O que é o short selling e quais as empresas do PSI mais afetadas?
O short selling também pode ser usado como instrumento de cobertura de risco por quem já detém o ativo.
O short selling também pode ser usado como instrumento de cobertura de risco por quem já detém o ativo.
O PSI, principal índice bolsista português, é composto pelas dezasseis maiores empresas cotadas na Euronext Lisboa. Nos últimos anos, o mercado português tem sido palco de estratégias de investimento variadas, incluindo o “short-sell” — uma prática em que os investidores apostam na descida do preço das ações e lucram com isso.
Venda a descoberto (ou short-sell) é uma estratégia de investimento em que um investidor vende ações, ou outro tipo de ativos, que não possui, com a expectativa de recomprar a um preço mais baixo no futuro, lucrando com a diferença. Esta prática é mais comum em trading de CFD’s, aproveitando momentos de volatilidade, ou quando há expectativas de queda nos preços de ações ou de outro tipo de ativos ou instrumentos financeiros.
O short selling é portanto geralmente associado à ideia de apostar na queda de um ativo, já que o investidor vende algo que não possui com a expectativa de comprar depois a um preço menor. No entanto, essa não é a única função da venda a descoberto: também pode ser usada como instrumento de cobertura de risco por quem já detém o ativo. Nesse caso, o investidor faz uma posição short para neutralizar, total ou parcialmente, a exposição à queda, funcionando como uma espécie de seguro.
Por exemplo, um acionista que acredita no potencial de longo prazo da empresa, mas teme uma correção de curto prazo, ou não quer estar atento ao mercado por uns tempos, pode vender parte das ações a descoberto para reduzir a volatilidade da carteira. Se o preço cair, o ganho do short compensa a perda da posição comprada; se subir, a valorização das ações reduz ou elimina o impacto da posição vendida – sem contar com os encargos da operação, obviamente.
De acordo com a European Securities and Markets Authority (ESMA) as empresas estão obrigadas a divulgar os seus short-sellers quando o volume vendido é referente a uma percentagem que corresponde a no mínimo 0,5% do capital social emitido da empresa em causa e a cada 0,1% acima desse valor.
Em tempos de crises, como foi em 2020, a ESMA tornou obrigatório o reporte às autoridades nacionais de posições líquidas curtas (short selling) a partir de limiar de 0,1%.
Em Portugal, algumas empresas do PSI têm sido alvos frequentes de posições curtas. Os dados mais recentes (até novembro de 2025) indicam que as seguintes empresas têm apresentado níveis relevantes de posições curtas (percentagem de ações emprestadas para venda a descoberto).
As empresas mais shortadas do PSI são por ordem: a Mota Engil, a Galp, a NOS, o BCP e a Altri. Todas as outras podem ter também parte do seu capital alvo de shorts, contudo, como foi já mencionado, as empresas apenas têm a obrigação de reportar quando a partir de 0,5% do seu capital está emprestado por forma a conceder os short-sells.
A Mota Engil, que conta com um capital de 306 775 950 euros, tem neste momento 2,24% desse valor em short, ou seja, cerca de 6,871 milhões de euros. O principal shorter da Mota Engil é a Square Circle, contudo, de momento, a Mudy Waters, a Marshall Wace e a Capital Fund Management, também estão com posições vendedoras abertas. Todas elas abertas após o dia 26 de setembro de 2025.
As ações com short interest alto tendem a apresentar maior volatilidade futura e maior risco específico (risco que não depende das condições gerais do mercado mas sim de fatores próprios da empresa). Portanto, embora nem toda empresa muito “shortada” seja necessariamente má para investir, é comum que essas empresas apresentem um comportamento de preço mais instável. Isto deve-se à combinação de risco percebido elevado, dinâmica das posições vendidas e possibilidade de squeezes.
Empresas com dívida elevada, margens reduzidas ou resultados abaixo das expectativas são alvos frequentes. Também é comum, dias antes da divulgação dos resultados, ocorrer um aumento de interesse especulativo em torno das ações. Informações ou rumores podem influenciar o comportamento dos investidores.
Os setores de telecomunicações e a energia estão a passar por mudanças regulatórias e tecnológicas, o que aumenta a incerteza.
A instabilidade económica, as taxas de juro elevadas e a inflação podem levar os investidores a especular uma queda nas cotações de ações de empresas mais expostas a estes riscos.
Entre os setores mais vulneráveis estão:
O short-sell é uma técnica que pode ser utilizada para tentar lucrar com a queda do preço de um ativo, mas exige conhecimento, experiência e disciplina. Trata-se de uma estratégia de elevado risco, uma vez que as perdas potenciais são ilimitadas, já que o preço de uma ação pode subir indefinidamente.
Por isso, é fundamental adotar cuidados rigorosos antes de realizar este tipo de operação:
Em suma, e apesar de ultimamente se ouvir falar de bolha nos mercados, cada vez mais o short-sell deve ser utilizado com moderação e estratégia. Preferencialmente como parte de uma carteira diversificada e com uma gestão de risco bem estruturada, e não como uma aposta isolada. É importante também relembrar que o short selling serve não apenas para apostar na queda de um ativo, mas também pode servir de cobertura de risco para quem já detém esse mesmo ativo.