Em 2024, o BCE foi mais rápido do que a Reserva Federal dos EUA a reduzir as taxas de juro. Mais cauteloso, Jerome Powell, responsável da instituição norte-americana, manteve-se focado no objetivo de controlar a inflação. Taxas de juro um pouco mais altas face ao euro e um crescimento económico superior ao esperado impulsionaram o dólar.
Além da moeda norte-americana, o franco suíço beneficiou, em 2024, da procura por refúgios seguros. Em contraste, na zona euro, a evolução da economia foi fraca. Segundo a OCDE, o crescimento projetado do PIB, em 2024, é de apenas 0,7%, uma recuperação lenta face à estagnação do ano passado. O principal motor da economia europeia, a Alemanha, enfrenta uma recessão técnica.
Dólar americano fortalecido?
No próximo ano, não se exclui a possibilidade de a Fed continuar a cortar as taxas de juro diretoras, se a inflação dos EUA se mantiver controlada. Isso pode tornar o dólar menos atrativo, especialmente em relação a divisas de mercados emergentes e ligadas a matérias-primas.
Contudo, não é certo que a inflação se mantenha estável, pois a nova Administração Trump advoga uma política fiscal mais expansionista e protecionista, através da implementação de tarifas mais gravosas sobre as importações (25% para produtos oriundos do México e do Canadá, e 60% para os provenientes da China), o que pode fortalecer o dólar.
Se se concretizar, a Fed deve repensar a sua trajetória, interrompendo-a ou até invertendo-a, dado que cortes nas taxas de juro diretoras podem causar pressões inflacionistas no mercado.
Em resumo, se as políticas do novo inquilino da Casa Branca forem adotadas e o diferencial entre as taxas de juro nos EUA e na zona euro aumentar, a tendência será de valorização do dólar americano. Pelo menos, no curto prazo, irá manter-se forte, sustentado por juros bem mais generosos do que na zona euro.
Libra esterlina: Tudo na mesma?
A moeda de "Sua Majestade" valorizou, este ano, quase 4 por cento. Com as taxas diretoras mais altas entre os países do G10, a libra esterlina está a atrair alguns fluxos de entrada. Essa tendência pode manter-se em 2025.
Franco suíço: a escolha defensiva por excelência
O franco suíço voltou a ser das divisas que, a par com a libra esterlina, mais valorizaram face ao euro (2,07 por cento). Beneficiou da sua tradicional segurança em tempos de incerteza e do suporte de uma economia estável. O seu potencial a longo prazo mantém-se positivo, sendo uma das opções para investidores avessos ao risco.
Iene japonês num impasse
O iene japonês, que tem uma longa trajetória de desvalorização, pode inverter esta tendência, em 2025. A postura menos expansionista do Banco Central do Japão, em contraste com as políticas de cortes das taxas de juro esperadas na zona euro, pode aumentar o valor do iene.
Todavia, também não são de excluir, em especial face ao dólar, desvalorizações do iene para tornar as exportações japonesas mais competitivas, e combater as tarifas que Trump, eventualmente, aprovará.
Divisas ligadas a matérias-primas: valorização à vista?
Algumas divisas ligadas a matérias-primas, como a coroa norueguesa e o dólar canadiano, têm potencial de valorização. Esta última moeda (-2,15% ) pode beneficiar da procura global por recursos naturais, enquanto a coroa norueguesa (-0,17%) destaca-se pela robustez da economia graças ao petróleo.
Divisas como o dólar australiano (-0,19%) e o real brasileiro (-17,52%) enfrentam os desafios da desaceleração do comércio global, e fatores políticos internos. Para recuperarem, estas divisas precisam que as economias emergentes, em particular a China, um dos maiores compradores das suas matérias-primas, retomem as elevadas taxas de crescimento do passado recente. Algo que não está no horizonte.
Já o peso mexicano (-12,37%) é a divisa mais vulnerável às políticas comerciais que Trump pode implementar nos EUA. Mas, tal como o real brasileiro, as taxas de juro reais elevadas conferem-lhe alguma proteção.
China no centro das atenções
Embora apresente bons fundamentos domésticos, com previsões de crescimento do PIB e inflação em queda, a China deverá ter de lidar com o aumento das tarifas no mercado dos EUA. Se forem implementadas, exercerão grande pressão sobre o valor do yuan.
Ao contrário da rupia indonésia (-0,6%), a rupia indiana valorizou (+0,05%), sendo, porém, expectável que esta tendência não se prolongue em 2025. A Índia tem custos de dívida soberana elevadíssimos e o seu principal parceiro comercial são os EUA, situação oposta à da Indonésia.
Coroa sueca: será desta?
Vários modelos macroeconómicos, incluindo o nosso, apontam para uma subvalorização crónica da coroa sueca. Ou seja, apesar de ter fundamentos sólidos, como superavits da balança corrente e uma economia resiliente, a divisa sueca não valoriza face às congéneres.
A política monetária historicamente expansionista do Riksbank e a elevada sensibilidade ao comércio global, em especial o mercado europeu, são as razões. Como não se esperam alterações nesses dois pontos, 2025 não será o ano da esperada valorização da coroa sueca.
Divisas em destaque
Divisa | Variação face ao euro (1 ano) | Variação face ao euro (5 anos) | Taxa de câmbio atual (09/12/2024) |
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Coroa norueguesa | -0.17% | -13.78% | 11.74 |
Coroa sueca | -2.32% | -8.51% | 11.53 |
Dólar americano | 1.67% | 4.51% | 1.06 |
Dólar australiano | -0.19% | -1.06% | 1.64 |
Dólar canadiano | -2.15% | -2.05% | 1.49 |
Franco suíço | 2.07% | 17.89% | 0.93 |
Iene japonês | -2.72% | -24.85% | 159.97 |
Libra Esterlina | 3.72% | 1.67% | 0.83 |
Peso mexicano | -12.37% | -0.16% | 21.32 |
Real brasileiro | -17.52% | -28.49% | 6.42 |
Rupia indiana | 0.05% | -12.36% | 89.74 |
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