Impacto da instabilidade em França no setor financeiro
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers

A incerteza económica e política pode travar o crescimento económico francês
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
A incerteza económica e política pode travar o crescimento económico francês
Muito sensíveis ao risco político, as cotações do setor financeiro francês reagiram negativamente aos sobressaltos da política. Um recuo das cotações que também pode ser explicado por tomadas de mais-valias após a valorização desde o início do ano.
No entanto, a crise política que se avizinha em França deverá ter um impacto limitado no BNP Paribas, Société Générale e Axa, desde que permaneça contida no tempo e na dimensão.
No curto prazo, uma maior queda das cotações não pode ser excluída em função da evolução da situação em França. Os receios de tensões sobre as taxas de juro e de um abrandamento do crescimento podem penalizar mais o setor em bolsa.
Contudo, a descida das cotações não nos leva a alterar os conselhos numa ótica de médio/longo prazo. Perante a incerteza política, as três ações que acompanhamos são instituições financeiras sólidas.
- BNP Paribas
O banco francês está bem diversificado geograficamente. Manter.
- Société Générale
A atividade está diversificada em termos de negócios. Porém, após a valorização subida de 94% desde o início do ano, encaixe para das mais-valias. Manter, mas reduza a exposição.
- Axa
A seguradora mostra-se capaz de aumentar os seus prémios. Comprar.
A incerteza económica e política pode travar o crescimento económico e levar a um aumento dos incumprimentos de reembolso por parte das pequenas empresas já fragilizadas, obrigando os bancos a constituírem mais provisões.
O banco Société Générale apresenta um nível de custo do risco de 24 pontos base (sobre 100 mil milhões de euros de créditos, o banco provisiona 0,24% × 100 mil milhões = 240 milhões de euros para cobrir perdas potenciais). Esse custo é de 38 pontos base no caso do BNP Paribas.
Ou seja, os níveis continuam baixos, mas podem subir se os riscos de incumprimento se agravarem, o que penalizaria os resultados.
Famílias e empresas podem adiar os seus projetos. Nesse cenário, o Société Générale seria o mais afetado, com 40% do seu volume de negócios proveniente do mercado francês. Mais internacional, o BNP Paribas está ligado a França “apenas” em 25 a 30% do seu volume de negócios.
A atividade bancária na Axa é de dimensão muito reduzida.
Se o diferencial (spread) entre as taxas francesas e alemãs se alargar de forma duradoura, as instituições financeiras terão de pagar mais caro para se financiarem nos mercados, sem que os rendimentos dos créditos concedidos aumentem de imediato.
As margens líquidas de juro e, em última análise, os lucros ficariam então sob pressão. Porém, não é esse o cenário atual e o BCE pode intervir se um diferencial demasiado elevado ameaçar a estabilidade financeira da zona euro.
Os grupos financeiros possuem obrigações soberanas. A subida das taxas, consequência da perceção acrescida de risco, pode obrigá-los a reduzir o valor dessas obrigações e a registar perdas.
Porém esse risco é limitado. No BNP Paribas, apenas 11,5% das obrigações do Estado detidas são emitidas por França, num total de cerca de 15 mil milhões de euros. O Société Générale está mais exposto a França, com 30% (88 mil milhões de euros) do seu portefólio de obrigações soberanas.
A seguradora Axa detém um grande portefólio de obrigações soberanas (180 mil milhões de euros). Mas só 13% (23 mil milhões de euros) são do Estado francês.
Além disso, estes títulos são mantidos até ao reembolso (maturidade) e não terão de ser vendidos com perdas se as taxas de juro subirem.
Por isso, a dívida soberana poder ser, na sua grande parte, contabilizada pelo custo de aquisição e não pelo volátil valor de mercado.
Estas três instituições apresentam balanços sólidos e capazes de resistir a choques.
O produto bancário líquido do BNP Paribas e do Société Générale voltou a crescer nos seis primeiros meses de 2025, impulsionado pelos rendimentos de comissões das atividades de mercado e da banca de retalho, enquanto os custos permaneceram controlados.
Na Axa, as atividades de seguro beneficiaram da subida dos prémios e do desempenho favorável dos mercados seguradores.
Um cenário de chegada ao poder em Paris dos partidos franceses mais radicais desencadearia uma tempestade grave para os bancos e seguradoras.
Nesta eventualidade haveria uma maior perda de a confiança dos investidores:
- maior redução das perspetivas já fracas de crescimento da economia francesa;
- alargamento brusco do diferencial das taxas de juro face à Alemanha;
- alterando estruturalmente a economia.
Nesta fase é um cenário improvável, mas essa hipótese não poder ser totalmente descartada nas decisões de investimento e de avaliação do setor.