O peso económico da Ásia tem vindo a aumentar. Depois da forte recuperação de 6,5% em 2021, o crescimento económico na região Ásia-Pacífico deverá abrandar para 4% em 2022.
Mas, e ainda segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), espera-se que acelere para 4,3%, em 2023, mesmo após as últimas revisões. Por seu turno, a inflação subiu acima das metas dos bancos centrais, mas deverá atingir o pico no final de 2022.
A Ásia continuará a destacar-se numa economia global cada vez mais vacilante, mesmo que se se expanda a um ritmo abaixo da taxa média de 5,5% observada nas duas décadas anteriores.
Este abrandamento deve-se aos novos desafios que vão surgindo à medida que os efeitos da pandemia diminuem. É o caso da subida global das taxas de juro e do abrandamento esperado da procura externa.
Embora tenham sido adotadas medidas para evitar que a inflação se torne mais persistente, internamente, a política monetária tem sido menos agressiva do que no Ocidente.
O aumento dos níveis da dívida pública da região exige uma continuação da consolidação orçamental. Todavia, as autoridades locais têm margem para fazer intervenções bem direcionadas e temporárias, de forma a atenuar os choques globais no preço dos alimentos e da energia.
Como habitual, o FMI também recomenda reformas estruturais para impulsionar o crescimento e mitigar as cicatrizes da pandemia, nomeadamente compensar a perda de escolaridade através de investimentos na educação e formação.
Ainda que esteja longe da perfeição e tenha importantes diferenças entre si, o panorama económico da Ásia é bastante mais animador do que o vivido na Europa.
Diversas bolsas asiáticas apresentam, igualmente, rácios de valorização atrativos face à média mundial, com boas perspetivas de crescimento económico. Atualmente, no âmbito das nossas carteiras de fundos, incluímos China, Japão, Coreia do Sul e Indonésia, embora por motivos diferentes.
Dada a evolução da conjuntura global, não têm, naturalmente, um lugar cativo. Se pretende complementar o seu portefólio, há outras hipóteses, como Singapura e Vietname.
Quem investe a longo prazo tem uma oportunidade de “entrar” nos mercados em níveis mais atrativos. Porém, a conjuntura global é desafiante e incerta, pelo que as bolsas tenderão a permanecer sob pressão, nos próximos meses.
Mercados asiáticos
China
Corrigido pela paridade do poder de compra, o PIB da China já vale quase 20% do total da riqueza global gerada em cada ano.
Sob esse prisma, é um mercado incontornável. Apesar do conflito comercial com os EUA e as tensões na Formosa, não parece que o Ocidente possa, ou deseje, isolar a economia da China.
Contudo, as notícias sobre o rumo político-económico de Pequim não são tranquilizadoras, e as tensões comerciais com os EUA não ajudam. No terceiro trimestre, a economia cresceu 3,9%, uma aceleração face aos 0,4% do segundo trimestre.
Ainda assim, é um valor fraco, e 2022 ficará muito aquém do objetivo oficial de 5,5 por cento. A política de “covid zero” (estratégia que Pequim se recusa a alterar) foi uma das causas para o fraco desempenho.
Depois, há os graves problemas no setor imobiliário. As autoridades tentaram travar o endividamento dos grandes promotores imobiliários. A intenção poderia ser salutar, mas os resultados foram desastrosos.
Pequim também “atacou”, com uma espiral regulatória, as suas gigantes tecnológicas, e a decisão levou as ações chinesas para os piores desempenhos dos últimos tempos. Em 2022, o índice da China CSI 300 cai 23,6%, contra 7,6% do índice global.
A China crescerá menos, mas manterá um ritmo invejável, que suportará as bolsas a prazo. Atualmente, a grande vantagem é os mercados chineses estarem com valorizações extremamente baixas devido a um pessimismo excessivo dos investidores.
Isso torna-os comparativamente mais atrativos. O rácio PER é de apenas 5,9 contra 13,4 da média global. Entrar a estes níveis dá boas perspetivas de valorização a longo prazo, embora os crescentes riscos não possam ser ignorados.
O fundo apresentado perdeu mais terreno nos últimos meses porque, entre outras empresas, aplica nas gigantes chinesas cotadas no estrangeiro, como Alibaba, Tencent, JD.Com e BYD, ações mais sob o radar dos investidores globais.
Foi um handicap, mas será a “China” com mais potencial para beneficiar da recuperação. Por seu turno, o ETF está centrado nas empresas cotadas no mercado doméstico chinês (Xangai e Shenzhen), que foram menos penalizadas.
Fundos e ETF recomendados:
Coreia do Sul
A Coreia é uma economia desenvolvida e joga na primeira divisão. Significa que tem problemas idênticos a outras potências industriais, como a Alemanha.
Foi atingida por problemas nas cadeias de abastecimento, que prejudicaram a recuperação da atividade no período pós-pandemia. Agora, devido ao arrefecimento da procura global e ao elevado custo da energia, está a perder força.
No terceiro trimestre, o crescimento do PIB foi de 0,3%, contra 0,9% no trimestre anterior. Em termos homólogos, a progressão foi de 3,1 por cento.
