Setor da Defesa: ainda vale a pena investir em 2025?

O setor da defesa mantém um potencial de crescimento sustentado.
O setor da defesa mantém um potencial de crescimento sustentado.
Depois da forte valorização, ainda vale a pena investir no setor da defesa? Sim. Apesar da impressionante subida de mais de 40% em 2025, o setor da defesa mantém potencial de crescimento sustentado, impulsionado pelo aumento dos orçamentos militares, novas encomendas e fusões entre empresas europeias.
Investidores com perfil equilibrado ou dinâmico podem beneficiar desta tendência através de ações, fundos especializados ou ETF dedicados à indústria da defesa.
Nos primeiros 9 meses do ano, o setor da defesa acumulou uma subida impressionante de 41,6% (em euros). Se alargarmos o horizonte temporal, o ganho médio anual dos últimos 5 anos foi de 24 por cento.
A título de comparação, o mercado bolsista mundial valorizou, nestes mesmos períodos, 2,6 e 10,4%, respetivamente, pelo que não há qualquer dúvida de que o desempenho das empresas da indústria militar tem sido muito bom e bem acima da média.
Depois deste desempenho tão fulgurante, uma pergunta pertinente que se coloca é se este é o momento oportuno para vender e realizar lucros, ainda que apenas uma fração da carteira?
A resposta é clara: não. Só deve vender parcialmente os fundos ou as ações que detém do setor da defesa se o seu peso na carteira se tiver tornado demasiado elevado (mais de 5% por cento). Caso contrário, não esqueça o setor de forma alguma. O potencial continua elevado, mesmo com as valorizações atuais, que já têm em conta as expectativas dos investidores.
Este bom momento está obviamente ligado ao aumento considerável dos orçamentos nacionais para a defesa. Durante a recente cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) em Haia, foi decidido que os países europeus membros deveriam dedicar 5% do seu produto interno bruto (PIB) à defesa comum.
Esses 5% são distribuídos da seguinte forma: 3,5% destinados ao armamento e 1,5% às infraestruturas. No final de 2024, a média europeia era de apenas 1,9%, ou seja, 326 mil milhões de euros.
A partir de agora, a União deve respeitar esse compromisso, o que nem sempre aconteceu no passado. Para os países com finanças públicas apertadas, isso implica um aumento dos impostos ou uma redução das despesas, o que não é fácil.
Ainda assim, 32 países comprometeram-se a fazer um esforço para reforçar as forças militares, capacidades, recursos e infraestruturas.
As ameaças externas (Rússia), a pressão exercida pelos Estados Unidos (por Donald Trump, para sermos mais precisos) e a vontade dos países de serem mais autónomos (ou seja, menos dependentes dos Estados Unidos) contribuíram para o compromisso de se gastar 5% do PIB.
De forma a não sobrecarregar os orçamentos nacionais, foi criado um fundo especializado – Security Action for Europe (SAFE) –, para financiar projetos de defesa.
As mudanças estruturais anunciadas e as encomendas (em grupo) já realizadas à indústria europeia de defesa revelam que existe um compromisso a longo prazo que vai além dos problemas geopolíticos atuais, como a guerra na Ucrânia. Ou seja, as despesas com a defesa continuarão a aumentar, mesmo que os conflitos atuais diminuam.
As carteiras de encomendas bem recheadas e o número recorde de vagas abertas no setor da defesa comprovam que o compromisso é sério. As empresas estão a investir maciçamente para poderem aumentar e, sobretudo, acelerar os seus ritmos de produção no futuro. O aumento do volume de negócios e das previsões das empresas confirma esta tendência.
Além disso, as fusões entre os intervenientes europeus poderão conduzir a economias de escala, o que permitirá às empresas do setor “armarem-se” melhor face à concorrência americana.
Os ETF e fundos especializados oferecem diversificação dentro do setor. A nossa recomendação de compra recai sobre o WisdomTree Europe Defence UCITS ETF (ISIN: IE0002Y8CX98), criado há escassos meses (março de 2025).
Este fundo tem a particularidade de se concentrar em empresas europeias do setor da defesa, como a Rheinmetall, a BAE Systems e a Leonardo. É aí que reside, em nossa opinião, o maior potencial de crescimento. A maior parte dos orçamentos europeus de defesa irá para empresas europeias.
