Comprar ações da EDP: é um bom investimento?

Depois da aposta inicial na energia eólica onshore, o grupo está a expandir a sua atividade para outras tecnologias, como a energia eólica offshore.
Depois da aposta inicial na energia eólica onshore, o grupo está a expandir a sua atividade para outras tecnologias, como a energia eólica offshore.
A EDP é uma das maiores elétricas da Península Ibérica e líder em Portugal. O grupo tem ainda uma presença relevante no Brasil e nos EUA.
Nos países da Ásia-Pacífico também deverá ganhar um peso crescente no grupo, após a aquisição, em 2022, de um dos maiores operadores de energia solar do sudeste asiático, a Sunseap, sediada em Singapura.
Ainda assim, a Penísula Ibérica, onde os negócios do grupo estão mais consolidados, pesou mais de metade do EBITDA no primeiro semestre, seguida do Brasil, com 20%.
Neste mercado, a EDP acaba de adquirir a totalidade do capital da EDP Brasil, retirando esta subsidiária de bolsa, para simplificar a sua estrutura empresarial e ganhar flexibilidade na gestão dos negócios do grupo no país.
Atualmente a atividade da EDP está dividida em dois grandes segmentos:
Há vários anos que a grande aposta da EDP são as energias renováveis (eólica, solar e hídrica) que já representam 80% da sua capacidade instalada total (28,5 GW mais 5 GW em construção).
A EDP Renováveis, cotada em bolsa e detida a 71,3% pela EDP, é a empresa do grupo dedicada às renováveis.
Depois da aposta inicial na energia eólica onshore, o grupo está a expandir a sua atividade para outras tecnologias, nomeadamente:
Por outro lado, além do modelo tradicional de produção centralizada, onde a eletricidade é produzida em grandes centrais e transportada para os locais de consumo, a EDP reforçou o investimento na geração distribuída, que deverá crescer significativamente nos próximos anos.
Este é um modelo de produção descentralizada, que utiliza pequenos geradores próximos dos centros de consumo ou, até mesmo, no local exato onde a energia será consumida (sistemas mais comuns são os fotovoltaicos).
Em simultâneo, a EDP tem vendido ou desativado as suas centrais térmicas a carvão, tendo alienado mais uma no Brasil (Pecém) em setembro. O grupo apenas detém mais 3 centrais a carvão, em Espanha, e mantém a meta de se tornar livre do carvão até ao final de 2025 e 100% verde em 2030.
A EDP procura aproveitar o processo irreversível da transição energética e beneficiar dos incentivos às energias renováveis existentes nos EUA (Inflation Reduction Act), na Europa (REPowerEU) e na Ásia (APAC Net Zero Path).
Assim, o plano estratégico 2023-2026 dá um novo impulso à sua atividade, acelerando o ritmo de crescimento nas energias renováveis, ao pretender adicionar 18 GW de nova capacidade renovável até 2026 (4,5 GW por ano). A meta é atingir 33 GW de capacidade instalada em 2026 e 50 GW em 2030 (22,6 no final de junho). O investimento também vai acelerar para 6,2 mil milhões de euros (ME) ao ano, 30% acima do plano anterior, para um total de 25 mil ME. 85% será canalizado para a área das renováveis e 15% para as redes de eletricidade.
A EDP espera registar um crescimento médio anual de 6% do EBITDA e de 12-14% do lucro no período 2022-26, para atingir os 5,7 mil ME de EBITDA e 1,4-1,5 mil ME de lucro em 2026.
Quanto à política de remuneração acionista, o objetivo é que o dividendo bruto atinja um valor mínimo de 0,20 euros em 2026, face aos 0,19 euros atuais, o que apesar de não ser um crescimento significativo representa um rendimento a rondar os 5%.
Outro pilar estratégico importante é a manutenção da política de rotação de ativos, com a qual a EDP prevê encaixar 7 mil ME até 2026. A estratégia de rotação de ativos é uma forma de financiar parte do crescimento e controlar a dívida, num setor que exige grande investimento de capital. Além disso, permite criar valor, já que, como é nas fases iniciais dos projetos que se acrescenta mais valor, ao vender parte ou até a totalidade de alguns parques em operação, o grupo pode reinvestir em novos projetos mais rentáveis.
Outro vetor importante da estratégia da EDP é a celebração de contratos de venda de energia a longo prazo, o que permite ao grupo diminuir o risco associado às flutuações de mercado do preço da eletricidade e ter fluxos de caixa mais estáveis e previsíveis. A título de exemplo, nos EUA, a EDP tem 89% da capacidade instalada protegida com contratos de longo prazo.
A necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é um dos maiores desafios do século XXI e a aposta em energias “verdes” é uma estratégia crucial e cada vez mais global para atingir a meta da neutralidade carbónica em 2050. Para isso, as adições de nova capacidade de produção, a partir de fontes renováveis, terão de aumentar muito, o que assegura ao segmento das renováveis boas perspetivas de crescimento a longo prazo. Além disso, ele tornar-se-á cada vez mais competitivo, já que os avanços tecnológicos permitirão baixar os custos de produção a partir de fontes renováveis.
Ainda assim, a curto prazo, poderão existir alguns contratempos. Por um lado, a tendência de crescimento pode sofrer reveses pontuais, como o que está a acontecer atualmente devido à guerra na Ucrânia, com o adiamento do fecho de centrais nucleares e a carvão em alguns países. Por outro, a necessidade de combater a inflação provocou um forte aumento das taxas de juro, o que cria dificuldades às empresas do setor para financiarem os projetos de forma competitiva. Esta é a maior razão para a correção recente da EDP e do setor das renováveis em bolsa.
Muito penalizados pela seca extrema em 2022 e pelas distorções causadas pelo forte aumento do preço da eletricidade, os resultados da EDP vão voltar à “normalidade” a partir deste ano. Assim, prevemos uma melhoria dos lucros por ação para 0,26 euros em 2023 e 0,30 euros em 2024 (contra 0,17 euros em 2021 e 2022).
Por outro lado, dada a recente correção sofrida pela cotação, o título negoceia agora a níveis mais atrativos, com rácios Preço/Lucro de 13 e Preço/Valor Contabilístico de 1,4 para 2024, ligeiramente acima dos do setor elétrico, o que é plenamente justificado pelo forte posicionamento do grupo nas energias renováveis.
No plano financeiro, a estratégia de aceleração do crescimento implicou um aumento da dívida, mas a maior parte desta (74%) é de taxa fixa, o que atenua o impacto da subida das taxas de juro, e o objetivo é manter o atual rating da dívida em “BBB”, que significa “boa qualidade”.
A EDP combina um perfil de risco relativamente baixo, devido a uma estratégia de contratos de venda de energia a longo prazo e na rotação de ativos para financiar novos projetos, com um bom potencial de crescimento nas renováveis. Elas são a grande aposta do grupo e assumem um papel cada vez mais hegemónico no conjunto dos seus ativos e nos resultados, com o novo plano estratégico a dar um impulso ainda maior a esta estratégia.
Num setor de capital intensivo, a conjuntura atual não é a mais favorável, já que as taxas de juro deverão permanecer elevadas por mais tempo do que o previsto, mas a recente correção do título criou uma boa oportunidade para o adquirir a preços mais baixos.
A longo prazo, as perspetivas do setor são favoráveis e a EDP está bem implantada para beneficiar da dinâmica positiva do setor.
Além disso, a EDP beneficia também de uma estratégia de crescimento agressiva mas equilibrada e de uma, cada vez maior diversificação geográfica e tecnológica. Compre.