Ações recomendadas para investir no setor da Defesa

Os europeus deverão consagrar à defesa 5% do seu PIB até 2035
Os europeus deverão consagrar à defesa 5% do seu PIB até 2035
A vontade dos norte-americanos de se afastarem parcialmente da Europa e a guerra na Ucrânia estão a levar os Estados europeus a rearmarem-se de forma maciça para criarem um ecossistema de defesa mais soberano.
A Europa tem agora de cumprir os compromissos assumidos na recente cimeira da NATO, nomeadamente dedicar 5% do PIB (3,5% em armamento e 1,5% em infra-estruturas, cibersegurança, etc.) ao orçamento militar até 2035.
A tarefa não é fácil, tendo em conta o estado das finanças públicas de muitos países e a volatilidade das decisões políticas. Nos países cujas finanças estão sob pressão, aumentar as despesas militares significa subir os impostos ou reduzir outras despesas.
Os países têm agora de converter as suas dotações orçamentais em encomendas à indústria, idealmente à indústria europeia. A julgar pelos níveis recorde das carteiras de encomendas das empresas do setor, este movimento já começou. Mas é preciso fazer mais.
Segundo alguns players do setor, o crescimento das encomendas públicas está longe de ser rápido. A recente introdução de um novo instrumento financeiro europeu (SAFE), sob a forma de empréstimos aos Estados-Membros, tem por objetivo financiar os investimentos e ser um instrumento de aquisição e produção conjunta.
A bola está também do lado das empresas (as da linha da frente e as que são subcontratadas) que devem investir para aumentar a capacidade de produção (e, por conseguinte, o volume de negócios) e para reforçar a sua oferta com sistemas de defesa completos.
Os grupos europeus do setor, como a Thales, a Dassault, a Rheinmetall, a Saab e a Leonardo, já começaram a aumentar a capacidade. Porém, aguardam um empenho maior dos governos, os únicos clientes do setor, antes de se comprometerem com investimentos de longo prazo.
A racionalização da oferta poderá passar também por fusões no setor, que ainda está muito fragmentado na Europa. Politicamente oportunas, as fusões permitiriam alavancar o efeito dimensão e resistir melhor ao apetite dos concorrentes americanos, que veem o crescimento europeu como um novo mercado.
De facto, os gigantes americanos desenvolveram recentemente a sua presença na Europa através da cooperação industrial. A alemã Rheinmetall e a americana Lockheed Martin vão alargar a cooperação para aumentar a produção de mísseis e munições na Europa. A Lockheed está ainda à procura de um parceiro europeu para construir a próxima geração de helicópteros de ataque para a Europa.
A valorização em bolsa é alta, com o setor europeu a negociar a 28,5 vezes os lucros esperados (rácio PER), em comparação com 13,5 vezes do mercado europeu em geral.
Este prémio deve-se às boas perspetivas, à existência de barreiras à entrada e ao forte potencial de crescimento dos lucros. Alguns grupos, como os alemães Rheinmetall (PER: 47) e Renk (PER: 40), até negoceiam muito acima deste nível.
Como é que o setor pode continuar a valorizar? Com a concretização das promessas de encomendas, que validaria o cenário de um super ciclo europeu da defesa:
• Compromissos financeiros concretos (concursos públicos) dos governos com as empresas de defesa;
• Confirmação que as carteiras de encomendas estão a ser preenchidas por grupos europeus;
• Aumento das taxas de produção das empresas;
• Mais encomendas coletivas por parte dos governos.
Na Europa, continuamos a aconselhar a compra da Thales e da BAE Systems e, nos Estados Unidos, da Lockheed Martin. A cotação desta última está sob pressão há meses, na sequência dos receios sobre o potencial do avião F-35 no mercado norte-americano.
Se estas ações já tiverem um peso relativamente alto na sua carteira de investimento, limite a exposição.
O investimento na defesa não está isento de riscos. As avaliações das grandes empresas integram parte das expectativas de investimento dos países. Se os governos fizerem marcha atrás nos seus compromissos ou mostrarem relutância em assinar contratos significativos, o setor poderá sofrer um revés.
Além disso, um cessar-fogo duradouro na Ucrânia, que também é desejável, poderia fazer baixar as cotações das empresas do setor.