Airbus vs. Boeing: quem vence?
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers

As companhias aéreas também não escaparam à guerra das tarifas
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
As companhias aéreas também não escaparam à guerra das tarifas
Boeing
Vender
A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China faz uma nova vítima, a Boeing. Em resposta ao aumento das tarifas americanas, a China ordenou às suas companhias aéreas que suspendessem a receção de aviões da Boeing.
Segundo a imprensa, Pequim também pediu às companhias aéreas chinesas que parassem a compra de equipamentos e peças de reposição para aviões junto de empresas americanas.
É um novo golpe para a Boeing, já confrontada com o aumento das tarifas sobre os equipamentos que importa, pois o sucesso do setor nos últimos anos assentou, entre outras coisas, na globalização das cadeias de produção.
Embora a Boeing produza os seus aviões nos Estados Unidos, importa peças da Europa, como trens de aterragem, sistemas de travagem e, sobretudo, numerosas peças para os seus motores (Rolls-Royce, Safran, etc.). Como as tarifas são pagos pelo comprador, as companhias aéreas Delta e Ryanair já anunciaram que prefeririam adiar a receção dos aviões encomendados do que pagar estas taxas.
Com 69% das vendas de aviões civis realizado fora dos Estados Unidos, a Boeing tem todo o interesse numa conjuntura económica mundial mais tranquila. Neste contexto, as relações com os clientes chineses são vitais.
No relatório anual publicado no início de 2025, a Boeing afirma que a China é um cliente-chave (segundo maior mercado de aviação civil do mundo depois dos EUA) e um importante comprador. Segundo a Boeing, a China precisará de 7690 novos aviões nos próximos 20 anos.
Em 2018, último ano "normal", cerca de 25% das entregas da Boeing foram destinadas à China. Uma deterioração das relações comerciais entre os dois países é um risco significativo para o crescimento, especialmente porque nos últimos anos tem feito esforços para recuperar o atraso em relação à Airbus.
O aumento dos custos de produção associado aos direitos aduaneiros pode não ser facilmente absorvido pela Boeing. A Boeing aponta a inflação dos custos como um importante fator de risco para rentabilidade. O grupo tem tido prejuízos desde 2019 e deverá manter-se no vermelho em 2025.
A rentabilidade e a qualidade dos resultados deterioraram-se nos últimos anos. A dívida tornou-se um problema, ao ponto de a Boeing ter estado à beira da falência no final de 2024, apesar da grande carteira de encomendas (o seu maior trunfo). A ação é mais arriscada do que a média.
Na conjuntura atual, marcada pela elevada incerteza, não é oportuno aumentar o risco no portefólio com este tipo de ações com visibilidade limitada. Mantenha-se afastado da Boeing. Se detiver ações, venda.
Airbus
Manter
Neste contexto, a Airbus tem uma carta a jogar. A Airbus possui uma fábrica de produção nos EUA, onde são montados cerca de 80 aviões por ano. Uma implantação que permite evitar as taxas de importação sobre certos modelos.
Já muito presente na China, a Airbus pode aproveitar a rivalidade entre a China e os Estados Unidos para reforçar a sua posição, especialmente se a Europa e a China se aproximarem comercialmente.
No entanto, o desenvolvimento de uma produção chinesa com o construtor Comac, visando a longo prazo a autonomia do setor na China, não pode ser ignorado. Para já, o construtor europeu manteve as suas previsões para 2025, mas estas não têm em conta o impacto das tarifas.
Se estes direitos aduaneiros se concretizarem, e apesar dos seus trunfos, a Airbus será obrigada a reduzir os objetivos para 2025 ou mesmo 2026.
A Airbus apoia-se em bases financeiras e comerciais sólidas, sustentadas por um rico portefólio de encomendas que asseguram visibilidade a longo prazo. É verdade que subsistem alguns desafios, nomeadamente ao nível da cadeia de produção, bem como o desempenho pouco convincente da divisão Defesa e Espaço.
No entanto, estas dificuldades permanecem controláveis e não comprometem as perspetivas de crescimento a longo prazo. A Airbus dispõe de numerosos trunfos, como a posição dominante no mercado e uma marca reconhecida mundialmente.
Estes elementos permitem manter uma trajetória de crescimento sustentado. Após o recuo, a ação negocia-se a 20 vezes os lucros de 2025 e 17,6 vezes os de 2026, níveis muito razoáveis.