Análise

2023: recuperação em curso

Publicado em:  06 abril 2023
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O saldo do primeiro trimestre é positivo para a maioria dos fundos de ações. As categorias das obrigações lucraram com a descida das taxas de juro de longo prazo e estão no positivo em 2023.

Após um 2022 bastante conturbado para as bolsas, este ano está a ser mais positivo. Os receios de fortes recessões no Ocidente dissiparam-se e os bancos centrais estão perto do fim do ciclo de subida dos juros.

Ao mesmo tempo, a reabertura da China trouxe esperanças de um dinamismo acrescido à economia mundial. O otimismo “abanou” com os problemas na banca, mas não “caiu”.

Se essa crise permanecer contida, os mercados poderão continuar em alta, embora as perspetivas para os resultados das empresas não sejam espetaculares, pois o crescimento económico global está em abrandamento.

Ações globais ganham 5,5% em 2023

A melhoria do sentimento dos investidores está patente na valorização dos mercados acionistas a nível global.

De forma algo surpreendente, os ganhos têm sido liderados pelos fundos de ações da zona euro, com uma progressão média de 11,8% no primeiro trimestre de 2023.

Em destaque particular esteve o ETF iShares Euro Total Market Growth (IE00B0M62V02) com +16,7%, mas nem só as ações de crescimento (growth) estiveram na ribalta.

O UBS Factor EMU Quality (LU1215451524), com outra abordagem de investimento, também conseguiu ganhar 16,2%. Era a Europa, e alguns países da zona euro, em particular, que estavam mais expostos à crise energética espoletada pela guerra na Ucrânia.

No entanto, o inverno foi ultrapassado sem grandes sobressaltos e sem racionamentos. Para conseguir fornecimentos alternativos à Rússia, a fatura foi elevada, mas, entretanto, os preços do gás natural recuaram substancialmente face aos máximos de 2022.

A hipótese de uma acentuada recessão económica na Europa foi afastada e as bolsas reagiram de forma bastante positiva.

Mais atrás, ficaram os fundos de ações norte-americanas com um ganho médio de 5,1%, apesar da forte recuperação do setor tecnológico global.

Por um lado, o dólar perdeu 1,8% no trimestre, contra o euro. Por outro, o abanão no sistema bancário, com a queda do Silicon Valley Bank, penalizou muitos dos setores mais “tradicionais” presentes nos índices, em março.

O ETF iShares MSCI USA SRI (IE00BYVJRR92) consegue +5,8% em 2023, mas, por exemplo, o iShares Russell 1000 Growth (US4642876142) valoriza 12,3% este ano devido à maior presença das ações de crescimento (growth stocks).

Emergentes valorizam 1,9%

O ano começou com as notícias do fim da política de covid-zero e a reabertura da China. Esta perspetiva foi o grande catalisador dos mercados no início de 2023, pois permitiria compensar o abrandamento das economias ocidentais.

Porém, o arranque chinês não se está a revelar tão acentuado como se antevia e agora, o otimismo é mais moderado. A comprová-lo, a valorização média dos fundos de ações chinesas, em 2023, não chega a 1%.

O Mirae Asset ESG China Sector Leader Equity (LU0336295752) não evitou mesmo um ligeiro recuo de 0,2%. Mesmo assim, é uma clara melhoria face aos resultados dos mercados chineses nos anos anteriores.

Por seu turno, os dois mercados emergentes que preferimos tiveram desempenhos bem melhores. É o México que lidera a tabela de 2023, e o ETF HSBC MSCI Mexico Capped (IE00B3QMYK80) acumula um ganho de 18%.

Menos impressionante, mas mantendo uma boa consistência, tivemos a bolsa de Jacarta, onde o Fidelity Indonesia (LU0055114457) valorizou 4,8%.

Tecnologia lidera

O fim do ciclo de subida das taxas de juro, por parte da Reserva Federal, deu um forte impulso às ações do setor tecnológico. Os fundos dedicados às techs valorizam 17,2% em 2023.

O ETF Lyxor MSCI World InfoTech (LU0533033667) ganha 18,9%. Se o setor, em geral, não é particularmente atrativo para o investimento, o subsetor dos semicondutores é interessante.

