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Quanto ganha um CEO em Portugal?

Salário dos CEOs

Em 2024, em alguns casos, os salários dos CEO mais do que duplicaram

Publicado em: 04 julho 2025
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Salário dos CEOs

Em 2024, em alguns casos, os salários dos CEO mais do que duplicaram

O fosso entre os salários dos CEO das principais empresas portuguesas e o salário médio dos trabalhadores aumentou em 2024. Estes gestores ganham agora cerca de 40 vezes mais. 

A grande maioria dos presidentes das comissões executivas (CEO) das principais empresas nacionais cotadas em bolsa viram a sua remuneração aumentar de forma significativa, em 2024.

Houve mesmo alguns casos em que os salários mais do que duplicaram: José Soares de Pina, da Altri, passou a receber mais 102% do que em 2023; e António Rios de Amorim, da Corticeira Amorim, mais 148 por cento.

Em sentido contrário, na EDP Renováveis, Navigator, REN e Semapa, encolheram. Por exemplo, a remuneração variável do CEO desta última empresa, Ricardo Pires, desceu 31,7 por cento.

No total, os CEO das 16 empresas acompanhadas pela DECO PROteste Investe – 15 que integram o índice PSI 20 e a Novabase – receberam 23,6 milhões de euros, uma subida de 10,7% face a 2023.

Na maior parte das companhias, o salário médio dos trabalhadores também aumentou, mas o fosso em relação ao topo da pirâmide acabou por subir em termos globais, fixando-se em 40,9 vezes face a 38,6 vezes, em 2023.

Pedro Soares do Santos, da Jerónimo Martins, continua a ser o CEO mais bem pago. Recebeu, no ano passado, 5,25 milhões de euros, um valor 331,8 vezes a média dos seus funcionários. Uma disparidade salarial claramente desfasada de todas as outras empresas.

Por exemplo, Luís Salvado, CEO da Novabase, recebeu substancialmente menos (529 027 euros) e a distância que o separa dos restantes funcionários é também bastante inferior (12,4 vezes). 

Valor criado para os acionistas 

No geral, o retorno gerado para os acionistas das 16 empresas foi positivo. Apenas a Corticeira Amorim gerou um rendimento negativo (-4%), num período em que a Bolsa de Lisboa esteve em alta, o que torna difícil de explicar a subida exponencial do salário do seu CEO.

5 propostas da DECO PROteste Investe 

O Código dos Valores Mobiliários prevê que a política de remunerações das sociedades emitentes de ações seja aprovada e revista em assembleia geral de acionistas, pelo menos, de quatro em quatro anos, ou sempre que ocorram alterações significativas.

Apesar de vinculativo, este conjunto de princípios e critérios, que define como e quando são remunerados os membros dos órgãos de administração e fiscalização, deveria ser mais exigente.

Sem colocar em causa a liberdade de haver acordos entre empregadores e empregados, e sem questionar a ideia de que os profissionais mais qualificados e com maiores responsabilidades merecem ser mais bem remunerados, é inegável que, nas sociedades cotadas, têm de ser os acionistas a definir e a validar de forma clara, objetiva e mais pormenorizada do que atualmente a remuneração da administração.

É a única forma de responsabilizar a gestão e evitar que se tomem decisões precipitadas e menos responsáveis, que sacrifiquem objetivos de longo prazo e, em última análise, os de curto maximizem os bónus dos administradores. Apesar de ser apenas uma das componentes do governo societário, a remuneração dos órgãos sociais tem uma importância significativa na vida das empresas.

Ainda que tenha aumentado, nos últimos anos, a transparência em matéria de remunerações, nomeadamente no que diz respeito ao reporte de informação, há aspetos a melhorar.

O reforço da legislação contribuiria para acelerar essa mudança. Nesse sentido, a DECO PROteste Investe propõe cinco medidas para melhorar a transparência e a exigência legislativa nesta matéria. Apesar de alguns destes princípios já serem adotados por várias empresas, outros não o são e todos deveriam ser obrigatórios por lei. 

1. As comissões de remunerações e vencimentos devem ser compostas exclusivamente por membros totalmente independentes das administrações, o que ainda não acontece em quase metade das empresas analisadas.

2. A política de remunerações votada em assembleia geral tem de ser definida e apresentada de forma clara aos acionistas, para que estes, os verdadeiros donos da empresa, votem anualmente de forma inequívoca a remuneração individualizada e quantificada de cada administrador. 

3. A remuneração dos administradores executivos deve ser parcialmente variável e baseada no desempenho sustentado da sociedade, com objetivos claros de criação de valor a longo prazo, sem a assunção de riscos excessivos. A remuneração variável deve ser diferida no tempo e só deve ser recebida se os objetivos predefinidos forem cumpridos. 

4. Deve ser fixado um limite máximo para o rácio entre a remuneração do presidente da comissão executiva e a média dos restantes trabalhadores da empresa, ainda que este possa variar em função do setor de atividade. Este rácio deverá ser obrigatoriamente divulgado pelas empresas. 

5. Fixação do montante máximo de indemnização em caso de cessação de funções dos membros do conselho de administração.

Vencimentos dos CEO em 2024

Em 2024, as três empresas em que o fosso salarial entre a remuneração do CEO e a média dos trabalhadores é mais baixo (EDP Renováveis, Novabase e REN, por esta ordem) fazem parte da lista das cinco empresas em que o salário médio dos trabalhadores é mais elevado.

Empresa Nome Remuneração total (em euros) Vezes salário médio
Jerónimo Martins Pedro Soares dos Santos 5,250,000 331.8
Sonae Claúdia Azevedo 1,968,000 71.6
Mota-Engil Carlos Mota Santos 967,000 69.4
EDP Miguel Stilwell 2,312,648 46.3
CTT João Bento 1,002,129 43.2
Ibersol António Leal Teixeira 568,650 42.9
BCP Miguel Maya 1,546,972 42.4
NOS Miguel Almeida 1,063,304 41.7
Galp Energia Filipe Silva 1,723,400 37.8
Navigator António Redondo 1,437,338 37.7
Semapa Ricardo Pires 1,244,836 37.7
Altri José Soares de Pina 1,473,706 33.8
Corticeira Amorim António Rios de Amorim 855,511 28.5
REN Rodrigo Costa 848,252 13.8
Novabase Luís Salvado 529,027 12.4
EDP Renováveis Miguel Stilwell 846,516 11.0

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