O deslize do euro não é inesperado. Perante as taxas de juro mais elevadas nos Estados Unidos do que na zona euro, os investidores preferem a moeda mais bem remunerada que, além disso, é um valor de refúgio. Acresce que a economia europeia é mais afetada pela guerra na Ucrânia e que, aconteça o que acontecer, terá impactos duradouros.
A UE não poderá voltar à dependência energética da Rússia, que ainda é a fonte mais barata. Logo a balança comercial europeia caminhará para os défices e mais “venda” de euros para o pagar. Por fim, regressaram as tensões aos mercados de dívida soberana da zona euro, o que enfraquece ainda mais a moeda única.
Benefícios difíceis de identificar
Uma moeda fraca continua a fazer parte do arsenal utilizado por países como a Suécia para se manterem altamente competitivos. Contudo, a conjuntura económica é relevante e, deste ponto de vista, o impacto positivo de uma moeda barata é enfraquecido quando baixa a procura mundial e os custos de produção disparam como acontece atualmente.
Acrescem fatores estruturais, incluindo a especialização das economias desenvolvidas em produtos e serviços de valor acrescentado, onde as cadeias de abastecimento e de produção são mais complexas do que no passado. Uma montagem de componentes de diferentes países que complica o cálculo dos vencedores e vencidos de um euro fraco.
A vantagem competitiva ligada à depreciação cambial é, portanto, menor do que no passado e mais difícil de identificar. Por exemplo, a Air Liquide (comprar), que gera a maioria das receitas fora da Europa, beneficia com a queda do euro. Mas “perde” devido às suas compras de gás natural (expressas em dólares) e pelas dificuldades económicas esperadas na Europa.
Desvantagens óbvias
Num ambiente marcado pela inflação, as desvantagens de uma moeda enfraquecida são mais visíveis. Os produtos importados ficam mais caros, limitam o poder de compra das famílias e, em última análise, penalizam a procura e a economia no seu conjunto.
O preço do petróleo é paradigmático. O barril de Brent atingiu níveis muito altos este ano, mas a palavra "recorde" não é bem correta. Em 122 dólares em junho, o Brent manteve-se longe do recorde de 145 dólares de julho de 2008. Mas em euros…
Se o custo da energia atinge níveis nunca vistos é porque, em 2008, graças ao euro forte, o barril de Brent custava, de facto, 91 euros. No pico de 2012, estava a negociar à volta de 96 euros. Em junho de 2022, atingiu 117 euros. Um nível sem precedentes e 22% acima do máximo anterior. Dado que os preços da energia são, até à data, a principal causa da inflação é difícil ignorar o papel que o euro desempenha no atual problema.
Impacto nos preços dos ativos
Em termos comparativos, o euro fraco torna os ativos europeus mais baratos face ao preço dos ativos estrangeiros. Portanto, se se esperasse uma valorização da moeda única, os investidores teriam todo o interesse em trocar os ativos estrangeiros que detém em carteira para reforçar as posições na zona euro.
Infelizmente, esta estratégia não é adequada por várias razões. Em primeiro lugar, a fraqueza do euro é duradoura. A deterioração da balança comercial, devido aos elevados preços da energia, continuará. O saldo com os EUA deixará de ser excedentário, à medida que a Europa fica dependente do gás e petróleo americanos.
Ao mesmo tempo, como parte da transição energética, a Europa está a empurrar indústrias mais poluentes para outros países, mas cujos produtos irá posteriormente importar.
Quanto à situação económica, irá deteriorar-se ainda mais no próximo inverno, uma vez que tudo aponta para uma preocupante escassez de energia.
Por último, em importantes setores, como as novas tecnologias e nos meios para a transição energética, a zona euro está agora atrás dos Estados Unidos e da China.
Tal como evidenciam as nossas carteiras, dê prioridade aos investimentos fora da zona euro e a mercados mais competitivos. Uma recomendação que apenas mudará com o euro num nível muito baixo.
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