A nossa recomendação, o ETF VanEck Semiconductor (IE00BMC38736) está a ganhar 27,4% em 2023.

Depois de ter sido algo negligenciado, o setor da energia alternativa está de volta aos ganhos. O destaque vai para o fundo Pictet Clean Energy Transition (LU0280435388) cuja valorização é de 11,8% este ano.

Em sentido contrário, no primeiro trimestre, estiveram os fundos especializados nos setores da saúde e da energia (petróleo & gás), com quedas médias de 2,1% e 3,5%, respetivamente.

O primeiro tem um cariz mais defensivo e foi preterido perante o regresso do otimismo. É uma reação expectável e não invalida o potencial dos cuidados de saúde a longo prazo.

Pode investir através do ETF Xtrackers World Health Care (IE00BM67HK77) ou do fundo BGF World Healthscience (LU0171309270). O setor da energia foi penalizado pelas perspetivas de uma menor procura e, sobretudo, por um nível esperado de preços dos hidrocarbonetos inferior ao de 2022.

No entanto, dadas as limitações na oferta, acentuadas pelo corte de produção anunciado pela OPEP, já em abril, o panorama não é desfavorável. Se considera que o petróleo ainda não deu as últimas cartas, dispõe do ETF Xtrackers MSCI World Energy (IE00BM67HM91).

Por fim, uma referência para o setor aurífero com um ganho de 13,2% no mês passado (+8,8% em 2023). Após uma travessia do deserto, o ouro voltou a brilhar com os problemas da banca (fundos do setor perderam 11,3% em março; -2% em 2023) e já está novamente acima dos 2000 dólares a onça.

Não aconselhamos a exposição a empresas de extração, cujos resultados são muito voláteis. Para ter o efeito de diversificação do ouro na carteira (peso até 5%) deve antes aplicar num ETF que detém barras de ouro, como o iShares Physical Gold (IE00B4ND3602).

Obrigações de volta aos ganhos

No início de 2023, o recuo gradual das taxas de inflação já tornava mais provável uma mudança nas políticas dos bancos centrais.

Esta perspetiva tornou-se ainda mais consensual, no início de março, com os problemas no setor bancário nos Estados Unidos. A Reserva Federal terá de pôr fim ao ciclo de subidas ou arrisca-se a fazer tremer muitos bancos americanos de pequena e média dimensão.

Por isso, as yields de longo prazo recuaram dos máximos, o que, automaticamente, valoriza as obrigações e os fundos dedicados a estes títulos.

Este movimento favorável foi transversal a todos os mercados, mas não se refletiu efetivamente nos resultados dos fundos devido à influência do fator cambial.

Espera-se que o Banco Central Europeu tenha de ser um pouco mais agressivo do que outros, tornando os juros da zona euro comparativamente mais atrativos.

Para já, essa expectativa causou a apreciação do euro face à maior parte das divisas globais e penalizou o investimento em muitas das obrigações não denominadas em euros.

Assim, os fundos dedicados à dívida soberana em euros acumulam um ganho de 2,2% em 2023, mas sobretudo assente na subida registada em março e fruto da crise bancária.

É esse o resultado obtido pelo ETF Lyxor Euro Government Bond 5-7y (LU1287023003).

Na categoria do dólar, mesmo com o recuo da nota verde, o fundo Fidelity US Dollar Bond (LU0261947682) valoriza 1,4%. 

Os resultados trimestrais na dívida high yield, que marca presença nas nossas carteiras, também são favoráveis. Xtrackers EUR HY Corporate Bond (LU1109943388) valoriza 2,9% e o Xtrackers USD HY Corporate Bond (IE00BDR5HM97) sobe 2%.

Este tipo de títulos é mais arriscado porque os emitentes possuem menos solidez financeira, mas oferecem níveis de juros que, atualmente, consideramos compensadores (5% acima da dívida soberana dólar e +4,8% para os títulos em euros).

Por fim, a aposta das nossas carteiras em dívida denominada em reais brasileiros continua a dar bons resultados.

O fundo Bradesco Brazilian Fixed Income (LU0508552956) acumula +5,6% em 2023. Os títulos brasileiros oferecem taxas em torno dos 13% ao ano, um atrativo que compensa o risco cambial.

 

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