Perfil empresa: Danone
Publicado em: 15 maio 2025Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Desde a fusão entre a BSN e a Gervais-Danone, há mais de 50 anos, o grupo francês percorreu um longo caminho!
Mudando regularmente de rumo estratégico (de forma radical ou mais gradual, consoante os casos), a Danone tem tido dificuldades em encontrar um modelo de negócio capaz de gerar um crescimento lucrativo e sustentável.
A operação “Renew Danone”, lançada em 2022 por uma nova equipa de gestão, terá tranquilizado os investidores, que por vezes preferem os iogurtes à ação? Estará a preparar o terreno para uma nova reorganização?
Muito depois do primeiro iogurte Danone, criado em Espanha em 1919, a Danone França funde-se com a queijaria Gervais em 1967 e, mais tarde, com a vidreira BSN, em 1973. A BSN-Gervais Danone abandona progressivamente o setor do vidro e, com base nos lacticínios (iogurtes e queijos frescos), diversifica-se primeiro para as bebidas (águas e cervejas), depois para os biscoitos e outros produtos secos.
Há cerca de trinta anos, passou a chamar-se apenas Danone e o grupo recentrou-se (através de aquisições e alienações) em produtos com foco na saúde, chegando em 2024 à seguinte repartição:
Produtos lácteos frescos e de origem vegetal, com marcas como Danette, Activia, Oikos e Alpro (49,2 % do volume de negócios);
Nutrição especializada (infantil e médica), com marcas como Aptamil, Blédina, Nutricia e Fortimel (32,6 %);
Águas engarrafadas, com marcas como Evian, Volvic e Badoit (18,2 %).
A Danone é um grupo internacional: em 2024, 35 % da faturação vinha da Europa, 24 % da América do Norte, 13,5 % da Ásia (incluindo a China) e Oceânia, 11 % da América Latina e 16,5 % do resto do mundo (incluindo África).
O grupo tem procurado há muito tempo reduzir o peso dos produtos lácteos básicos no seu volume de negócios: pouco propensos à inovação, têm muitos concorrentes em preço, o que limita a sua rentabilidade, sobretudo na Europa.
Para contrariar isso, para além da presença nas águas premium, a Danone realizou aquisições em segmentos de maior valor acrescentado, como a holandesa Numico (nutrição especializada) em 2007, e a americana Whitewave Foods (biológicos e produtos vegetais) em 2017.
No entanto, integrações mais difíceis do que o esperado e preços de aquisição elevados, em ambos os casos, aliados a grandes crises económicas (a crise financeira de 2008 e depois a Covid em finais de 2019), travaram a progressão do grupo.
Se a quota dos lacticínios representava cerca de 50 % do volume de negócios em 2015, deverá ainda representar quase 40 % em 2025. O foco dado pela administração, especialmente desde 2015, à responsabilidade social e ambiental (ESG), acarretando custos adicionais, também não facilitou a rentabilidade operacional, que era apenas de 13,7 % em 2021 (contra 15,2 % em 2019).
Após críticas de acionistas ativistas à fraca performance financeira do grupo e da ação, deu-se uma mudança na gestão, no final de 2021.
Para responder à perda de competitividade, à inflação de custos (leite, embalagens, energia) e à queda dos volumes, em 2022 foi lançado o plano “Renew Danone”, que pretende reequilibrar as prioridades entre a missão de “saúde sustentável” (que se mantém) e a solidez dos resultados financeiros (crescimento e rentabilidade).
O portefólio de produtos é revisto constantemente, eliminando os menos promissores e procurando sinergias em I&D. Estabeleceram-se objetivos como um crescimento orgânico anual entre 3 % e 5 % (impulsionado primeiro pelos preços, depois pelos volumes) e uma melhoria moderada da rentabilidade operacional.
E, de facto, a nova administração, de perfil mais pragmático, obteve os primeiros resultados: em 2024, o volume de negócios cresceu 4,3 % organicamente, com um aumento claro da geração de liquidez, que chegou aos 3 mil milhões de euros (+14 %).
Isso permitiu manter a dívida líquida num nível controlado (1,8x EBITDA). No entanto, o lucro por ação, ainda travado por uma rentabilidade operacional de apenas 13 %, só aumentou 2,5 %.
No primeiro trimestre de 2025, o crescimento orgânico manteve-se nos 4,3 %, em linha com 2024, superando ligeiramente as expectativas. Mas esse valor oculta uma performance fraca na Europa (+2 %) e na América do Norte (+3,7 %).
No geral, a evolução recente da rentabilidade do capital (ROIC) e do dividendo não dissipa as dúvidas legítimas sobre a qualidade da gestão. Este “renascimento” é bastante tímido.
Há uma saída “pela positiva” para a Danone? Quais as opções a médio prazo?
As duas principais aquisições do século XXI — Numico e Whitewave Foods — moldaram o perfil atual do grupo. Mas também deixaram um sabor agridoce, devido às dificuldades de integração e aos preços de aquisição elevados.
A Danone está cautelosa, sobretudo ao ver que os concorrentes reagem rapidamente, mesmo em mercados com forte potencial, como o dos produtos de origem vegetal.
Além disso, a situação financeira, embora estável, não é ideal para uma grande aquisição suportada apenas por dívida, o que elevaria o rácio Dívida líquida/EBITDA acima do limite de 3x definido pelo grupo. Por isso, esse cenário não é impossível, mas pouco provável, na nossa opinião.
Há anos que os analistas duvidam da capacidade de um grupo de dimensão média alcançar a liderança em tantos segmentos. E com razão. Uma cisão em três entidades independentes permitiria maior agilidade e, provavelmente, uma melhor valorização em bolsa, beneficiando os acionistas.
Uma opção menos ambiciosa, como a venda dos produtos lácteos à Lactalis, também faria sentido. Contudo, o grupo parece discordar, insistindo, a nosso ver de forma exagerada, nas sinergias “saúde” do seu portefólio.
Este parece ser o cenário mais provável para os próximos anos, com aquisições e alienações pontuais — como a recente compra da americana Kate Farms (nutrição vegetal). Mas não será fácil mudar verdadeiramente de ritmo.
Para atingir uma rentabilidade operacional de 15 % com crescimento anual sustentado de 5 %, seria preciso acelerar nos produtos premium, que atualmente representam cerca de 60 % do volume de negócios. Mesmo sem crises económicas globais, esse sucesso continua incerto.
Há muito tempo que a Danone persegue um ideal: tornar-se o líder global da alimentação orientada para a saúde, mantendo um forte compromisso social e ambiental (ESG).
Produzindo maioritariamente localmente (o que limita os riscos de tarifas alfandegárias), o grupo investiu nos segmentos certos — produtos vegetais e nutrição especializada.
Mas essa ambição tem custos elevados: as poupanças são frequentemente reinvestidas, travando o crescimento do lucro e dos dividendos. O lucro por ação (corrente) de 2024 ficou 10,5 % abaixo do valor de 2019.
O plano “Renew Danone” carece de ambição e os seus objetivos pouco claros serão provavelmente postos de parte ao primeiro contratempo. Lamentamos também a falta de dinamismo no perímetro das atividades, salvo alguns ajustes marginais.
É verdade que uma grande aquisição precipitada poderia prejudicar os acionistas. Mas uma venda de atividade ou uma cisão do grupo não teria, em princípio, o mesmo efeito e continua fora da agenda. Por tudo isto, com previsões de lucro por ação para 2025 e 2026 de 3,4 euros e 3,7 euros, respetivamente, consideramos a cotação da ação algo inflacionada. Mantemos a nossa recomendação: Vender.