O grupo Aperam surgiu da cisão dos negócios do aço inoxidável e dos aços especiais da ArcelorMittal. A Aperam produz essencialmente aço inoxidável, uma liga de ferro, carbono e crómio resistente à corrosão e com múltiplas aplicações.
A produção de aço inoxidável gera cerca de 75% do EBITDA. O negócio de reciclagem de aço representa 13% e a sua rede de distribuição 8%. Os restantes provêm da atividade em ligas especiais (inclusão de níquel, cobalto, etc.) para criar aços de elevada resistência. O setor da construção é o principal cliente da Aperam (25% das vendas) seguido dos bens de equipamento (22%) e automóvel (21%).
Em termos geográficos, a Aperam gera 62% do volume de negócios na Europa (incluindo 18% na Alemanha) e 18% no Brasil (país em desenvolvimento e que mais consome aço inoxidável). Os restantes 20% provêm da presença na Ásia e nos EUA.
Boa resiliência
A execução do plano estratégico Leadership pretende dar maior solidez à Aperam. Este plano visou os custos variáveis (27%), fixos (30%) e de aprovisionamento (18%), bem como melhorar o mix de produtos (25%), ou seja, dar ênfase às atividades mais rentáveis. A Aperam alcançou uma poupança de 186 milhões de euros em 2021-2023 face a um objetivo de 150 milhões. A fase 5 decorre em 2024-2026 e centra-se na criação de maior valor acrescentado na produção (ligas e aços especiais). As poupanças e os ganhos estão estimados em 200 milhões de euros.
Um balanço mais sólido e uma melhor capacidade de gerar liquidez permitem que a Aperam possa crescer através de aquisições, mas com prudência. No final de 2021, concluiu a aquisição da ELG, especializada na reciclagem de sucata de aço. Uma operação que permitiu reforçar o perfil sustentável (produção de aço mais “verde”).
Riscos da descarbonização
Face ao quadro regulamentar europeu para a redução das emissões de carbono, o setor siderúrgico terá de fazer esforços colossais, embora possa contar com apoios comunitários.
E após choque nos preços da energia e das matérias-primas causado pela guerra na Ucrânia, o setor está ainda mais inclinado a descarbonizar a sua produção. Mas levará tempo… Uma aceleração do quadro legislativo com normas mais rigorosas poderá ser problemática para o setor.
Mercado siderúrgico
As siderurgias não têm conseguido aumentar os preços de venda porque os seus próprios clientes ainda enfrentam uma procura débil e pouca previsibilidade para o futuro. Os últimos anos têm sido muito desafiantes.
Mas, desde 2022, muitos clientes já começaram a recorrer aos seus stocks de aço inoxidável, pelo que a situação tenderá a normalizar com a reposição dos inventários. Se a situação económica europeia melhorar, com os cortes de taxas de juro, poderemos esperar que, a partir da segunda metade de 2024, haja um aumento mais acentuado da procura.
Últimos resultados
No último trimestre de 2023, o EBITDA atingiu 55 milhões de euros (19 milhões no terceiro trimestre e 230 milhões no primeiro trimestre). Um resultado fraco, mas um pouco acima das nossas expectativas. Ao longo do ano, o EBITDA caiu 73%. A Europa continua a ser o ponto fraco. A Aperam está a ser penalizada pela crise no setor imobiliário (menos procura de aço) e menor consumo das famílias. Ao invés, a atividade no Brasil permanece dinâmica.
Para o trimestre em curso, o setor da construção continua problemático e o grupo não espera uma recuperação da procura e dos preços, pelo que o EBITDA deve ficar em linha com o do quarto trimestre de 2023.
Conselho
Os desafios persistirão ao longo de 2024, mas antecipamos o início de um aumento dos preços de venda a partir do segundo semestre e uma melhoria mais clara em 2025, se o BCE baixar as taxas para reanimar a economia europeia. Esperamos que o lucro por ação, em 2024, diminua para 2,50 euros (2,81 euros em 2023).
A cotação está em níveis atrativos e é uma oportunidade de compra a longo prazo desde que aceite o maior risco pois a Aperam ainda possui um cariz cíclico. Aconselhamos a compra.