O facto de a economia já estar a abrandar deverá levar o Banco Central a reduzir o ritmo de subida dos juros. A bolsa de Seul também não tem entusiasmado os investidores.
O fraco desempenho do último ano resulta da conjuntura internacional desfavorável e de uma composição setorial menos apelativa na atualidade.
Assim, por um lado, a Coreia é prejudicada pela política de “covid zero” na China, que ainda leva ao encerramento de portos e áreas metropolitanas inteiras.
Por outro lado, a bolsa de Seul reflete as dúvidas do impacto da recessão global nos seus importantes setores cíclicos (industrial e bens de consumo não-essencial), e das taxas de juro no setor tecnológico (pesa cerca de 40% da bolsa).
Neste último caso, os trunfos em setores do futuro e a liderança em tecnologias de ponta (5G, baterias, veículos elétricos) não têm servido de atração.
Mas, a longo prazo, têm potencial. Ao nível atual das cotações, a bolsa está a níveis atrativos. No imediato, porém, o risco é significativo.
Fundos e ETF recomendados:
Japão
Na década de 80 do século passado, a economia japonesa era vista como o “papão” pelos Estados Unidos, que receavam ser ultrapassados. No entanto, após o rebentamento de uma enorme bolha imobiliária, o Japão perdeu o seu élan e nunca recuperou totalmente.
O envelhecimento da população, as recessões económicas recorrentes, os períodos de deflação e a dívida pública colossal não foram particularmente positivos nas últimas décadas.
O crescimento tem sido, contudo, mais do que suficiente para continuar a aumentar consideravelmente as condições económicas dos nipónicos, que estão entre os mais ricos do mundo.
Muitas empresas japonesas permanecem líderes globais, e a economia ainda é a terceira maior do mundo, atrás dos EUA e da China. Neste momento, o Japão também sofre com o abrandamento global, mas tem algumas particularidades.
O Banco Central mantém a taxa de juro diretora em -0,1%, enquanto outros bancos centrais estão a subir os juros. Com o crescente diferencial, os investidores vendem ienes para comprar moedas com taxas de juro mais elevadas, o que aumenta a pressão para a depreciação do iene.
É a baixa taxa de inflação que justifica esta abordagem do Banco do Japão. Nos EUA e na zona euro, a inflação ultrapassa os 9%, mas, no país do sol nascente, é de apenas 3 por cento.
Com a meta de 2% ao alcance, o Banco Central japonês não tem motivos para alterar, a médio prazo, esta política monetária ultraexpansionista.
Neste momento, a bolsa de Tóquio apresenta rácios um pouco mais atrativos do que a média mundial, mas não particularmente atrativos, pois pesam mais as cíclicas empresas industriais (24%) e de bens de consumo não-essencial (18%), bem como as tecnológicas (12%), que estão sob pressão a nível global.
O principal ponto de interesse assenta na menor correlação que o iene tem com os restantes mercados financeiros.
Em muitos momentos, a moeda nipónica aprecia quando há crises devido ao repatriamento de capitais por parte dos japoneses. A presença de fundos de ações nipónicas permite limitar o risco global de uma carteira.
Fundos e ETF recomendados:
Indonésia
O desempenho económico da Indonésia tem sido assinalável. O crescimento do PIB deverá continuar acima de 5 por cento. O país está a reabrir a economia e o turismo, o que aumenta a confiança das famílias e impulsiona o consumo.
Acresce a grande procura de matérias-primas que o país produz em abundância. É o caso de petróleo, gás, carvão, e, sobretudo óleo de palma, do qual a Indonésia é responsável por metade da produção mundial.
O apetite pelos recursos indonésios apoia, naturalmente, a economia, mas também a rupia indonésia, que se apreciou 5,1% face ao euro desde o início do ano. A credibilidade do Banco Central é outro fator importante para este bom resultado.
A Indonésia tem um perfil demográfico único. Os mais de 270 milhões de habitantes são muito jovens e beneficiam agora de uma melhor educação. Ao longo de 10 anos, foi o país do G20 onde a produtividade mais aumentou.
Outro grande trunfo são reservas de níquel, as maiores do planeta. Num mundo onde se espera que o futuro seja elétrico e as baterias essenciais, o apetite pelo níquel indonésio deve continuar elevado.
Jacarta tem vindo a controlar a exportação de minério de níquel “puro”, para atrair para dentro do país as fases de produção com maior valor acrescentado. Em vez de exportar apenas minerais, o país quer ter todo o processo de produção, desde a mineração até à bateria.
Em termos bolsistas, Jacarta tem tido um bom desempenho: ganho de 13,7% desde o início do ano contra uma queda de 7,6% do mercado global.
Constituído, sobretudo por empresas do setor financeiro (44%) e com algum peso das telecomunicações (12%) e dos bens de consumo essencial (10%), o mercado acionista está bem posicionado para beneficiar da recuperação da procura interna e da sua dinâmica de crescimento.
