Resiliência global confirmada pelo FMI
O FMI reconheceu que a economia mundial mostrou-se mais dinâmica do que o previsto. No entanto, os próximos trimestres permanecem incertos, sobretudo para os países exportadores.
Quando Donald Trump anunciou as tarifas unilaterais no Dia da Libertação, temia-se o pior. Viriam as retaliações e uma escalada no confronto comercial que provocaria uma crise económica global. Porém, o cenário mais catastrófico de uma alargada guerra comercial acabou por não se concretizar.
Com o passar dos meses, e para manter o acesso ao maior mercado do mundo, os principais parceiros aceitaram as tarifas impostas pelos EUA, embora em níveis mais baixos do que anunciados inicialmente por Trump.
Mesmo a China, o único país que tentou uma verdadeira escalada tarifária, acabou por optar pela negociação.
Como resultado, o comércio mundial não colapsou e graças à criação de novos fluxos comerciais fora dos EUA, manteve-se até relativamente dinâmico durante os últimos meses.
IA e energia: pilares do crescimento
Vários fatores explicam a resiliência da economia mundial. Em primeiro lugar, o efeito das tarifas na inflação foi contido.
Até agora, a maior parte dos custos acrescidos não está a ser repercutida nos consumidores e estes ainda não perderam poder de compra devido às tarifas. Além disso, os produtores chineses reduziram os preços para escoar os seus produtos, o que contribuiu para a desinflação global.
A queda acentuada dos preços da energia (forte recuo da cotação do barril de petróleo) reforçou esta tendência, permitindo que os bancos centrais baixassem as taxas de juro para apoiar a atividade económica.
Por fim, o investimento massivo em inteligência artificial (IA), desde os processadores até aos centros de dados e à produção de energia necessária, foi outro elemento essencial que impulsionou o crescimento.
Incerteza económica e dilema da Reserva Federal
Apesar da boa resiliência, a economia mundial enfrenta incertezas nos próximos trimestres. A aplicação efetiva de tarifas mais elevadas vai abrandar o ritmo de crescimento do comércio internacional em 2026. O setor industrial, em várias regiões, já sofre perturbações nas cadeias de produção.
Nos Estados Unidos, a economia começa a dar sinais de fraqueza, onde a criação de empregos está praticamente estagnada desde maio.
O aumento dos inventários, antes da entrada em vigor das novas tarifas, e a relutância das empresas em subir preços têm, até agora, protegido o poder de compra dos consumidores. Contudo, é provável que estes acabem por suportar parte da fatura, reacendendo as pressões inflacionistas e limitando o consumo das famílias.
Além das pressões do Presidente Trump, a Reserva Federal norte-americana poderá ter de enfrentar um dilema: subir as taxas de juro para conter a inflação ou reduzi-las novamente para sustentar a atividade.
Mercados otimistas, mas vulneráveis a correções
Os investidores continuam concentrados nas boas notícias e as bolsas prosseguem a sua ascensão. Este movimento cria um efeito de riqueza que estimula o consumo, sobretudo nos Estados Unidos, onde o património das famílias cresce com as bolsas. Esta dinâmica poderá prolongar-se, salvo um evento inesperado de grande magnitude.
Há igualmente riscos mais visíveis, como o possível fracasso dos enormes investimentos em Inteligência Artificial, caso os prometidos ganhos de produtividade e de lucros não se concretizem.
Uma deceção nesse domínio provocaria uma correção significativa no mercado bolsista, sobretudo nas ações tecnológicas que têm liderado o mercado e cujo peso nas bolsas é considerável.
Um abrandamento económico mais acentuado, motivado pelo aumento das tensões comerciais entre Washington e Pequim, ou uma nova aceleração da inflação que forçasse os bancos centrais a endurecer as políticas monetárias, são igualmente hipóteses plausíveis.
A importância da diversificação das carteiras
Uma correção das bolsas é inevitável. A questão é quando? Dentro de dois meses ou de dois anos? Por isso, se vender prematuramente pode perder um período importante de ganhos.
Como sempre, o investimento em ações deve ser encarado numa perspetiva de longo prazo. É imprescindível manter uma carteira diversificada, capaz de atravessar crises com perdas controladas e preparada para beneficiar da recuperação subsequente.
Com o comércio mundial a mostrar menor dinamismo, as regiões cujo crescimento depende essencialmente das exportações, como a zona euro e o Japão, são as mais vulneráveis. A carteira deve dar preferência às economias com forte procura interna, como os Estados Unidos, China e Índia, e que deverão continuar a ser o principal motor da expansão global.
+3,2%
Estimativa de crescimento do PIB global em 2025. Para 2026, o FMI prevê 3,1%. Ambos os valores ficam apenas ligeiramente aquém dos 3,3% observados em 2024.
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