Análise

Obrigações dos países emergentes: vale a pena comprar?

Investir em obrigações dos países emergentes

Investir em obrigações de países emergentes pode ser uma opção interessante de investimento

Publicado em: 21 maio 2024
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Investir em obrigações dos países emergentes

Investir em obrigações de países emergentes pode ser uma opção interessante de investimento

A exposição à dívida emergente permite obter taxas de juro mais elevadas, mas o risco também é superior. Destacamos cinco produtos para investir.

 

A última década foi bastante atípica para as obrigações. Após um longo período de taxas muito baixas, a forte subida dos juros arrasou as cotações destes títulos de dívida pública. Como há uma relação inversa, isto é, o aumento das taxas implica uma queda automática das cotações, o rendimento médio anual das obrigações globais foi de apenas 1,5 por cento.

Todavia, a dívida emergente conseguiu um desempenho mais interessante: 3,4% ao ano, na última década. A diferença, nos últimos três anos, foi ainda mais acentuada: perda de 3,6% contra um ganho 2,6 por cento.Conclusão? O risco acrescido das obrigações emergentes tem sido compensado por melhores rendimentos.

Mais recentemente, graças à política monetária da maioria dos bancos centrais, que subiu agressivamente as taxas de juro para combater a inflação, o rendimento (yield) oferecido pelas obrigações da zona euro, com um prazo de 10 anos, passou de terreno negativo para perto de 3% ao ano. Nos EUA, entre meados de 2020 e o final de 2023, as yields subiram de cerca de 0,5% para 5 por cento.

Entretanto, recuaram ligeiramente perante a expectativa de uma mudança de política dos bancos centrais. A inflação está agora sob controlo. É, por isso, expectável um corte nas taxas diretoras, o que implica uma redução dos juros em prazos longos. Todavia, a menos que surja uma grave crise global, as taxas das obrigações não voltarão para valores próximo do zero.

Como a DECO PROteste Investe tem vindo a referir nas suas análises, o investimento em obrigações voltou a ficar relativamente atrativo depois de mais de uma década "anormal". 

Mais ganhos no futuro 

Face às mudanças de política monetária que se avizinham, é de esperar que as obrigações venham a render bastante mais do que nos últimos anos. Por exemplo, o atual rendimento anual entre 4% e 5% das obrigações soberanas em dólares torna-as apetecíveis para controlar o risco de uma carteira de investimento. Apesar de as obrigações dos mercados emergentes não possuírem esse atrativo de valor de refúgio, podem propiciar yields acima de 10 por cento.

Estes retornos elevados refletem, naturalmente, um maior risco subjacente. Em primeiro lugar, a solidez financeira destes países é, por norma, mais débil do que a das economias desenvolvidas. Logo, a possibilidade de incumprimento (não-pagamento de juros ou reembolso do capital) dos Estados é maior. Em segundo lugar, as respetivas moedas são mais voláteis e podem gerar prejuízos cambiais para os investidores.

No quadro mais abaixo pode ver os níveis de rating dos países emergentes mais comuns nas carteiras de fundos e ETF, além do rating dos EUA e de Portugal, como comparação.

Por norma, quanto pior o rating de um Estado, maior será o yield das respetivas obrigações. Existem, no entanto, outros fatores. Os ratings incidem sobre a capacidade de pagamento de dívida em moeda estrangeira (dólares, essencialmente), pelo que o endividamento externo e o nível de reservas cambiais são determinantes.

Mas atenção: as yields não são tudo. É preciso considerar as várias vertentes do eventual rendimento. Ao investir em fundos de obrigações emergentes (ou em geral), os ganhos são gerados pelos juros anuais yields) proporcionados pelos títulos e, quanto mais alta a yield, maior o ganho. Contudo, também há ganhos/perdas com a evolução da cotação das obrigações e, por fim, ganhos/perdas com a variação do valor das várias moedas face ao euro. É a soma destes efeitos que dita se o fundo ganha ou perde valor. Por isso, uma elevada yield é um trunfo, mas isso não significa que seja uma garantia de valorização.

Os fundos/ETF que abordamos nesta análise apostam em dívida emitida em moeda local, isto é, que propicia uma yield mais elevada, mas têm maior risco cambial. Atualmente, é mais interessante o investimento em dívida denominada em yuan chinês e em real brasileiro.

