A subida das taxas de juro marca o fim de uma era na Suécia. Durante décadas, a habitação própria, cujos preços triplicaram entre 2006 e o pico de 2022, foi a pedra angular da riqueza das famílias.
Além de o crédito barato facilitar o financiamento da compra de habitação, o aumento do valor dos imóveis permitia aos mutuários obter créditos adicionais para melhorar o estilo de vida (mais consumo).
Um fenómeno que empurrou o endividamento das famílias para um dos níveis mais elevados do planeta: 200% do rendimento disponível.
Como quase todo o crédito é de taxa variável (tal como em Portugal), as famílias estão agora expostas às condições do mercado e o peso da dívida disparou.
Esta situação coloca o mercado imobiliário em dificuldades, pois as famílias mais vulneráveis são forçadas a vender os imóveis e os potenciais compradores enfrentam condições de crédito menos atrativas.
O preço das habitações caiu 12% desde os máximos de 2022 e pode recuar 20% a 25% antes de se encontrar um novo equilíbrio.
Muito dependerá da inflação e até onde o banco central (Riksbank) for em termos de taxas de juro. As vendas a retalho caíram 9,4% num ano e o PIB recuou 0,9%, mas, apesar desta quebra da atividade, a inflação continua muito elevada: 9,7% em fevereiro, valor superior ao da zona euro e dos EUA.
O Riksbank deve, por isso, subir a taxa mais uma vez, para 3,25%, apesar dos riscos para a economia e o imobiliário. Ainda assim, aquém da taxa do BCE (3,5%), a qual também deverá ser aumentada.
Vida além do imobiliário
Os riscos para a economia e, em particular, para o mercado interno, aumentaram e a Suécia dificilmente evitará uma recessão. No entanto, mostra uma forte resiliência.
Se a atividade diminui, não estamos perante um colapso e o FMI estima uma contração do PIB de apenas 0,5% em 2023. Além disso, a queda nas vendas a retalho mostra que os suecos mudam os hábitos mais do que os gastos.
De facto, estão mais virados para os serviços (como a restauração) e, no seu conjunto, o consumo das famílias até aumentou 1% num ano, graças ao dinâmico mercado de trabalho. Em 7,4%, a taxa de desemprego permanece relativamente contida.
Trunfos das empresas
A mão-de-obra altamente qualificada, o foco nas novas tecnologias e uma geração de empresários inspirados com algumas histórias de sucesso, criaram um ecossistema único na Suécia que a tornou líder europeia em domínios como a fintech (Klarna), o streaming (Spotify), 5G (Ericsson) e as baterias (Northvolt).
De um modo geral, o conjunto de todas as empresas suecas beneficiam deste know-how para se reinventarem e tornarem competitivas à escala global.
Desde o início do ano, a bolsa de Estocolmo valorizou 8%, superando a média de 6% do mercado global. Se a economia global continuar a evoluir favoravelmente ou, pelo menos, não colapsar, as ações suecas estão bem posicionadas.
No entanto, os riscos são relevantes. Primeiro, a economia interna está sob pressão. Segundo, os rácios de Estocolmo estão pouco atrativos (PER de 16,2 contra 15 da média global), pressupondo um maior crescimento dos resultados numa conjuntura global complexa.
Para o mercado de ações, esta combinação de incertezas, torna o ETF iShares OMX Stockholm apenas aconselhável para perfis de investimento menos defensivos.
Ainda entre os ativos suecos, o fundo de obrigações Nordea Swedish Bond E permite beneficiar de uma eventual apreciação da coroa face ao euro.
Uma opção apenas atrativa se quiser reduzir o risco global de uma carteira já muito exposta a mercados de ações.
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