O que pode influenciar
Um excedente na balança de mercadorias pode indiciar que as empresas nacionais são mais competitivas no mercado externo, contribuindo para a acumulação de reservas cambiais. Já um défice indica uma maior dependência de bens estrangeiros.
Em alguns casos, porém, um défice pode refletir um crescimento económico sustentado por elevados investimentos e/ ou em matérias-primas essenciais para a produção.
Quando o défice é persistente, pode pressionar a desvalorização da moeda nacional, tornando as importações mais caras. Um excedente demasiado elevado pode gerar tensões comerciais com outros países e/ou levar à apreciação da moeda, tornando as exportações menos competitivas.
Estes fenómenos podem permitir uma correção mais automática dos desequilíbrios. Embora estas conclusões se possam aplicar a pequenas economias muito abertas ao comércio, são menos claras noutras situações. Há inúmeras economias com défices que se perpetuam ou excedentes e que prosseguem sem sofrerem crises. O caso dos EUA é paradigmático.
Exemplo norte-americano
Há décadas que os EUA importam mais bens do que aqueles que exportam. Este défice comercial contínuo tornou-se um fator de desindustrialização, uma vez que muitos setores passaram a enfrentar concorrência externa mais competitiva.
Com a globalização, assistiu-se à transferência de produção para países com mão-de-obra muito mais barata, como a China e o México, resultando na perda de empregos em certas indústrias dos EUA.
No entanto, este mesmo défice também permite aos consumidores americanos aceder a uma ampla variedade de bens a preços mais reduzidos, o que atenua a inflação e possibilita um nível de consumo interno que, de outro modo, não existiria. Tal como haviam abandonado a agricultura, muitos americanos deixaram as fábricas para trabalhar nos serviços.
Os gigantes dos EUA são, agora, empresas tecnológicas e não as industriais que estiveram na base do histórico índice Dow Jones. Esta componente dos serviços tornou-se um sinal de desenvolvimento das economias. Se incorporarmos as trocas de serviços (transportes, turismo, etc.), a balança de serviços tende a apresentar um saldo positivo, ajudando a compensar parte do défice da balança de mercadorias.
Por seu turno, a dependência dos EUA de financiamento externo, para financiar o défice comercial, não é um problema devido ao estatuto do dólar como moeda de reserva global. Qualquer outra economia já teria visto colapsar o valor da sua divisa.
Saldo da Balança de bens
Apresentamos o saldo em valores absolutos (em dólares), bem como em função do seu peso em percentagem no PIB, para ter noção do impacto em cada economia. O facto de um país ter um saldo global negativo não invalida que tenha excedentes face a certos países.
País | % do PIB | Valor |
---|---|---|
Austrália | 3.3% | 59 |
Brasil | 3.4% | 74 |
Canadá | 0.7% | 15 |
China | 5.5% | 997 |
Coreia do Sul | 2.9% | 55 |
Estados Unidos | -4.1% | -1,202 |
Índia | -6.8% | -263 |
Indonésia | 2.2% | 31 |
Itália | 2.5% | 58 |
Japão | -0.8% | -34 |
México | -0.4% | -8 |
Portugal | -9.9% | -30 |
Suíça | 7.3% | 69 |
União Europeia | 1.4% | 276 |
Valor em milhares de milhões de dólares |
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