Análise

Quais as bolsas mais baratas para investir em fundos e ETF de ações?

Publicado em:  17 julho 2023
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Quais são as bolsas mais baratas e o que é um bom indicador para a escolha dos fundos e ETF de ações em que deve investir?

Quais são as bolsas que se encontram atualmente mais baratas? Turquia e China estão em ‘saldos’, mas os Estados Unidos permanecem relativamente caros.

Será que o rácio PER é um bom indicador para a escolha dos fundos e ETF de ações em que deve investir?

Existem diferentes critérios para avaliar um determinado ativo financeiro. No entanto, um dos mais conhecidos quando se trata de ações (ou mercados acionistas) é o PER (price earnings ratio) ou rácio da cotação sobre o lucro.

Este indicador pretende captar o nível de valorização da empresa (ou mercado) comparando a cotação atual com os lucros gerados (por ação).

Por exemplo, se o rácio PER for de 20 significa que a empresa demorará 20 anos para gerar lucros num valor equivalente ao montante em que a empresa está atualmente cotada em bolsa.

Ou seja, quanto mais elevado for o PER mais “cara” está a ação porque a empresa demorará um período temporal mais extenso para que o seu atual nível de lucros “paguem” a cotação (preço atual).

Da ação para a bolsa

O raciocínio e a interpretação do PER podem ser transpostos para os mercados em geral sejam em termos nacionais, regionais, setoriais e até globais.

Nestes casos, o PER é elaborado com base nas empresas que compõem um índice do mercado-alvo.

No quadro em baixo apresentamos os rácios PER para os mercados acompanhados mais de perto pela Proteste Investe e ordenados do mais “barato” para o mais “caro”.

O PER apresentado é ligeiramente diferente do explicado anteriormente apenas porque considera os lucros esperados num horizonte de 12 meses e não os últimos lucros publicados.

Optamos por esta variante porque inclui já algumas das expectativas dos investidores para as respetivas empresas e mercados.

No quadro encontra igualmente o PBV (price to book value; rácio cotação/valor contabilístico) cuja interpretação não é muito diferente da do PER apesar de ter um conceito diferente.

Assim, ao comparar a cotação com o valor contabilístico, quanto mais reduzido mais “barato” o mercado. O PER e o PBV são indicadores bastante utilizados para estratégias de investimento que procuram value (valor).

Ao centrar as suas apostas essencialmente em empresas com PER mais baixos, muitos investidores estão a seguir as estratégias ditas value.

Ou seja, procuram comprar negócios já relativamente sólidos por preços razoáveis. Os lucros “pagarão” a empresa em pouco anos.

Por fim, o dividend yield pode, por seu turno, ser considerado um fator de qualidade (quality) ao mostrar que os lucros existem e são efetivamente canalizados para pagar dividendos aos acionistas.

Rácios PER para os mercados

(1) Com base nos índices Datastream. (2) Rácio da cotação sobre o valor contabilístico. (3) Dividendos brutos em percentagem das cotações. (4) Rácio da cotação / lucros esperados a 12 meses. Valores a 10/07/2023.

No espaço e no tempo

Como seria de esperar, os PER (e outros indicadores) variam de mercado para mercado, permitindo dizer que a bolsa X está, de momento, mais barata do que a Bolsa Y.

Contudo, os rácios PER também evoluem ao longo do tempo. Um mercado pode ficar mais (ou menos) atrativo, por exemplo, de um ano para o outro.

Ou mais barato do que se apresentou tendo em conta a média histórica.

Atualmente, o mercado global apresenta um PER de 14,6, mas a média dos últimos 10 anos foi de 15,5 e nos últimos 30 anos rondou 15,8.

Assim, assumindo as expectativas de lucros nos próximos doze meses, o mercado acionista global está apelativo em termos de valorização histórica e sobretudo face à euforia pós-pandemia quando o PER global se aproximou de 20 valores.

