Um ecossistema poderoso
Conhecido pelo seu sistema operativo Windows e pelo Office, que equipa a grande maioria dos computadores vendidos em todo o mundo, o grupo fundado por Bill Gates é hoje muito mais do que isso. Tornou-se, com a sua plataforma Azure, o número dois mundial no segmento de rápido crescimento da “nuvem pública”, atrás da Amazon (AWS) e à frente do Google Cloud. Esta atividade consiste em disponibilizar aos particulares e às empresas recursos e serviços informáticos acessíveis online (armazenamento de dados, capacidades de cálculo, etc.).
A atividade “Cloud Intelligent” já gerou 41% do volume de negócios (VN) do grupo no exercício 2022/23 (fecho anual a 30 de junho). Já as suas “Soluções de Produtividade” que reúnem o Office, o Teams e o LinkedIn, geraram um terço das receitas e a “Computação Pessoal” (Windows, Bing, Surface, acessórios para PC, videojogos, Xbox, etc.) os restantes 26%. Na verdade, é um verdadeiro ecossistema de soluções de Tecnologias de Informação (TI) que o grupo oferece a uma grande base de clientes fiéis. A integração de ferramentas de IA enriquecerá ainda mais a sua oferta nos próximos anos e será um novo motor de crescimento que oferece novas perspetivas à gigante de Redmond.
Mudança para a nuvem
Ao assumir o cargo no início de 2014, o atual diretor executivo do grupo, Satya Nadella, fez da Microsoft, então em declínio, uma das líderes mundiais na nuvem pública. Em constante progressão, a quota de mercado da Microsoft nesta área, de rápido crescimento e muito lucrativa, é agora de 25%, em comparação com os 14% de há 5 anos, aproximando-se dos 31% da Amazon.
O grupo conseguiu superar as expectativas e modificar profundamente o seu modelo de negócio. A partir de agora, o seu software e as suas soluções informáticas já não são armazenados nos computadores pessoais dos clientes, mas sim em servidores informáticos geridos pela Microsoft e comercializados principalmente através de um sistema de subscrição. O modelo de subscrição oferece recorrência e previsibilidade às receitas, uma característica muito valorizada pelos investidores.
Outras vantagens para a Microsoft são a fidelização dos clientes, a adaptação mais rápida e eficiente das suas soluções e um melhor conhecimento dos clientes. O desenvolvimento da nuvem acelerou com a pandemia Covid 19, que motivou a disseminação do trabalho remoto e acelerou a mudança. Esta atividade representa hoje 41% do VN do grupo face aos 29% de há 5 anos e a sua ascensão resultou em resultados recorde nos últimos anos.
Resultados recorde
Durante 10 anos e com a chegada de Satya Nadella, o VN cresceu em média 11% ao ano e o lucro por ação aumentou 14%. A margem operacional passou de 34% em 2012/13 para um nível recorde de 42% em 2022/23, a mais alta entre as 50 maiores empresas não financeiras americanas. A utilização do Azure como infraestrutura subjacente para outras soluções da Microsoft ajudou a reduzir custos, a agilizar as operações e a aumentar os lucros.
No primeiro trimestre de 2023/24, o VN aumentou 13% e o lucro por ação 27%, impulsionado pela atividade “Cloud Intelligent”, estabelecendo novos recordes. E no atual trimestre e ano fiscal, caminhamos para novos recordes.
Situação financeira invejável
A situação financeira do grupo é muito sólida, sendo a única empresa do índice S&P 500, juntamente com a Johnson & Johnson, a ter a classificação máxima de risco de crédito (AAA) por parte da Standard & Poor’s. O grupo tinha em caixa cerca de 111 mil milhões de dólares no final de Junho e, por isso, regista vários milhões de lucros financeiros em cada trimestre.
A sua margem líquida foi de 34% em 2022/23, em comparação com 11% de média para as ações americanas. Num setor tecnológico em constante evolução, a Microsoft gere de forma inteligente o seu fluxo de caixa e é cautelosa na política de remuneração aos acionistas. Apesar do aumento de 10% do seu último dividendo, o rendimento bruto do dividendo é de apenas 0,8% face à cotação atual, juntando-se ainda compras de ações próprias na ordem dos 20 mil milhões de dólares (MD) por ano, um valor que não é elevado para um grupo avaliado em quase 3000 mil MD.
