Tesla sob pressão
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
O ano passado e este ano marcam um ponto de viragem na Tesla
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
O ano passado e este ano marcam um ponto de viragem na Tesla
A Tesla ocupa um lugar singular, representando simultaneamente inovação tecnológica, disrupção industrial e volatilidade bolsista. Desde a entrada em bolsa, em 2010, a Tesla passou de start-up inovadora a líder mundial da mobilidade elétrica.
No entanto, 2024-2025 marcam um ponto de viragem: o crescimento dos volumes de veículos vendidos abrandou, a rentabilidade está sob pressão, a concorrência intensificou-se e a cotação sofre de uma volatilidade acrescida.
Em 2024, a Tesla entregou 1,79 milhões de veículos elétricos, a primeira queda anual das vendas em 10 anos. A quota de mercado global dos elétricos passou de 20%, em 2023, para 10% em 2024, enquanto a chinesa BYD se impõe como novo líder mundial.
A Tesla continua líder nos EUA, mas ocupa agora apenas o terceiro lugar na China (quota de 6%). Na Europa, a situação também se complica e quota de mercado caiu para 10% no início de 2025, ultrapassada pela VW, BMW e BYD.
A Tesla não lançou nenhum novo modelo relevante nos últimos anos e as atualizações não são suficientes para relançar a procura.
A Tesla aposta em vários eixos para relançar o crescimento:
- Novos modelos em 2025-2026 (Model 2, Model Q) entre 25 e 30 mil dólares. O seu sucesso crucial para recuperar quota de mercado.
- Robotáxis e condução autónoma: serviço de robotáxis (Cybercab) com a ambição de implementar uma frota mundial até 2026. A rentabilidade dependerá da maturidade tecnológica e da aceitação regulatória.
- O segmento energia (baterias, painéis solares) regista um crescimento rápido (+67% em 2024, 10 mil milhões de dólares de receitas), com margens brutas superiores às da atividade automóvel. A Tesla quer 100 GWh de capacidade de armazenamento anual.
- Investimento de 10 mil milhões de dólares por ano em I&D na IA (Dojo, Cortex) e robótica (Optimus).
Apesar ser uma empresa inovadora, o perfil de risco da Tesla aumentou consideravelmente e elevámos o indicador de risco para :
- Intensificação da concorrência de marcas chinesas (BYD, Nio, Xpeng, Geely…), construtores tradicionais (VW, GM, Ford, Hyundai-Kia…) e novos como a Xiaomi.
- Pressão sobre preços e margens. A guerra de preços na China e na Europa pesa na rentabilidade. A margem bruta da atividade automóvel passou de 29%, em 2021, para 18% em 2024.
- Muitos Governos reduziram os incentivos à compra de veículos elétricos. Nos EUA, os benefícios fiscais atribuídos aos veículos elétricos novos expirarão já a 30 de setembro.
- Tensões comerciais e a dependência de matérias-primas críticas provenientes da China podem afetar a cadeia de produção e ameaçar a competitividade da Tesla.
- Recusa em negociar com sindicatos, as acusações de más condições de trabalho e a personalidade polarizadora de Elon Musk prejudicam a imagem da Tesla.
A Tesla tem múltiplos de valorização elevadíssimos: rácio PER superior a 120, para 2026, EV/EBITDA em torno de 68 e um rácio cotação/capitais próprios de 12.
Estes níveis são muito superiores aos de todos os outros intervenientes, sejam construtores automóveis históricos, ou novos, ou até mesmo os gigantes tecnológicos como a Alphabet.
Este prémio seria explicado pela posição de liderança tecnológica da Tesla, perspetivas de crescimento, rentabilidade e capacidade de inovação. No entanto, os rácios assumem expectativas (muito) elevadas em matéria de rentabilidade e a evolução recente não é um bom augúrio.
A valorização atual da Tesla pressupõe uma fé inabalável na capacidade da empresa para relançar o crescimento dos volumes, monetizar a condução autónoma, a robótica e restaurar a imagem de marca fragilizada pelas controvérsias de Musk.
Além disso, a cotação da Tesla é demasiado volátil. A forte queda da cotação (cerca de 30% em 2025) está longe de ser uma oportunidade. Se tiver em carteira, venda. Caso contrário, fique afastado.