Durante muitos anos, a Alemanha foi uma das principais beneficiárias da globalização. No entanto, o cenário atual é marcado por um aumento do protecionismo, tarifas alfandegárias e tensões com a China. Acrescem as mudanças tecnológicas.
A Alemanha enfrenta dificuldades em acompanhar as novas tecnologias, como no setor automóvel, onde a transição do motor de combustão, no qual a Alemanha era líder, para o elétrico está a ser penosa. Além disso, as regulamentações de Berlim e Bruxelas, cada vez mais exigentes e dispendiosas, têm impacto na rentabilidade das empresas e na sua visão de futuro.
Outro fator preocupante é a falta de pragmatismo de Berlim, que resulta em preços de eletricidade muito elevados, colocando a indústria alemã em desvantagem competitiva. Os desafios mais críticos, no entanto, residem na demografia e na produtividade. Com uma produtividade estagnada e uma população envelhecida, o potencial de crescimento da Alemanha é praticamente nulo.
Estes problemas afetam a indústria, que representa quase um quarto do PIB, muito mais do que em outras economias da zona euro, empregando oito milhões de alemães. A confiança, o investimento no setor e os serviços relacionados, como a logística e os serviços de engenharia, também sofrem. No final, toda a economia é prejudicada.
Descida dos juros não é solução milagrosa
Naturalmente, a descida dos juros pelo Banco Central Europeu, que resulta em crédito mais barato, dá algum alívio à economia alemã. Assim, espera-se uma ligeira melhoria no crescimento a partir de 2025, impulsionada pelo setor da construção, que deverá beneficiar de novo fôlego com o crédito mais acessível. As exportações também poderão ser revitalizadas, dado que os principais clientes da Alemanha terão acesso a melhores condições de crédito. Após as eleições de setembro do próximo ano, o país poderá também aliviar a sua rigidez quanto ao equilíbrio das contas públicas, e uma revitalização do investimento público em infraestruturas, educação e setores estratégicos seria muito benéfica.Contudo, não se espera um milagre. A Alemanha continuará a crescer a um ritmo inferior ao da maioria das outras economias europeias. Para além dos problemas estruturais, o comportamento do consumidor alemão é um fator de entrave. Pouco adepto de dívida, o consumidor alemão está menos endividado do que a média da zona euro. Por isso, os efeitos da flexibilização do crédito terão um impacto benéfico que é maior para os consumidores de outros países do que para os alemães.
A procura interna está também enfraquecida, apesar do aumento robusto dos salários. Em 2024, os acordos entre sindicatos e empresas resultam numa subida média de 5,6% nos salários, enquanto a inflação deverá ficar pouco acima de 2%. Embora o poder de compra das famílias esteja a aumentar, a falta de confiança prevalece devido aos problemas que afetam setores importantes da economia, deixando preocupações sobre a instabilidade no emprego e com a ausência de um plano claro para o futuro. Além disso, o sistema de pensões oferece cada vez menos garantias de segurança financeira para a reforma, levando as famílias a preferirem poupar em vez de consumir.
Conclusão
No final dos anos 1990, a Alemanha era vista como o "grande doente" da Europa, mas conseguiu recuperar com uma série de reformas sob a liderança do chanceler Gerhard Schröder. Apesar da sua impopularidade, lançou as bases para duas décadas de crescimento, mantidas pelo Governo de Angela Merkel. Hoje, tal como há quase três décadas, a Alemanha precisa de se reinventar.
No entanto, parece improvável. O Governo é pouco pragmático e está limitado pelas divergências entre os partidos da coligação. É provável que a economia germânica continue estagnada nos próximos anos e uma recuperação significativa da competitividade não será fácil, sobretudo porque fatores estruturais como a demografia e a produtividade, são pouco favoráveis.
Estas perspetivas pouco animadoras justificam uma abordagem cautelosa no que toca a investimentos na Alemanha e na zona euro em geral. Nas ações, deverá ser muito seletivo. Veja as nossa recomendações de investimento na Alemanha.
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