China

A China pode ser um país emergente, mas é a segunda maior economia mundial, e Pequim não tem poupado esforços para tornar o yuan numa moeda de referência global. Como consequência, tem uma volatilidade até mais baixa do que o dólar (face ao euro). Além disso, o país de Xi Jinping não conhece problemas de inflação. Uma descida dos juros é bem mais provável, o que beneficiaria o valor atual das obrigações.

Sob este prisma, é um ativo adequado para diversificar o risco, mais do que um catalisador de rendimento, como acontece com outras obrigações emergentes.

Em resumo, a dívida chinesa proporciona um rendimento anual reduzido, o que reflete as suas particularidades. Para baixar o risco da carteira, pode dedicar até 5% em yuan. Destacamos um fundo de investimento e um ETF para este mercado. 

EURIZON BOND AGGREGATE RMB R EUR ACC 
CÓDIGO ISIN LU1529955046

ISHARES CHINA CNY BOND UCITS ETF USD ACC 
CÓDIGO ISIN IE00BKPSFD61

Brasil

O real brasileiro alia uma elevada yield à credibilidade do banco central que, antecipando-se à Reserva Federal dos EUA, começou mais cedo, no início de 2021, a subir os juros, para controlar a inflação e suportar o valor da moeda. Juros mais altos travaram os preços e evitaram a saída de capitais, evitando sérios problemas para o país.

Com um rendimento em torno de 11,5% ao ano, as obrigações soberanas brasileiras permanecem interessantes, estando o risco cambial contido devido à boa política monetária.

O aumento dos gastos do Estado pode ser um problema mas, mesmo nesta área, estima-se uma redução do défice orçamental. Se o mercado não for inundado por novas emissões, as taxas de longo prazo poderão baixar, o que é favorável ao desempenho do fundo.

Se seguiu o nosso conselho para esta categoria, e comprou um fundo há cerca de dois anos, acumulou um ganho de cerca de 14 por cento. De momento, mantém-se uma aposta atrativa, mas, dada a valorização dos últimos anos, convém permanecer mais atento às nossas análises. Por ora, existe apenas um fundo dedicado a este mercado. Face ao risco, limite a exposição a 5% da carteira. 

BRADESCO BRAZILIAN FIXED INCOME EUR R 
CÓDIGO ISIN LU0508552956

Outros emergentes

Pode, também, investir em fundos ou ETF dedicados às obrigações emergentes no geral. Embora não possa selecionar as moedas, fica com uma exposição aos principais mercados emergentes. A Indonésia e a Coreia do Sul, por exemplo, beneficiam de uma moeda subvalorizada face ao euro. Ao invés, a moeda mexicana está sobrevalorizada, mas a yield em torno de 10% é atrativa.

Por sua vez, a divisa polaca tem dois contras: está sobrevalorizada e a yield é reduzida para compensar esse maior risco. O fundo Candriam Bonds Emerging Debt Local Currency detém, atualmente, cerca de 20% em dívida em dólares (hard currency), mas o resto da carteira dá preferência aos títulos em pesos mexicanos, rupias da Indonésia, reais brasileiros e zlotys polacos.

O ETF SPDR Bloomberg Emerging Markets Local Bond tem uma exposição de 10% a cada uma das seguintes moedas: won sul-coreano, yuan chinês, rupia indonésia, peso mexicano, real brasileiro e ringgit da Malásia. Sob esta perspetiva, o ETF é mais "puro" e beneficia de custos mais baixos.

Contudo, a gestão ativa do Candriam tem sido bastante eficaz, o que o coloca na liderança da categoria à luz do nosso indicador. Estes produtos podem acrescentar rendimento à carteira. Porém, como o risco é considerável, limite o seu peso a 5% do total. Se já tem muita exposição (mais de 25% do portefólio) aos emergentes, através de fundos/ETF de ações, não invista.

SPDR BLOOMBERG EMERGING MARKETS LOCAL BOND ETF ACC 
CÓDIGO ISIN IE00BFWFPY67

CANDRIAM BONDS EMERGING DEBT LOCAL CURRENCY
CÓDIGO ISIN LU0616945522

Taxas de juro e ratings de 13 países

PAÍS RATING JUROS ao ano%
Estados Unidos AA+ 4,6%
Coreia do Sul AA 3,6%
China A+ 2,3%
Portugal A- 3,2%
Malásia A- 4,0%
Polónia A- 5,9%
Tailândia BBB+ 2,7%
Indonésia BBB 7,0%
México BBB 10,0%
Colômbia BB+ 10,6%
Brasil BB 11,5%
África do Sul BB- 10,8%
Turquia B 26,7%

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