Apesar da turbulência bancária, os bancos centrais mantiveram-se focados na luta contra a inflação. A Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra aumentaram as respetivas taxas diretoras em 0,25%. O Banco Central Europeu e o banco central suíço subiram-nas em 0,50% apesar da queda do Credit Suisse.
É verdade que as pressões inflacionistas permanecem elevadas em ambos os lados do Atlântico e até ressaltou de forma surpreendente no Reino Unido. Mas, perante o abalo no setor bancário, levantou-se a hipótese de uma paragem ou, pelo menos, uma pausa, no aumento dos juros.
Embora as autoridades monetárias tenham mantido o rumo, tomaram, ao mesmo tempo, medidas de emergência para assegurar o financiamento dos bancos em dificuldades e sobretudo suavizaram a retórica anti-inflação.
Pecar por excesso
Durante demasiado tempo, os bancos centrais minimizaram o risco inflacionista, um fenómeno que então consideravam temporário. Quando o BCE aumentou a taxa diretora pela primeira vez, em julho de 2022, a inflação já estava em 8,9% e desde há 13 meses acima da meta oficial de 2%. Para evitar que este erro inicial, depois de ter pecado por defeito, causasse receios da atuação ser insuficiente para conter a derrapagem de preços, os bancos centrais “apertaram” as políticas monetárias a um ritmo acelerado. A Fed aumentou as taxas de juro num total de mais 4,75%, em nove reuniões consecutivas, o BCE em 3,50%, em seis vezes e o Banco de Inglaterra em 4,15%, em onze ocasiões.
Hoje, há o medo de pecar por excesso. A crise bancária recordou que uma subida muito rápida das taxas de juro provoca turbulência financeira e ameaça as instituições mais frágeis. Num pior cenário, a forte subida dos juros poder provocar o colapso de setores inteiros, como o imobiliário em certos países.
O receio de fazer demasiado é ainda mais premente na mente dos banqueiros centrais porque demora alguns trimestres para que o efeito dos juros se repercuta completamente na economia real. As subidas das taxas de juro nos últimos meses estão, portanto, apenas a começar a ter impacto na atividade económica e na inflação. Além disso, a crise bancária, que incentiva os bancos a serem mais cautelosos, conduzirá a uma maior restritividade das condições de crédito, independentemente das políticas dos bancos centrais.
Inflação, ainda no centro do debate
Será a evolução da conjuntura que determinará as próximas decisões dos bancos centrais. No Reino Unido, prevê-se uma fraca procura interna e, consequentemente, um abrandamento acentuado da inflação nos próximos trimestres. Por isso, o Banco de Inglaterra deve optar pelo status quo nas suas próximas reuniões. Com a inflação, nos Estados Unidos, a cair dos 9,1% do verão passado para os atuais 6%, a Reserva Federal acredita que está no caminho certo e pretende encerrar em breve o ciclo de aperto monetário.
Talvez haja apenas mais uma subida de 0,25%. A situação é mais delicada na zona euro, onde a inflação é ainda muito elevada e há a possibilidade de haver vários aumentos adicionais das taxas de juro.
A evolução das políticas monetárias dependerá também das consequências da crise bancária na distribuição do crédito e na atividade económica. Mas relativamente a estes efeitos, como admitiu, sem rodeios, o governador da Fed, hoje "simplesmente não sabemos".
Estratégias em tempos de incerteza
Com o fim das subidas esperadas das taxas, a política monetária entrou numa nova era. Não há dúvida de que, em ambos os lados do Atlântico, a maior parte do ajustamento monetário já foi alcançado, o que é importante para as estratégias de investimento. Atormentado pela forte subida das taxas de juro, o mercado obrigacionista já passou a pior fase. Esperar por um hipotético novo aumento nas yields, antes de investir, tornou-se mais arriscado.
Na carteira equilibrada, recomendamos 45% em fundos de obrigações. Se está longe desta proporção, deve aumentar a quota obrigacionista para equilibrar o risco da sua carteira.
Do lado das ações, alguns setores receberão com alívio o fim da subida dos juros, particularmente o setor tecnológico. Entre os mercados presentes nas nossas carteiras, é nos Estados Unidos e na Coreia do Sul que o setor tecnológico tem maior peso, pelo que serão os mais beneficiados no novo ciclo.
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