Nos Estados Unidos, o panorama é diferente. O PER de 19,3 está claramente aquém dos 23 que atingiu em 2021, mas acima da média de 17,9 dos últimos 10 anos.

Pode dizer-se que, as bolsas norte-americanas estão agora menos “sobreavaliadas” do que em 2021.

‘Value’ vs. ‘growth’

Se o PER aponta para o que está “barato” por que motivo os investidores também adquirem ações com PER muitos elevados (“caras”)?

Algumas empresas, nem PER podem ter porque ainda dão prejuízos. A explicação é simples. A decisão assenta na expectativa de que a empresa irá fazer crescer os seus resultados de forma bastante acentuada nos próximos anos.

Daí a designação growth stocks (ações de crescimento), caracterizadas por PER elevadíssimos como os registados em muitas empresas tecnológicas ou que estão a iniciar a sua atividade.

É uma abordagem mais arriscada porque há poucas provas (ou nenhumas) da capacidade das empresas em atingir as expectativas.

Um PER baixo não é igualmente garantia de um investimento de sucesso. Não é incomum ser um sintoma de desconfiança para o futuro, ou seja, de quebra dos resultados das empresas ou de estes estarem ensombrados por grandes incertezas.

Portanto, os investidores estão dispostos a pagar (cotação) muito pouco pelos lucros, resultando num PER reduzido.

Combinar as análises value e growth é aconselhável e não é uma novidade. Contudo, mais recentemente, essa estratégia passou a ser conhecida como GARP (growth at reasonable price), o que significa em inglês crescimento a preços razoáveis.

É um conceito atrativo, mas tem, como outros, de ser encarado com moderação. No limite, é um pouco utópico querer garantir o melhor de dois mundos sem nenhum dos respetivos inconvenientes.

Melhores bolsas para investir?

Em suma, deve privilegiar mercados com PER reduzidos e ficar afastado de bolsas que apresentam PER elevados?

Pelo que já referimos a resposta é negativa. Em primeiro lugar, o PER tem as suas limitações e, em segundo lugar, é apenas um indicador de análise entre outros.

No quadro das bolsas, encontra igualmente o rácio PBV e o dividend yield, mas, mesmo no seu conjunto, estes três indicadores são insuficientes para uma análise completa.

Como se observa, a Turquia é atualmente o mercado mais “barato” em termos de PER, mas não recolhe a nossa recomendação.

A Índia é o mais “caro” e não é igualmente aconselhado. Ao invés, China e Estados Unidos, posicionados em zonas bastante opostas na escala, estão entre as nossas recomendações, tal como outros mercados a meio da tabela.

A nossa metodologia incorpora outros fatores como o risco (volatilidade), crescimento económico a longo prazo (PIB), evolução dos preços (inflação) e das taxas de juro e a correlação entre os diferentes ativos (essencial para a construção de carteiras).

É da sua conjugação que resultam as recomendações para os diferentes mercados.

Exemplos

A China continua com um baixo PER fruto de incertezas da retoma económica pós-covid, “ataques regulatórios” de Pequim e as tensões com Washington.

Contudo, são fatores cuja importância tem sido exagerada e que não colocam em causa o potencial de crescimento das empresas chinesas a longo prazo.

Por isso, é um mercado que aconselhamos. Por exemplo, a Turquia tem baixo PER, mas “chumba” devido ao elevado risco político e cambial (valor da lira).

Já os EUA “passam”, por exemplo, pelo seu peso incontornável nos mercados globais e o excelente desempenho que várias das grandes tecnológicas têm conseguido.

O seu PER elevado é justificado porque as expectativas são mais elevadas, mas possuem boas hipóteses de ser atingidas.

A meio da tabela há oportunidades igualmente interessantes e bastante diferentes. O México é o nosso emergente preferido, mas sendo mais arriscado deve ter menor peso numa carteira.

Ao invés, assente numa economia madura, mas com as empresas cada vez mais despertas para a remuneração dos acionistas, o Japão torna-se uma escolha natural.

 
 
 

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