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Investir em dólar vale a pena?

Trump Tower

A nova Administração Trump advoga uma política fiscal mais expansionista e protecionista

Publicado em: 17 dezembro 2024
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Trump Tower

A nova Administração Trump advoga uma política fiscal mais expansionista e protecionista

Trump promete abanar os mercados cambiais no próximo ano. Conheça as moedas com maior potencial de subida, e os produtos através dos quais pode investir.

Em 2024, o BCE foi mais rápido do que a Reserva Federal dos EUA a reduzir as taxas de juro. Mais cauteloso, Jerome Powell, responsável da instituição norte-americana, manteve-se focado no objetivo de controlar a inflação. Taxas de juro um pouco mais altas face ao euro e um crescimento económico superior ao esperado impulsionaram o dólar.

Além da moeda norte-americana, o franco suíço beneficiou, em 2024, da procura por refúgios seguros. Em contraste, na zona euro, a evolução da economia foi fraca. Segundo a OCDE, o crescimento projetado do PIB, em 2024, é de apenas 0,7%, uma recuperação lenta face à estagnação do ano passado. O principal motor da economia europeia, a Alemanha, enfrenta uma recessão técnica. 

Dólar americano fortalecido?

No próximo ano, não se exclui a possibilidade de a Fed continuar a cortar as taxas de juro diretoras, se a inflação dos EUA se mantiver controlada. Isso pode tornar o dólar menos atrativo, especialmente em relação a divisas de mercados emergentes e ligadas a matérias-primas.

Contudo, não é certo que a inflação se mantenha estável, pois a nova Administração Trump advoga uma política fiscal mais expansionista e protecionista, através da implementação de tarifas mais gravosas sobre as importações (25% para produtos oriundos do México e do Canadá, e 60% para os provenientes da China), o que pode fortalecer o dólar.

Se se concretizar, a Fed deve repensar a sua trajetória, interrompendo-a ou até invertendo-a, dado que cortes nas taxas de juro diretoras podem causar pressões inflacionistas no mercado.

Em resumo, se as políticas do novo inquilino da Casa Branca forem adotadas e o diferencial entre as taxas de juro nos EUA e na zona euro aumentar, a tendência será de valorização do dólar americano. Pelo menos, no curto prazo, irá manter-se forte, sustentado por juros bem mais generosos do que na zona euro.

Libra esterlina: Tudo na mesma?

A moeda de "Sua Majestade" valorizou, este ano, quase 4 por cento. Com as taxas diretoras mais altas entre os países do G10, a libra esterlina está a atrair alguns fluxos de entrada. Essa tendência pode manter-se em 2025.

Franco suíço: a escolha defensiva por excelência 

O franco suíço voltou a ser das divisas que, a par com a libra esterlina, mais valorizaram face ao euro (2,07 por cento). Beneficiou da sua tradicional segurança em tempos de incerteza e do suporte de uma economia estável. O seu potencial a longo prazo mantém-se positivo, sendo uma das opções para investidores avessos ao risco.

Iene japonês num impasse 

O iene japonês, que tem uma longa trajetória de desvalorização, pode inverter esta tendência, em 2025. A postura menos expansionista do Banco Central do Japão, em contraste com as políticas de cortes das taxas de juro esperadas na zona euro, pode aumentar o valor do iene.

Todavia, também não são de excluir, em especial face ao dólar, desvalorizações do iene para tornar as exportações japonesas mais competitivas, e combater as tarifas que Trump, eventualmente, aprovará. 

Divisas ligadas a matérias-primas: valorização à vista? 

Algumas divisas ligadas a matérias-primas, como a coroa norueguesa e o dólar canadiano, têm potencial de valorização. Esta última moeda (-2,15% ) pode beneficiar da procura global por recursos naturais, enquanto a coroa norueguesa (-0,17%) destaca-se pela robustez da economia graças ao petróleo.

Divisas como o dólar australiano (-0,19%) e o real brasileiro (-17,52%) enfrentam os desafios da desaceleração do comércio global, e fatores políticos internos. Para recuperarem, estas divisas precisam que as economias emergentes, em particular a China, um dos maiores compradores das suas matérias-primas, retomem as elevadas taxas de crescimento do passado recente. Algo que não está no horizonte.

Já o peso mexicano (-12,37%) é a divisa mais vulnerável às políticas comerciais que Trump pode implementar nos EUA. Mas, tal como o real brasileiro, as taxas de juro reais elevadas conferem-lhe alguma proteção. 

China no centro das atenções 

Embora apresente bons fundamentos domésticos, com previsões de crescimento do PIB e inflação em queda, a China deverá ter de lidar com o aumento das tarifas no mercado dos EUA. Se forem implementadas, exercerão grande pressão sobre o valor do yuan.

Ao contrário da rupia indonésia (-0,6%), a rupia indiana valorizou (+0,05%), sendo, porém, expectável que esta tendência não se prolongue em 2025. A Índia tem custos de dívida soberana elevadíssimos e o seu principal parceiro comercial são os EUA, situação oposta à da Indonésia. 

Coroa sueca: será desta? 

Vários modelos macroeconómicos, incluindo o nosso, apontam para uma subvalorização crónica da coroa sueca. Ou seja, apesar de ter fundamentos sólidos, como superavits da balança corrente e uma economia resiliente, a divisa sueca não valoriza face às congéneres.

A política monetária historicamente expansionista do Riksbank e a elevada sensibilidade ao comércio global, em especial o mercado europeu, são as razões. Como não se esperam alterações nesses dois pontos, 2025 não será o ano da esperada valorização da coroa sueca.

 Divisas em destaque

Divisa Variação face ao euro (1 ano) Variação face ao euro (5 anos) Taxa de câmbio atual (09/12/2024)
Coroa norueguesa -0.17% -13.78% 11.74
Coroa sueca -2.32% -8.51% 11.53
Dólar americano 1.67% 4.51% 1.06
Dólar australiano -0.19% -1.06% 1.64
Dólar canadiano -2.15% -2.05% 1.49
Franco suíço 2.07% 17.89% 0.93
Iene japonês -2.72% -24.85% 159.97
Libra Esterlina 3.72% 1.67% 0.83
Peso mexicano -12.37% -0.16% 21.32
Real brasileiro -17.52% -28.49% 6.42
Rupia indiana 0.05% -12.36% 89.74

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