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Balança comercial: um equilíbrio difícil

queda mercados

Há economias com défices que se perpetuam ou excedentes que prosseguem sem sofrerem crises

Publicado em: 01 abril 2025
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Há economias com défices que se perpetuam ou excedentes que prosseguem sem sofrerem crises

Equilibrar exportações e importações não é fácil. Os EUA têm o maior défice comercial, mas beneficiam de um dólar forte. A China tem o maior excedente.
A balança de mercadorias mede a diferença entre o valor das exportações e das importações de bens. Quando se importa mais do que se exporta, há um défice. Quando acontece o contrário, verifica-se um excedente comercial. 

O que pode influenciar 

Um excedente na balança de mercadorias pode indiciar que as empresas nacionais são mais competitivas no mercado externo, contribuindo para a acumulação de reservas cambiais. Já um défice indica uma maior dependência de bens estrangeiros.

Em alguns casos, porém, um défice pode refletir um crescimento económico sustentado por elevados investimentos e/ ou em matérias-primas essenciais para a produção.

Quando o défice é persistente, pode pressionar a desvalorização da moeda nacional, tornando as importações mais caras. Um excedente demasiado elevado pode gerar tensões comerciais com outros países e/ou levar à apreciação da moeda, tornando as exportações menos competitivas.

Estes fenómenos podem permitir uma correção mais automática dos desequilíbrios. Embora estas conclusões se possam aplicar a pequenas economias muito abertas ao comércio, são menos claras noutras situações. Há inúmeras economias com défices que se perpetuam ou excedentes e que prosseguem sem sofrerem crises. O caso dos EUA é paradigmático.

 Exemplo norte-americano 

Há décadas que os EUA importam mais bens do que aqueles que exportam. Este défice comercial contínuo tornou-se um fator de desindustrialização, uma vez que muitos setores passaram a enfrentar concorrência externa mais competitiva.

Com a globalização, assistiu-se à transferência de produção para países com mão-de-obra muito mais barata, como a China e o México, resultando na perda de empregos em certas indústrias dos EUA.

No entanto, este mesmo défice também permite aos consumidores americanos aceder a uma ampla variedade de bens a preços mais reduzidos, o que atenua a inflação e possibilita um nível de consumo interno que, de outro modo, não existiria. Tal como haviam abandonado a agricultura, muitos americanos deixaram as fábricas para trabalhar nos serviços.

Os gigantes dos EUA são, agora, empresas tecnológicas e não as industriais que estiveram na base do histórico índice Dow Jones. Esta componente dos serviços tornou-se um sinal de desenvolvimento das economias. Se incorporarmos as trocas de serviços (transportes, turismo, etc.), a balança de serviços tende a apresentar um saldo positivo, ajudando a compensar parte do défice da balança de mercadorias.

Por seu turno, a dependência dos EUA de financiamento externo, para financiar o défice comercial, não é um problema devido ao estatuto do dólar como moeda de reserva global. Qualquer outra economia já teria visto colapsar o valor da sua divisa.

Saldo da Balança de bens

Apresentamos o saldo em valores absolutos (em dólares), bem como em função do seu peso em percentagem no PIB, para ter noção do impacto em cada economia. O facto de um país ter um saldo global negativo não invalida que tenha excedentes face a certos países.

País % do PIB Valor
Austrália 3.3% 59
Brasil 3.4% 74
Canadá 0.7% 15
China 5.5% 997
Coreia do Sul 2.9% 55
Estados Unidos -4.1% -1,202
Índia -6.8% -263
Indonésia 2.2% 31
Itália 2.5% 58
Japão -0.8% -34
México -0.4% -8
Portugal -9.9% -30
Suíça 7.3% 69
União Europeia 1.4% 276
Valor em milhares de milhões de dólares

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