Ações: investir na BMW?
Publicado em: 03 julho 2024Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Autor: Análise da equipa internacional de analistas da Euroconsumers
Fundada em 1917 para produzir motores de aeronaves, a BMW (sigla de Bayerische Motoren Werke) começou a montar carros na década de 1930. Hoje, é líder mundial em automóveis topo de gama, sendo reconhecida pela qualidade de construção e tecnologia.
Presente em mais de 140 países, vendeu 2,55 milhões de veículos em 2023 das suas três marcas: BMW (2,25 milhões, incluindo 376 mil totalmente elétricos), MINI (295 mil) e Rolls-Royce (6 mil) e mais de 209 mil motos. Depois de salvar a empresa da falência, em 1959, a família Quandt ainda é o principal acionista com 47% do capital. Geograficamente, a BMW realiza 37% das vendas na Europa, 32% na China e 16% nos EUA.
Embora a BMW tenha construído uma sólida reputação nos motores, está a ficar cada vez mais apelativa também nos elétricos. Alguns construtores tradicionais têm um negócio "elétrico" maior (a Volkswagen vendeu 771 mil em 2023), poucos igualam o mix de vendas da BMW.
Em 2023, os carros 100% elétricos representaram 14,7% das suas vendas, contra 8,3% da VW, 9,4% da Audi e 11,8% da Mercedes-Benz. O objetivo é atingir 50% das entregas totais até 2030. E se, em 2024, muitos concorrentes (incluindo a líder Tesla) enfrentam uma menor procura e tiveram de rever em baixa as suas ambições, a BMW entregou 83 mil elétricos no primeiro trimestre de 2024, isto é, +28% em termos homólogos.
A BMW tem sido criticada por ser lenta na descarbonização, mas a abordagem "suave" escolhida pelo fabricante funciona bem: gama elétrica esteticamente próxima da tradicional e modelos em todas as versões (diesel/gasolina, híbrida plug-in e elétrica).
Ao mesmo tempo, a BMW tem sido prudente na integração vertical. Muitos construtores estabeleceram parcerias estratégicas para fabricar baterias (componentes). Assim, a BMW vai contra a maré. Uma estratégia surpreendente, mas que tem a vantagem de evitar surpresas desagradáveis porque a tecnologia ainda está a evoluir e a rentabilidade da produção de baterias é incerta.
Apesar de os elétricos serem (muito) menos rentáveis do que os motores de combustão, a BMW mantém um bom desempenho financeiro. Com uma margem operacional média de 9,5% em 2021-2023, a divisão automóvel teve um desempenho pior do que a Mercedes (13,4%) e a Audi (10,5%), mas é razoável para um construtor topo de gama.
Nos últimos cinco anos, a sua divisão automóvel gerou um cahs flow de 30 mil milhões de euros, o que permite continuar a investir na eletrificação da gama. A partir de 2025, chegará a nova geração de modelos elétricos, denominada Neue Klasse, assente numa plataforma exclusivamente elétrica.
Em primeiro lugar, os preços dos automóveis aumentaram acentuadamente em relação aos níveis pré-pandemia. A BMW aproveitou o entusiasmo dos clientes pelos modelos mais caros/mais bem equipados para aumentar a margem operacional para 12% em 2023 (média histórica de 9%). No entanto, este efeito positivo desvanecer-se-á nos próximos anos. A procura está a normalizar-se (subida das taxas de juro/financiamento), a escassez de componentes foi absorvida e a BMW enfrenta um aumento dos custos fixos (pessoal, I&D). Dados os investimentos massivos para os veículos elétricos, esperamos que a margem operacional da divisão automóvel permaneça entre 8% e 10%.
Em segundo lugar, na China, a posição da BMW está a ser ameaçada pela rápida eletrificação do parque automóvel, principalmente pelas marcas locais. Em 2022, tornou-se acionista maioritária da sua joint venture chinesa (BBA). Esta opção permite explorar melhor o potencial do maior mercado automóvel do mundo, mas resta saber se será positiva a longo prazo, dadas as tensões geopolíticas entre a China e o Ocidente.
A BMW tem trunfos inegáveis: balanço sólido, alta rentabilidade e poder de precificação, estratégia credível no segmento elétrico sem colocar em causa o seu passado, e terá resiliência em caso de crise do mercado. No entanto, a cotação não está suficientemente apelativa para comprar. Em 6 vezes o lucro esperado para 2024, a ação não está com desconto face ao setor e é apenas ligeiramente inferior à sua média histórica (6,6).
Além disso, a ameaça de uma guerra comercial com a China não pode ser ignorada. No entanto, se a cotação descer abaixo dos 75 euros será uma oportunidade para reforçar nesta ação de qualidade. Nos níveis atuais, se já tem pode manter.