Quanto às commodities, que representam apenas 9% do índice, a sua quota-parte pode muito bem aumentar, à medida que cresce o investimento neste setor. Acresce que os níveis de valorização permanecem razoáveis, dado o bom desempenho do país e em comparação com a média global dos mercados.
Fundos e ETF recomendados:
Vietname
A perspetiva de crescimento do Vietname contrasta com a tendência de abrandamento noutros países asiáticos. A inflação moderada é também uma exceção na região.
Os consumidores estão, em grande parte, protegidos do aumento global dos preços dos produtos alimentares devido ao amplo abastecimento doméstico.
Segundo o FMI, o primeiro semestre pautou-se, à medida que foram levantadas as restrições da covid, por uma rápida recuperação económica.
Além de políticas de apoio, como baixas taxas de juro, houve um crescimento do crédito, uma forte produção industrial e recuperação da atividade do retalho e do turismo.
Segundo a previsão, a economia deverá crescer bem acima de 6%, em 2023 e 2024. Apesar do bom desempenho económico, o mercado acionista apresenta uma forte queda em 2022, superior à das demais bolsas da região, fenómeno que pode ter duas justificações.
Em primeiro lugar, as empresas dependem muito da China, cuja economia tem estado paralisada por confinamentos e outros problemas já referidos.
Em segundo lugar, o setor imobiliário pesa cerca de 30% no mercado, e sofre com as consequências da covid e o fecho do país, sendo que o Vietname atrai muitos investidores estrangeiros nesta área.
Infelizmente, este setor é propenso a bolhas, e retira algum interesse à bolsa de um país com elevado crescimento e cuja valorização está atrativa.
O rácio cotação/lucro é de apenas 9,1 contra 13 da média mundial. Tendo em conta esta ressalva, e se não está já muito exposto à China, uma aposta (bastante limitada) no Vietname pode ser interessante a longo prazo.
ETF recomendado:
Singapura
A cidade-estado de Singapura está, pelas suas características, muito dependente do desempenho económico asiático e mundial.
Embora se espere resiliência na recuperação, há incertezas significativas em torno, por exemplo, de novas perturbações na cadeia de abastecimento e menor procura por parte dos principais parceiros comerciais.
O FMI alerta que, no centro dos riscos, estão os desenvolvimentos na China, o maior parceiro comercial de Singapura, bem como a fragmentação económica global decorrente da guerra na Ucrânia.
Dada a forte recuperação económica do país e o aumento da inflação, a normalização da política em curso continua a ser adequada. Caso se concretizem novos riscos, Singapura poderá usar os amplos amortecedores fiscais, para suavizar o impacto.
Singapura é considerada uma economia desenvolvida e das mais competitivas do mundo. Sendo sobretudo um hub, beneficia ainda da saída de empresas de Hong Kong, após a maior intervenção de Pequim neste território.
Na bolsa de Singapura, o setor financeiro é hegemónico, tendo um peso superior a 40 por cento. A economia também depende dos semicondutores e de produtos petrolíferos refinados, mas têm pouca representação na bolsa.
Em média, os rácios de valorização da bolsa estão mais atrativos do que a média global, e o mercado é também pouco volátil face à concorrência asiática.
Com uma economia extremamente competitiva, finanças sólidas, e um polo alternativo a Hong Kong, o mercado não está demasiado valorizado.
Contudo, está exposto a um forte abrandamento do comércio mundial e pode merecer uma pequena aposta.
ETF recomendado:
Índia
Em contraste com o abrandamento verificado na China, a Índia tornou-se, em termos de crescimento económico, um dos países emergentes mais em destaque.
A progressão do PIB indiano tem sido uma das mais expressivas, e continuará a sê-lo. O FMI estima 6,8%, em 2022, e 6,1%, em 2023.
É inquestionável que o elevado crescimento demográfico e a deslocação de algumas atividades para fora da China favorecem a economia indiana – um desempenho que está mais do que refletido nos níveis das ações indianas.
Ao contrário da maioria de outros mercados, a bolsa indiana tem estado em alta. Neste momento, Bombaim é um mercado bastante caro.
Apresenta, por exemplo, um rácio cotação/lucro de 21, contra 13 da média mundial. De todas as bolsas que incluímos na nossa seleção, ambos os rácios são os mais elevados, razão pela qual não recomendamos, por agora, o investimento em fundos de ações indianas.
Malásia
Tal como a China, a Malásia recorre a planos quinquenais. A economia beneficia de importantes commodities, como óleo de palma, borracha e estanho.
Ao longo das últimas décadas, tem, no entanto, privilegiado os serviços, com o intuito de diversificar e tornar mais sólida a economia.
Além do importante setor do turismo, o destaque vai para o setor financeiro. A Malásia tem apostado em ser o maior centro global para a “finança islâmica”.
Com efeito, as financeiras dominam na bolsa, com um peso superior a 40 por cento. No que diz respeito ao nível de valorização, a bolsa de Kuala Lumpur está perto da média global, enquanto o crescimento económico da Malásia fica aquém de outros emergentes asiáticos.
Assim, dados estes fatores, não é, neste momento, uma aposta particularmente atrativa.
Crescimento económico na Ásia
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