Perfil da empresa Walt Disney
Publicado em: 25 outubro 2024Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Embora 2023 tenha sido marcado por alguns fracassos, tanto por parte da Pixar como dos últimos spin-offs do franchise dos super-heróis Marvel, o sucesso de Deadpool & Wolverine e de Inside Out 2 trouxe alento. Este último tornou-se o filme de animação mais rentável de todos os tempos, com receitas globais de 1,7 mil milhões de dólares.
Além disso, os lançamentos de Planeta dos Macacos e Alien tiveram um desempenho positivo. Até ao final de 2025, espera-se uma nova vaga de grandes produções, como Moana 2, Mufasa: O Rei Leão, Capitão América, Branca de Neve, Zootopia 2 e Avatar 3. O sucesso desses filmes reforça a atratividade da oferta de streaming da Walt Disney e possibilita a criação de novas atrações nos parques temáticos.
Nas últimas duas décadas, através de várias aquisições, a Walt Disney ampliou o seu portefólio: filmes da Pixar (2006), super-heróis da Marvel (2009), Star Wars com a compra da Lucasfilm (2012) e, finalmente, a 21st Century Fox (2019), que trouxe o Avatar, Planeta dos Macacos, Alien e National Geographic. Estes conteúdos, que incluem a transmissão de eventos desportivos (representando cerca de 20% da receita), são a verdadeira força da Disney.
No terceiro trimestre do exercício de 2023-2024, que encerrou a 30 de setembro, após acumular 8,3 mil milhões de dólares em perdas operacionais desde 2019, a Walt Disney alcançou finalmente a rentabilidade das atividades de streaming. Este marco foi alcançado cerca de três a seis meses antes do previsto inicialmente aquando do lançamento da Disney+ no final de 2019.
A Walt Disney atingiu agora uma base crítica de assinantes, o que proporciona um motor de crescimento capaz de substituir as suas atividades de televisão tradicional, que ainda são muito rentáveis (ABC, Disney Channel, entre outros, geram 24% do lucro operacional estimado no último exercício). Essas atividades ainda são muito lucrativas, mas desde a viragem da década têm enfrentado, nos Estados Unidos, o advento do Netflix, Prime Video, etc. Assim, acentuou-se a quebra no número de assinantes de pacotes de canais de TV por cabo, atingindo cerca de -5% ao ano.
No terceiro trimestre, a Walt Disney gerou 6,4 mil milhões de dólares de receitas com o streaming, tendo uma base de 230 milhões de assinantes nos seus serviços (Disney+, Hulu, Disney+ Hotstar na Índia e ESPN+). Registou um lucro operacional de 47 milhões de dólares, com uma margem de 0,7%. Comparativamente, a margem operacional da Netflix deve atingir 26% este ano com 280 milhões de assinantes, ilustrando o enorme potencial da Disney neste setor.
Mesmo que a margem do streaming da Disney se limite a cerca de 15%, já seria suficiente para igualar os lucros atuais das suas operações de televisão. Estimamos que a margem de 10% poderá ser alcançada nos próximos dois anos.
O vasto catálogo da Disney permite aumentar os preços sem grandes dificuldades (nos Estados Unidos, os preços duplicaram em 5 anos). Além disso, a Walt Disney iniciou recentemente a luta contra a “partilha de palavras-passe”, uma estratégia que provou ser um sucesso rápido na Netflix. Com a Hulu e ESPN+, também pode oferecer pacotes combinados, reforçando a lealdade dos seus assinantes.
Com o ressurgimento do consumo pós-pandemia, os parques e os cruzeiros da Walt Disney atingiram níveis de atividade recorde. Os 12 parques temáticos representam cerca de 29% da receita, enquanto os cruzeiros contribuem com apenas cerca de 3%.
Estas atividades e os respetivos lucros operacionais estão 30 a 40% acima dos níveis pré-pandemia. Para o exercício que terminou a 30 de setembro de 2024, espera-se que estas áreas representem mais de 50% do lucro operacional global (ou mais de 60%, considerando as receitas de produtos derivados).
No entanto, qualquer sinal de abrandamento preocupa os investidores. E, de facto, desde o terceiro trimestre, a atividade tem diminuído, especialmente nos Estados Unidos, onde a Walt Disney opera seis parques, na Califórnia e na Flórida. Esse abrandamento, observado também em empresas como a Comcast (parques Universal) e Airbnb, resulta de uma normalização após a febre de consumo pós-covid.
Este cenário não significa uma perda de interesse nos parques da Disney, mas um efeito conjuntural, relacionado com a confiança dos consumidores. A longo prazo, o potencial dos parques mantém-se intacto, especialmente com a intenção da empresa de investir de forma significativa neste segmento.
Para contrariar a queda do entusiasmo dos consumidores (enquanto os preços dos parques e cruzeiros da Walt Disney atingem máximos históricos), a empresa não está à espera de uma recuperação conjuntural. Pelo contrário, adotou uma postura contracíclica.
Há já um ano, a Walt Disney anunciou que, ao longo dos próximos 10 anos, irá investir 60 mil milhões de dólares nos parques e em navios de cruzeiro, quase o dobro da década anterior. Cerca de 70% desse orçamento será destinado ao desenvolvimento de novas atrações, incluindo Cars, Monstros e Companhia e O Rei Leão.
Para se expandir, já possui mais de 400 hectares de terreno em torno dos seus parques atuais. Quanto aos cruzeiros, que são altamente rentáveis, a Walt Disney planeia adicionar quatro novos navios aos cinco atualmente em operação, até ao final de 2025, com outros quatro previstos entre 2027 e 2031.
Desde 2019, a Walt Disney sacrificou milhares de milhões de lucros para expandir as atividades de streaming, que finalmente se tornaram rentáveis. Além disso, continua a reduzir custos, incluindo a diminuição dos orçamentos de produção para 25 mil milhões de dólares no exercício de 2023-2024, que abrange também os direitos desportivos, comparado com 27,2 e 29,9 mil milhões nos dois exercícios anteriores, focando-se mais na qualidade do que na quantidade.
A Walt Disney beneficia de um endividamento moderado, correspondente a 1,85 vezes o EBITDA, e a liquidez excedentária gerada deverá ter subido para cerca de 8 mil milhões de dólares no exercício encerrado a 30 de setembro, comparando com 4,9 mil milhões e 1,06 mil milhões nos dois exercícios anteriores. Com estes recursos financeiros significativos, a Walt Disney está bem posicionada para continuar a investir nos rentáveis parques.
Como sinal de confiança, a Walt Disney restabeleceu o pagamento de dividendos, após quatro anos de interrupção e anunciou a compra de ações próprias no valor de 3 mil milhões de dólares, representando 1,8% da sua capitalização bolsista.
Embora a cotação tenha subido cerca de 20% face aos mínimos de 2023, a Walt Disney ainda está subvalorizada. Nos últimos 10 anos, com exceção do período entre o final de 2020 e o final de 2021, quando o mercado estava fascinado pelo streaming e ocorreram as valorizações altíssimas de empresas como a Netflix, o valor da empresa variou entre 10 e 15 vezes o EBITDA.
Para o exercício que agora começa, a valorização situa-se em 11,1 vezes o EBITDA, um nível modesto. Dados todos estes trunfos da Walt Disney e, se a economia dos Estados Unidos mantiver a resiliência, os investidores poderão sentir-se mais confiantes quanto à recuperação da afluência aos parques, permitindo à cotação vir a alcançar os 115 dólares num cenário prudente, o que corresponde a uma valorização significativa (+19%) face à cotação atual. Recomendamos comprar.