Por isso, a Microsoft possui o poder financeiro necessário para enriquecer constantemente o seu ecossistema, nomeadamente através de aquisições. Em outubro passado, finalizou a aquisição da gigante de videojogos Activision Blizzard por cerca de 69 mil MD, o que lhe oferece uma nova dimensão no negócio dos videojogos. Além disso, injetou até agora 13 mil MD na OpenAi e no seu ChatGPT, tornando-se pioneira na IA. A confortável situação financeira do grupo é um trunfo essencial face aos elevados investimentos que serão necessários nos próximos anos para manter “afastada” a concorrência nesta área de elevado potencial de crescimento.
IA: motor de crescimento
Embora o grupo já trabalhe em IA há muito tempo, foi o retumbante lançamento do robô conversacional ChatGPT, a 30 de novembro de 2022, que realmente destacou o progresso feito pela IA. A aplicação ChatGPT conquistou 1 milhão de utilizadores em 5 dias e mais de 100 milhões em menos de 2 meses. As possibilidades oferecidas pela Inteligência Artificial (IA) parecem enormes e estamos apenas no começo. Segundo o Statista, o volume de negócios do mercado de IA poderá atingir 1847 mil MD, em 2030, contra 142 mil MD em 2022.
Graças ao acordo de exclusividade com a OpenAI e aos seus 49% de participação no capital, a Microsoft atua como precursora, em termos de IA. Mas os seus concorrentes, que são essencialmente os outros gigantes do setor tecnológico, porque são os únicos capazes de desenvolver ferramentas equivalentes, estão a afiar as armas e não será fácil mantê-los afastados. A Google desenvolveu o Bard, a Amazon investiu na Anthropic enquanto a Meta, a Apple e Elon Musk também trabalham no assunto. Face ao acordo celebrado com a OpenAi, a Microsoft beneficia de acesso privilegiado à IA da OpenAI e os modelos e ferramentas do grupo funcionarão na nuvem Azure, tornando os clientes da OpenAI clientes indiretos da Microsoft.
Este ano, a Microsoft integrou a IA no seu motor de busca Bing e, desde o início de novembro, no seu pacote de software Microsoft 365, através do assistente Copilot. O pacote Microsoft 365 Copilot será capaz de escrever e-mails, relatar discussões no Teams, analisar folhas de cálculo, escrever o primeiro rascunho de um relatório, etc. A Microsoft cobra pelo seu serviço Copilot 30 dólares por mês e por utilizador. Esta ferramenta promete receitas adicionais significativas para o grupo, quando sabemos que existem atualmente cerca de 400 milhões de contas pagantes do Microsoft 365 em todo o mundo.
De acordo com o Morgan Stanley, em 2025, a IA poderá aumentar o VN da Microsoft em 40 mil milhões de dólares, estimando-se que possa atingir os 245 mil MD.
Conselho
Após a clara subida de mais de 54,6% da cotação desde o início do ano, as ações estão atualmente a negociar a 33 vezes o lucro por ação esperado para 2023/24, em linha com a média das ações de tecnologia americanas. Ainda assim, dada a dinâmica favorável que rodeia a Microsoft (IA) e a qualidade dos seus fundamentais, a ação merece este prémio em bolsa. O ecossistema desenvolvido pelo grupo é poderoso, a sua base de clientes é ampla e fiel, a sua rentabilidade é elevada e a sua situação financeira é sólida. Além disso, a Microsoft tem uma vantagem sobre a concorrência na IA, uma área com forte potencial de crescimento e que irá impulsionar os lucros nos próximos anos.
Prevemos lucros por ação de 11,1 dólares em 2023/24, 12,5 em 2024/25 e 14 em 2025/26. Definimos o nível de risco deste título em 2, que é um valor bastante baixo para uma ação tecnológica. Aconselhamos a compra desta ação de qualidade, que é uma das nossas preferidas. Porém, se após a forte subida da cotação ela representar uma parte muito grande da sua carteira, ajuste o seu peso no portfólio.