Estes fundos excluem certas ações com base em critérios de sustentabilidade, nomeadamente os fabricantes de minas antipessoal (Convenção de Otava), munições de fragmentação (Tratado de Oslo) e armas biológicas e químicas (Protocolo de Genebra). Nos últimos seis meses, valorizou quase 39%, bem acima do benchmark do setor (28,45 por cento).
Os ETF VanEck Defense UCITS ETF, criado em janeiro de 2023, e Future of Defence UCITS ETF, de julho de 2023, também investem num cabaz de ações globais do setor da defesa, como a Palantir Technologies e a RTX. A exposição aos Estados Unidos é superior a 50% por cento. O conselho da DECO PROteste Investe para ambos é de manter.
Recomendamos a compra de três ações do setor de defesa: BAE Systems, Lockheed Martin e Thales. A nossa favorita é a BAE Systems. Esta gigante britânica tem publicado bons resultados, tem uma carteira de encomendas bem abastecida e mantém-se à altura das expectativas dos investidores, que são altas.
A BAE Systems é também a empresa mais diversificada das três, tanto pela sua gama de produtos como pela sua presença internacional.
A BAE Systems é líder no Reino Unido, um dos 10 principais fornecedores das forças armadas dos EUA. Tem relações de longo prazo no Médio Oriente e desfruta de uma forte presença na Europa. A sua boa diversidade geográfica é um dos pontos fortes do grupo britânico.
A empresa reviu em alta os objetivos para 2025 e a administração mostra-se confiante graças aos recentes contratos e investimentos em capacidade de produção (munições, mísseis, submarinos).
A empresa garantiu um contrato importante (11,5 mil milhões de euros) com a Noruega, que vai adquirir novas fragatas para modernizar a sua frota naval.
Na aviação, a Turquia está prestes a adquirir caças Typhoon desenvolvidos pela BAE Systems em conjunto com a Leonardo e a Airbus. Em junho, foi assinado um contrato com os Estados Unidos para satélites e sistemas de rastreio de mísseis.
A Lockheed Martin é a empresa de defesa líder nos Estados Unidos. O grupo atua nas áreas da aeronáutica (aeronaves F-35), radares, helicópteros, satélites, foguetes, mísseis e cibersegurança. Apesar de estar menos exposto à Europa, o grupo mantém-se bem posicionado para beneficiar do crescimento do setor da defesa.
A carteira de encomendas está bem recheada e deverá continuar a impulsionar as receitas e a produção do grupo, que continua a crescer. Em setembro, fechou um contrato de 9,8 mil milhões para produzir interceptores PAC-3 MSE, que serão usados pelo Exército dos EUA e alguns aliados. E também outro contrato de 12,5 mil milhões de dólares para produção de 148 aviões F-35.
A procura de armamento mantém-se elevada e a Thales, uma das maiores empresas europeias do setor da defesa, já conseguiu vários contratos relevantes. É o caso da encomenda da Dinamarca, no valor de 8 mil milhões de euros, de oito sistemas de defesa aérea desenvolvidos na Europa, e da venda de 26 aviões Rafale à Índia, por mais de mil milhões de euros. Para responder ao aumento da procura, a empresa francesa elevou a produção, nomeadamente na Bélgica (rockets) e na Irlanda (mísseis).
O grupo está ainda a desenvolver, em parceria com a britânica Autonomous Devices, um drone para guerra eletrónica, capaz de neutralizar radares, investindo também em drones submarinos. Negoceia ainda com a italiana Leonardo, outra empresa do setor da defesa, e a Airbus a fusão das atividades espaciais, para reforçar a rentabilidade.
De forma a continuar a crescer, a Thales não descarta a possibilidade de fazer algumas aquisições. A solidez do seu balanço assim o permite.
Se tiver o perfil de risco adequado (equilibrado ou dinâmico), pode optar por fundos de investimento especializados ou por algumas ações individuais. Um ETF apresenta a vantagem de ser diversificado dentro do próprio setor. Também apresenta a desvantagem de o resultado ser uma média do portfólio e poder ter alguma ação menos interessante, ou seja, cara.
Por outro lado, optar por uma ação individual expõe-no ao risco próprio da empresa em questão, embora essa escolha aumente as hipóteses de obter um rendimento potencial mais elevado.