Um país federal de 1,4 mil milhões de pessoas com 28 estados e 8 territórios autónomos, a Índia não brilha pela eficiência. Uma realidade evidenciada pela gestão da pandemia. Com base num estudo que anunciava que 60% da população já tinha anticorpos, o governo central assumiu, no início de fevereiro, que a imunidade coletiva estava atingida. A vacinação já nem sequer era uma prioridade.
Um dos principais produtores do mundo, a Índia exportou a maioria das vacinas que produziu. Pior ainda, dezenas de milhões de hindus reuniram-se para se purificarem no Ganges, como fazem de três em três anos. As consequências foram dramáticas. Com 400 mil novos casos de infeção e vários milhares de mortes por dia, a Índia tornou-se o epicentro global da covid. O sistema de saúde está sobrecarregado e a escassez de bens como o oxigénio, levou mais de 40 países a enviarem ajuda médica de emergência.
Sem soluções
As autoridades permanecem indecisas com o ressurgimento da pandemia. Embora sejam impostas restrições a nível local, o governo central não declara um confinamento nacional. Esta solução é pouco consensual. De facto, conteve a primeira vaga no ano passado, mas também possibilitou propagação do vírus.
Para evitar o confinamento, os trabalhadores migrantes saíram dos centros urbanos e regressaram às suas aldeias onde, pelo menos, podiam subsistir mas transportaram o vírus. E o encerramento da economia faz com que milhões de indianos fiquem sem recursos, mesmo para garantir o seu sustento diário!
Entre a crise da saúde e a social, o Governo de Narendra Modi não quer decidir. A escolha fica para as autoridades locais e prefere concentrar-se na vacinação. Mas o atraso será difícil de recuperar. Mesmo suspendendo temporariamente as exportações de vacinas para alimentar o mercado interno, as autoridades não esperam atingir a marca de 300 milhões de vacinados (pouco mais de 20% da população) antes de agosto.
Sem munições
No exercício de 2020-2021 (terminou em 31 de março), o PIB caiu cerca de 8%. A pobreza disparou porque 90% dos trabalhadores não beneficiam de proteção social suficiente. E a forte recuperação esperada para este ano tornou-se mais incerta com o disparo da pandemia nas últimas semanas.
Vários Estados e centros urbanos introduziram confinamentos que paralisam a economia. Além disso, as autoridades têm agora menos meios para apoiar a atividade. A nível orçamental, com uma dívida pública que subiu para 90% do PIB, não há margem de manobra. Sobretudo porque a dívida soberana está apenas um patamar acima da categoria especulativa (lixo) e os custos com os juros já pesam fortemente no orçamento do Estado.
A nível monetário, a taxa diretora está num mínimo histórico de 4% e com a inflação a subir, o banco central não pode fazer novos cortes dos juros.
Crescimento hipotecado
A Índia sairá enfraquecida desta crise. Nos últimos anos, a despesa pública contribuiu com 30% do crescimento do PIB, mas está agora condicionada pelo disparo da dívida. Até seria benéfico que o Governo passasse a focar-se nas reformas para impulsionar o crescimento. Mas a Índia é difícil de reformar devido à sua dimensão, à estrutura federal e à complexa rede política.
Os agentes económicos também se mobilizam massivamente, e muitas vezes com êxito, para bloquear reformas que ameacem os seus interesses. O capital humano também será permanentemente afetado pela crise.
A população indiana é jovem e metade tem menos de 28 anos. Com a pobreza a aumentar em consequência da crise, há uma geração que não terá a oportunidade de adquirir qualificações mínimas. Estes indianos estão condenados a empregos precários na economia informal com baixa produtividade, o que limita o potencial de crescimento da Índia e obriga o Governo a manter um dispendioso programa de distribuição de alimentos para os mais pobres.
O nosso conselho
As projeções económicas pouco favoráveis e as fracas perspetivas da rupia indiana, que se deverá continuar a depreciar, ano após ano, limitam severamente o rendimento esperado da altamente volátil bolsa de Bombaim. Não invista.
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