Cisco Systems, Exxon, Telecom Italia, Tesla
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
A Tesla é considerada como uma empresa tecnológica e não como construtora automóvel nos mercados
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
A Tesla é considerada como uma empresa tecnológica e não como construtora automóvel nos mercados
Cisco Systems
Manter
No primeiro trimestre de 2025/26 (fecho anual a 31/07), a Cisco Systems voltou a superar as expectativas. O volume de negócios aumentou 8% e o lucro por ação cresceu 10% em base comparável. O desempenho revelou-se sólido nos equipamentos de rede (52% do volume de negócios).
As vendas nesta atividade aumentaram 15%, assinalando o quinto trimestre consecutivo de crescimento a dois dígitos, e regressando a um ciclo favorável após vários anos difíceis. A expansão da Cisco Systems no software, negócio mais rentável, sustenta uma margem operacional confortável de 34,4% (34,1% há um ano).
A Cisco Systems reviu ainda em alta os objetivos para 2025/26. O crescimento esperado do volume de negócios é agora de 7% (antes 5%) e aumento do lucro por ação previsto é de 8% (antes 6%). Estimamos um lucro por ação de 2,95 dólares em 2025/26 e de 3,5 dólares em 2026/27.
A cotação da Cisco Systems regressou ao máximo de março de 2000 e negoceia a 26 vezes o lucro esperado para 2025/26. Este nível supera claramente a média dos últimos dez exercícios (20), mas o prémio justifica-se por perspetivas de crescimento dos lucros mais elevadas, impulsionadas pela procura na IA, a qual exige a modernização dos centros de dados existentes e construção de novos.
Exxon
Manter
A Exxon atualizou o plano até 2030 e reviu em alta os objetivos de crescimento dos lucros em 25 mil milhões de dólares e do fluxo de caixa em 35 mil milhões entre 2024 e 2030. Cada revisão representa um aumento de 5 mil milhões face ao plano anterior.
Os lucros deverão crescer, em média, 13% por ano até 2030, com um aumento por ação superior, apoiado pela compra de ações próprias, sem aumentar o investimento previsto (28 a 32 mil milhões de dólares ao ano em 2027-30).
A progressão dos resultados resulta dos investimentos recentes nas capacidades de produção na Guiana (América do Sul), na bacia do Pérmico (Texas e Novo México) e no GNL. A Exxon reviu igualmente em alta o objetivo de produção diária para 2030, de 5,4 milhões para 5,5 milhões.
A Guiana, a bacia do Pérmico e o GNL representarão 67% da produção total. A Exxon destaca ainda a capacidade de otimizar a extração, nomeadamente com recurso à IA.
Em termos de custos, a petrolífera reviu em alta as poupanças em 2 mil milhões para 20 mil milhões até 2030. A Exxon mantém uma dinâmica elevada, apesar dos desafios imediatos do setor como a queda dos preços do crude e as dificuldades na química.
A Exxon reviu em alta os objetivos de lucros e de fluxo de caixa até 2030. O anúncio não acrescenta novidades às perspetivas sólidas da petrolífera e a cotação reagiu pouco
Telecom Italia
Manter
2025 aproxima-se do fim com duas notícias importantes para a Telecom Italia. A primeira é o encerramento de um contencioso que envolve a Telecom Italia há décadas, relativo a um recurso contra o Estado. O Supremo Tribunal de decidiu a favor da empresa que irá assim recuperar a taxa de concessão paga em 1998.
Após inúmeros recursos torna-se definitiva a restituição de um montante próximo de 1 bilião de euros (0,05 euros por ação). A segunda notícia está, de certa forma, ligada à primeira, pois diz respeito a uma das hipóteses sobre a utilização deste montante.
Além da possibilidade de acelerar os investimentos ou aumentar a remuneração dos acionistas, volta a ganhar relevância um tema “histórico”, a conversão das “ações de poupança” em ações ordinárias.
A Telecom Italia é uma das poucas empresas italianas que ainda detém este tipo de títulos, hoje considerados “obsoletos” por serem onerosos para as empresas.
Com o reforço dos recursos financeiros, um Conselho de Administração extraordinário da Telecom Italia aprovou uma proposta de conversão ao par, acrescentando um acerto em numerário para refletir os dividendos não distribuídos e acumulados nos últimos anos.
A operação terá de ser aprovada pelas assembleias de acionistas ordinários e de poupança, agendadas para o final de janeiro, mas, desta vez, a operação poderá avançar. Não alteramos o conselho.
Tesla
Vender
2025 deverá marcar o segundo ano consecutivo de queda das vendas, com cerca de 1,67 milhões de unidades, menos 7% face a 2024. A margem operacional deverá recuar para 6%, face a 7,2% em 2024 e 9,2% em 2023, penalizada por cortes de preços, custos mais elevados e menor apoio fiscal.
Neste enquadramento, o desempenho da cotação reflete a aposta na transformação para software, serviços e IA e não o desempenho da atividade automóvel. Contudo, apesar do progresso, a condução autónoma e os robotáxis permanecem pouco relevantes no total das receitas.
O software Full Self Driving, vendido por licença ou subscrição, gerou poucas centenas de milhões de dólares no terceiro trimestre, face a mais de 28 mil milhões de dólares de receitas totais.
O programa piloto de robotáxis em Austin assenta numa frota reduzida e numa área limitada, com receitas experimentais e muito distantes dos cenários para 2030.
Os investidores já integram na cotação os lucros futuros dependentes de fatores ainda incertos como a maturidade tecnológica, enquadramento regulatório, concorrência e a confiança do público. De facto, o mercado aposta no robotáxi “Cybercab” e numa maior monetização do software de condução autónoma atribuindo-lhes projeções muito ambiciosas.
O entusiasmo em torno da IA e da robótica reposiciona a Tesla, no imaginário dos investidores, como plataforma tecnológica e não apenas como construtor automóvel.
Os múltiplos bolsistas evidenciam o desfasamento entre a realidade e as promessas de longo prazo. Com a cotação próxima de 490 dólares, a Tesla negoceia a mais de 200 vezes os lucros estimados para 2026.
Esta valorização não deixa margem de erro: atrasos na condução autónoma, regras mais restritivas ou maior concorrência podem provocar uma correção acentuada.
O mercado avalia a Tesla como tecnológica e não como construtor automóvel. A valorização integra um sucesso rápido e massivo dos robotáxis, IA e dos serviços de software, enquanto a atividade automóvel permanece sob pressão. A relação rentabilidade/risco da Tesla está desequilibrada.