Fundada em 1935 e cotada em bolsa desde 1998, a Trigano é uma empresa familiar especializada na conceção, fabrico e distribuição de veículos de lazer. Originalmente distribuidora de equipamentos de campismo, alargou a atividade ao fabrico e comercialização de tendas, caravanas e autocaravanas. Hoje, os veículos de lazer e acessórios representam 95% da faturação. Os restantes 5% são vendas de reboques e material de campismo e jardinagem.
É no segmento de autocaravanas (75% do volume de negócios), que a Trigano tem reputação. Ao “engolir” vários concorrentes, o grupo tem uma carteira de 27 marcas (Autostar, Adria, Benimar, Challenger, Notin, entre outros). Líder absoluto em França, onde vende 1 em cada 2 veículos, é número 1 na Europa, onde vende 1 em cada 3. Por mercados, a Trigano gera 33% das vendas em França, 24% na Alemanha, 11% no Reino Unido e 32% noutros países europeus.
Estratégia multimarca
A sua estratégia de comercialização de várias marcas reflete uma aposta em nichos de mercado, com marcas locais específicas para garantir uma resposta adaptada ao gosto dos consumidores. Ativa em todos os segmentos, a Trigano é mais forte na gama de entrada e gama média, onde faz sucesso com as marcas Chausson e Challenger, que atrai clientes com menor poder aquisitivo.
Graças à sua dimensão e quota de mercado superior a 30%, o grupo tem grande poder negocial junto dos fabricantes de chassis e fornecedores de materiais utilizados na construção dos veículos, o que lhe permite vender mais barato do que a concorrência.
Fundamentos sólidos
Constituída sobretudo por seniores mais novos (55-65 anos), a clientela de autocaravanas é de qualidade, com dinheiro e tempo livre para usufruir deste prazer. Seduzida pelos valores do autocaravanismo (independência, liberdade, convívio, autenticidade...), têm o hábito de viajar fora de época e fora dos circuitos turísticos habituais. O crescimento demográfico deste segmento etário é uma base sólida para o desenvolvimento do mercado.
E desde a covid assistimos à explosão das vendas de vans e carrinhas convertidas. Estes modelos têm compradores mais jovens, dado o seu consumo inferior ao da autocaravana e à ascensão do "vanlife", um modo de viajar em liberdade, minimalista.
Principais desafios
O interesse pelas autocaravanas está ligado à possibilidade de conduzir e estacionar gratuitamente em áreas urbanas. A legislação mais restritiva sobre o estacionamento em zonas turísticas e os limites de acesso a determinadas localidades, poderão ter um efeito dissuasor na aquisição destes veículos. Além disso, o setor terá de fabricar veículos menos poluentes. Os chassis que a Trigano compra estão equipados sobretudo com motores a diesel mas o objetivo europeu é deixar de ter motores de combustão (2035).
Embora a Trigano tenha iniciado o processo de transição energética com os fabricantes de automóveis, o setor só deverá ter alternativas híbridas ou elétricas em 2026-27. E, falta saber se a utilização permitirá aos viajantes ter a mesma utilização de um motor diesel (autonomia, peso das baterias, entre outros).
Bons resultados
O grupo subiu o volume de negócios de 2,3 mil milhões de euros em 2018 para 3,5 mil milhões de euros (ME) em 2023 (média anual de 8,5%). Rentabilidade cresceu: de 230 ME (2018), o lucro operacional passou para 423 ME no último exercício (fechou em agosto), um aumento anual de 13%. Estes resultados permitiram financiar investimentos, distribuir dividendos e fazer aquisições direcionadas.
Após ter reforçado a posição na distribuição em 2023 (Sifi em Itália, Car Loisirs em França), a Trigano espera concluir, no final do primeiro semestre, a aquisição da Bio Habitat, especializada na construção de alojamento destinado a hotéis ao ar livre. A meta é fortalecer o ecossistema e acelerar o crescimento no crescente segmento das residências móveis (3,4% do volume de negócios em 2023).