergências reais, evitando resgatar para viagens ou compras.
  5. Reavalie e ajuste a cada aumento de salário ou mudança (filhos, mudança de casa, etc.), recalculando o valor ideal do fundo de emergência. Envolva a família. Literacia financeira conjunta fortalece a disciplina.


Consumidores exigem: Redução da carga fiscal ou criação de uma conta de poupança específica
 

Nos inquéritos de literacia financeira e poupança, é habitual os portugueses referirem que não têm fundo de emergência e que o dinheiro mal chega para pagar as contas. 

Já é tempo de o Estado incentivar, à semelhança de outros países, a criação de uma poupança de curto prazo, para que as famílias tenham um balão de oxigénio em momentos de dificuldade. 

A Bélgica, por exemplo, tem uma conta poupança regulamentada (Compte d'Épargne Réglementé) e os primeiros 1050 euros de juros (valor de 2025) estão isentos de imposto. 

O Estado também não deveria penalizar as contas de poupança com uma taxa de imposto tão elevada (28 por cento). Em Espanha, o rendimento dos depósitos até 6000 euros é tributado a 19 por cento. Acima deste valor, a taxa é de 23 por cento.

Portugal poderia seguir estes exemplos, reduzindo a taxa de imposto até um determinado montante de aplicação ou de juros, e/ou criar uma conta de poupança específica, com regras distintas dos normais depósitos a prazo.

Relembramos que a taxa de imposto que incide sobre os juros de depósitos e outros rendimentos equiparados foi sofrendo sucessivos aumentos desde 2012. 

Anunciadas como temporárias, as medidas continuam em vigor num país que regista uma taxa de poupança inferior à média da zona euro.

 
 

O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROteste, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições.