O ano começou com expectativas de cortes acentuados das taxas de juro por parte dos bancos centrais. Ora, a persistência da inflação levou ao adiamento do ciclo de descida, particularmente nos EUA, onde a Fed ainda nem sequer mexeu na taxa diretora. Esta deceção deveria ter sido um choque para as bolsas, nomeadamente para as ações tecnológicas (e growth stocks em geral), mais sensíveis aos juros.
No entanto, a euforia em torno da Inteligência Artificial e com a Nvidia, em particular, foi mais do que suficiente para impulsionar os mercados. Ao mesmo tempo, a resiliência da economia norte-americana permitiu que os resultados das empresas, em geral, não tenham vindo a dececionar. Deste modo, as grandes valorizações ficaram concentradas nas grandes tecnológicas, mas o resto do mercado acionista evoluiu igualmente de forma positiva.
Os fundos de ações globais ganharam, em média, 11% no semestre. Nas regiões emergentes, a manutenção de juros elevados nos EUA encarece o seu financiamento e gera pressões cambiais. Por exemplo, a Indonésia foi forçada a subir as suas taxas de juro e outros países adiaram novos cortes das taxas. Ao mesmo tempo, as questões políticas, incluindo eleições e problemas de governação, marcaram a atualidade dos emergentes.
Semicondutores lideram
Entre os fundos/ETF que mais ganharam este semestre, destacamos três produtos. Será que são boas apostas para o futuro?
Amundi MSCI Semiconductors ESG Screened ETF
Código ISIN: LU1900066033
Ganho em 6 meses: 62,5%
BNP Paribas Turkey Equity N Cap
Código ISIN: LU0823433858
Ganho em 6 meses: 54,6%
VanEck Defense UCITS ETF
Código ISIN: IE000YYE6WK5
Ganho em 6 meses: 26,3%
– Os semicondutores, como temos vindo a referir, mantêm um bom potencial dado a sua crescente importância estratégica e os inerentes apoios públicos. No entanto, o ETF Amundi MSCI Semiconductors ESG Screened tem 30% da carteira apenas na Nvidia. Preferimos o ETF VanEck Semiconductor (IE00BMC38736) que limita o peso de cada empresa a 10%, o que diversifica muito mais o investimento e não o impediu de obter um igualmente impressionante ganho de 40,8% no primeiro semestre.
– Os fundos de ações turcas, como o BNP Paribas Turkey Equity (+54,6% em 2024) continuam imparáveis. Os resultados nominais das empresas sobem com uma inflação em torno de 70% e a economia real até tem crescido, apesar de as taxas de juro diretoras estarem em 50%! Com efeito, a Turquia tem conseguido gerir uma relação económica privilegiada com a União Europeia e simultaneamente com a Rússia. Mas até quando conseguirá essa “proeza”? Não há dúvida que os riscos deste mercado são substanciais. Recorde-se que a lira turca perdeu 82% do seu valor para o euro em cinco anos. Não recomendamos.
– Por fim, destaque para outro setor que, infelizmente, continua muito promissor. Na Defesa, o ETF VanEck Defense ganhou 26,3% no semestre. A provável vitória de Trump nos EUA irá obrigar a Europa a reforçar ainda mais os seus gastos militares. Na Ásia-Pacífico, países como o Japão, Coreia do Sul e Austrália, reforçam-se face à ascensão da China. E no imediato prolonga-se a guerra na Ucrânia e nas fronteiras de Israel. Um clima de tensão crescente, muito favorável às empresas de Defesa.
‘High yield’ ganha
Com os bancos centrais a adiar a descida das taxas diretoras, inevitavelmente as taxas de juro de longo prazo subiram ao longo do semestre. Ora, uma subida dos juros implica a descida automática das cotações das obrigações e penaliza os fundos. Ainda assim, há categorias de dívida mais bem preparadas para enfrentar estes momentos.
PIMCO US Short Term HY Corp. Bond UCITS ETF
Código ISIN: IE00BVZ6SQ11
Ganho em 6 meses: 5,9%
iShares China CNY Bond UCITS ETF USD
Código ISIN: IE00BKPSFD61
Ganho em 6 meses: 4,4%
UBS Bond Euro High Yield P-acc
Código ISIN: LU0086177085
Ganho em 6 meses: 2,9%
– A dívida high yield em dólares propicia taxas de juro mais elevadas (7,8% ao ano, contra 4,3% da dívida soberana dos EUA), o que permite uma maior almofada de rendimento quando as cotações estão em queda. Assim, em 2024, o saldo está a ser mais positivo. O ETF PIMCO US Short Term HY Corp. Bond conseguiu valorizar 5,9% no primeiro semestre, contando igualmente com um “empurrão” cambial (+2,2% do dólar face ao euro). Salvo em caso de grave recessão económica (pouco expectável a médio prazo), os fundos high yield em dólares (USD) permanecem uma boa opção para a sua carteira.
– Outro destaque do semestre foi o ETF iShares China CNY Bond com uma valorização de 4,4%. A dívida soberana chinesa permanece pouco correlacionada com os restantes mercados. As yields destas obrigações são baixas (2,3%), mas o objetivo de Pequim em tornar a sua moeda numa referência global dá-lhe maior estabilidade cambial. Além disso, a China tem realizado cortes nos juros para estimular a economia, o que beneficiou o valor da dívida este ano. O ETF iShares China CNY Bond é interessante se quiser reduzir o risco global da carteira.
– Tal como os congéneres em USD, o fundo UBS Bond Euro High Yield está positivo em 2024, apresentando uma valorização acumulada de 2,9%. Pode não ser impressionante, mas contrasta com as perdas da dívida soberana do euro no mesmo período. Este tipo de obrigações high yield tem atualmente juros anuais de 6,4% contra 3%, em média, das soberanas, o que permite acomodar melhor as perdas na cotação dos títulos detidos pelo fundo/ETF. Esta categoria é atrativa para potenciar os ganhos da sua carteira sem incorrer num risco tão elevado como o subjacente aos mercados acionistas.
América latina sob pressão
O semestre foi claramente negativo para a América latina e para os fundos dedicados ao México e ao Brasil. Por um lado, estes dois países estão sob maior pressão devido à manutenção de taxas de juro mais altas nos EUA. Por outro, a nível interno, os desenvolvimentos políticos não agradam aos investidores.
No México, as recentes eleições elegeram uma Presidente para a continuidade, mas a dimensão da maioria conquistada levanta receios de uma excessiva intervenção estatal na economia. Assim, depois de um ano excelente, as ações mexicanas caíram a pique. O ETF iShares MSCI Mexico Capped (IE00B5WHFQ43) perde agora 13,3% desde o início do ano.
No Brasil, o Governo de Lula está com dificuldades em equilibrar as contas públicas, perante as promessas eleitorais, gerando pressão sobre o valor da dívida e do real nos mercados.
Para o longo prazo, o México permanece numa excelente posição geopolítica e uma eleição de Trump não deverá alterar significativamente esse panorama, dadas as tensões entre os EUA e a China. No Brasil, a situação é mais delicada, mas a independência do banco central garante alguma estabilidade. Com estes pressupostos, pode continuar a dedicar uma pequena parte da carteira a estes dois mercados, mas o risco político-económico tornou-se mais elevado, sobretudo no Brasil.
Por fim, o outro grande perdedor do semestre foi a categoria da dívida em ienes (-12% em média). O Banco do Japão ainda está relutante em subir a taxa diretora. Sem a redução do elevado diferencial de juros face aos EUA, o iene prossegue uma espiral de depreciação. Os investidores vendem massivamente ienes para aplicar em outras moedas com rentabilidades mais atrativas.
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